Adesão cai, e greve aumenta embate entre Tarcísio e sindicato dos metroviários

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A greve de metroviários, ferroviários, professores e servidores da Fundação Casa e da Sabesp (Companhia de Saneamento de São Paulo) nesta terça-feira (28) provocou uma escalada retórica do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do movimento sindical, mesmo que tenha perdido adesão e gerado uma sensação de transtorno menor do que foi observado em paralisações anteriores.

Linhas de trem e metrô operaram parcialmente durante a manhã, com a implantação de planos de contingência das companhias e uma adesão menor entre os metroviários. Pelo menos 88% dos funcionários do Metrô aderiram à paralisação, de acordo com a companhia. Segundo Tarcísio, 70% do efetivo da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) compareceu ao trabalhou e, na Sabesp, o efetivo é de 80%.

É um contraste com a mobilização do dia 3 de outubro, quando houve adesão total dos funcionários do Metrô e as linhas públicas (1-azul, 2-verde, 3-vermelha e 15-prata) passaram o dia todo fechadas. Na CPTM, três das cinco linhas públicas funcionam parcialmente desde o início da manhã desta terça, também uma paralisação menor do que na greve anterior, quando o fechamento chegou a ser total durante algumas horas em linhas como a 11-coral e a 7-rubi.

O governo estadual afirma que todos os sistemas de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto operavam regularmente na rede da Sabesp -a paralisação tende a afetar mais o atendimento a emergências.

Sobre os impactos da greve na rede de ensino, a Secretaria de Educação do Estado respondeu que “quatro escolas, em um universo de 5.300, não funcionaram” nesta terça, e que 621 professores aderiram às manifestações e paralisaram as atividades. “O ponto facultativo não se aplica à Secretaria de Educação em virtude da preparação do Provão Paulista Seriado e da manutenção do calendário escolar”, acrescentou a pasta, em nota.

Apesar da menor adesão, Tarcísio subiu o tom contra os grevistas. Falou em anotação individual das faltas durante a greve “com vistas a aplicação de penalidade” e disse que a mobilização não impedirá o governo de seguir com o plano de privatizações. Em nota, o governo afirma que a checagem nominal foi realizada pela manhã, sob protesto dos funcionários públicos.

“Não adianta fazer greve contra privatização. Vamos continuar tocando, vamos continuar desestatizando”, disse o governador. Afirmou também que a gestão estadual não pode tolerar desrespeito e indisciplina.

Camila Lisboa, presidente do sindicato dos metroviários -categoria que se tornou a principal antagonista do governo estadual nesta greve-, afirmou que a punição individual por faltas é inconstitucional. O sindicato disse que deve acionar órgãos como o Ministério Público do Trabalho e a OIT (Organização Internacional do Trabalho).

“Isso se chama assédio moral coletivo”, disse Lisboa. “Ele está falando isso porque está se mostrando um autoritário, mas não é assim que a vida funciona.”

O prefeito Ricardo Nunes (MDB), por sua vez, embarcou na repercussão da greve e declarou que a paralisação tem como objetivo prejudicar a imagem de sua gestão e do governador Tarcísio. Ele também disse que o movimento age sob influência do deputado federal Guilherme Boulos e do partido dele, o PSOL -Lisboa é filiada à sigla. Boulos e o PSOL não comentaram.

Ainda que a adesão à greve tenha diminuído, a paralisação descumpre decisões da Justiça do Trabalho que exigiam contingentes maiores de funcionários nos horários de pico. No caso do Metrô, a exigência era que 80% dos servidores se apresentassem ao trabalho, e na CPTM, ao menos 85%. A determinação foi cumprida apenas no caso da Sabesp (80%).

Na greve do dia 3, funcionários do Metrô e da CPTM também descumpriram decisões judiciais, argumentando que elas impediam o direito de greve. Naquela ocasião, porém, a exigência era de que todos os funcionários trabalhassem nos horários de maior movimento.

Um dos motivos que fez magistrados do tribunal mudarem o entendimento do caso, passando a exigir contingentes menores que 100% nos horários de pico, foi um julgamento em segunda instância sobre a paralisação dos servidores da Sabesp no dia 3 de outubro. Um colegiado de desembargadores decidiu, por maioria, que a mobilização não era abusiva nem desrespeitava a Constituição.

De qualquer forma, na ocasião os metroviários foram multados em R$ 2 milhões por descumprir a ordem, e o governo estadual pediu o pagamento de outros R$ 7,1 milhões por prejuízos causados pela paralisação. Eles recorrem das duas multas.

Em meio à greve, passageiros divergem sobre a paralisação de funcionários do transporte e sua principal pauta, a oposição aos planos de privatização do governo de São Paulo. Uns dizem ser legítimo reclamar, outros não veem propósito no movimento.

A greve não afeta as linhas privatizadas do metrô (4-amarela e 5-lilás) e de trens (8-diamante e 9-esmeralda). As linhas 1-azul, 2.verde e 3-vermelha operam parcialmente, e a linha 15-prata está fechada. Na CPTM a operação também é parcial na tarde desta terça.

PROTESTO NA ALESP

Servidores do governo paulista se reúnem na tarde desta terça em frente à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), em protesto contra a privatização da Sabesp. O ato é puxado, principalmente, por professores da rede estadual e conta também com metroviários.

“O governador Tarcísio uniu os trabalhadores do estado contra o projeto que ele tem de entregar São Paulo ao setor privado e precarizar os serviços. Nós vamos lutar juntos para defender o estado”, disse Altino dos Prazeres, metroviário demitido em outubro após a paralisação da categoria.

Já os professores aproveitaram para protestar contra uma série de medidas do governo, entre elas a PEC que retira recursos da Educação para transferir para a Saúde. Eles também reclamam da precariedade da estrutura das escolas e da falta de professores na rede estadual.

LUCAS LACERDA, ISABELLA MENON, CARLOS PETROCILO, TULIO KRUSE, BRUNO LUCCA E ISABELA PALHARES / Folhapress

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