BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O nome mais esperado do novo governo de Javier Milei foi, finalmente, confirmado: Luis Caputo será ministro da Economia da Argentina, substituindo seu rival peronista Sergio Massa. O novo titular da pasta tem fortes relações com o ex-presidente Mauricio Macri, do qual já foi ministro das Finanças e presidente do Banco Central.
“O ministro da Economia [a partir de 10 de dezembro] é Luis Caputo”, disse o ultraliberal em entrevista à rádio argentina Continental após voltar nesta quarta (29) de sua primeira viagem como presidente eleito, aos Estados Unidos, na qual foi acompanhado por Caputo. Sua equipe, porém, ainda não formalizou o anúncio.
O novo superministro terá que resolver a terceira grande crise vivida pela Argentina em 40 anos, com um déficit insistente, uma alta dívida externa, uma moeda sem credibilidade e uma falta de dólares nos cofres públicos que fazem a inflação explodir a mais de 140% ao ano.
Ele, portanto, será o principal responsável pelos drásticos cortes de gastos e pela dolarização que promete Milei, ainda sem detalhamentos. Nesta quarta, o presidente eleito repetiu sua previsão de que a inflação demorará de 18 a 24 meses para baixar, e disse que até lá haverá uma “estanflação”, uma combinação de alta inflação com estagnação econômica.
Na última sexta (24), ele reiterou através de nota que “o fechamento do Banco Central é inegociável”, mas tem baixado o tom sobre o plano de dolarizar.
Caputo também ficará encarregado de refinanciar a dívida de US$ 44 bilhões do país (R$ 220 bilhões em valores atuais) com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Ele se reuniu com o órgão nesta terça (28) em Washington e discutiu “os planos para reforçar urgentemente a estabilidade e estabelecer as bases de um crescimento mais sustentável”, segundo uma fonte do fundo.
Caputo foi justamente um dos responsáveis pela negociação do acordo em 2018, enquanto era ministro das Finanças de Macri. Naquela época, enfrentou o staff do órgão internacional para que o Banco Central da Argentina pudesse intervir no mercado cambial, segundo o jornal Clarín, prática recorrente e forte até hoje no país.
O economista entrou no início do governo Macri, em 2015, como secretário de Finanças, quando participou do anúncio do fim do limite para compra de dólares que existia no país há anos -depois retomado na mesma gestão. Em 2017, o ministério da Fazenda foi dividido em dois, e ele ganhou o status de ministro.
No ano seguinte, foi designado como presidente do Banco Central por cerca de três meses em meio a uma corrida cambial e à renúncia de seu predecessor, Federico Sturzenegger. Antes dos cargos públicos, estudou economia na UBA (Universidade de Buenos Aires) e trabalhou por anos como chefe de operações de trading nos bancos JP Morgan e Deutsche Bank.
Apelidado de Toto, o novo ministro também é primo de Nicolás Caputo, amigo de infância de Macri, e tio de Santiago Caputo, um dos assessores atualmente mais próximos de Milei, mencionado em seu discurso de vitória como “o verdadeiro arquiteto” de seu triunfo.
O embarque de Caputo no novo governo gerou críticas dentro e fora de sua aliança política, no sentido de que agora será o grupo de Macri, que perdeu nas urnas, quem comandará a área mais importante do país. Depois das eleições, Milei tem feito um malabarismo para conciliar os libertários e a centro-direita em seus gabinetes e garantir governabilidade.
Uma série de idas e vindas se deram após a vitória. Segundo jornais locais, o economista Emilio Ocampo, anunciado em setembro como o homem que assumiria e fecharia o Banco Central, teria desistido do cargo após a aproximação de Caputo, o que até agora não foi confirmado oficialmente. Ocampo é um dos autores do livro “Dolarização”, no qual Milei dizia basear seu plano de acabar com os pesos.
Entre os nomes confirmados na área econômica também estão o empresário Guillermo Ferraro como ministro de Infraestrutura, o consultor Eduardo Cirillo como secretário de Energia, o engenheiro Horacio Marín como diretor da petroleira estatal YPF, e o economista Osvaldo Giordano como titular da Anses, importante agência que controla as aposentadorias e benefícios sociais na Argentina.
JÚLIA BARBON / Folhapress