SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As mensalidades escolares devem sofrer um reajuste médio de 9,4% em 2024, segundo estimativas do setor. O valor acima do projetado para a inflação é ainda um reflexo das perdas econômicas que as escolas particulares acumularam durante o período da pandemia, quando tiveram que oferecer descontos às famílias e viveram alta da inadimplência.
A estimativa foi feita pelo Grupo Rabbit, consultoria especializada em educação, em consulta com 800 colégios de educação básica. Levantamento feito pela Folha de S.Paulo com escolas da capital paulista também detectou aumento entre 8% e 12%.
É o segundo ano consecutivo que o setor privado define um aumento acima da inflação, depois de terem contido o reajuste das mensalidades durante a pandemia com receio de perderem mais alunos. No ano passado, o reajuste médio para 2023 foi de 10,9%.
O IBGE divulgou na terça-feira (28) que a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou 4,61% de alta nos últimos 12 meses.
Christian Rocha, diretor do Grupo Rabbit, diz que o reajuste calculado pelas escolas ainda busca equilibrar a saúde financeira das unidades após a pandemia. Segundo o levantamento da consultoria, 70% dos colégios possuem dívidas –a maioria delas pelo não pagamento de tributos ao governo.
“Mesmo com o reajuste acima da inflação, muitas escolas ainda calculam que o valor não será suficiente para pagar as dívidas que acumularam durante a pandemia. Elas tiveram muitas perdas nos dois primeiros anos de isolamento, quando tiveram que conceder muitos descontos e ainda assim sofreram com a inadimplência”, diz.
O levantamento também identificou que a maioria das escolas não planejou grandes investimentos em tecnologia e novos recursos educacionais para o próximo ano, exatamente para evitar um reajuste maior.
“O custo que elas estão priorizando nesse momento é com a manutenção do prédio escolar e dos recursos pedagógicos, o que inclui também a parte tecnológica. Junto com a folha de pagamento dos professores, a manutenção é um dos custos mais altos de uma escola, porque o desgaste ao longo do ano é muito grande.”
Rocha também destaca que o avanço de grandes grupos educacionais na educação básica também prejudicou escolas menores e com administração familiar. Durante a pandemia, muitos grupos particulares aproveitaram o endividamento dos colégios para adquiri-los.
“Com um aporte financeiro grande, esses grupos conseguiram fortalecer um segmento de escolas low cost, ou seja, com mensalidades de cerca de R$ 1.200. As escolas menores estão tendo dificuldade de concorrer com esses valores e perderam muitos alunos.”
Pela lei, as escolas só podem reajustar as mensalidades uma vez ao ano. O percentual deve ser informado às famílias com um prazo mínimo de 45 dias antes da data final para a matrícula.
O Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo) ressalta que as escolas têm padrões e necessidades diferentes, por isso, os percentuais de reajuste podem variar entre as unidades. A entidade, no entanto, avalia que o aumento no estado deve ficar em torno de 9%.
O Sieeesp tem atualmente cerca de 11 mil escolas associadas em todo o estado. Segundo o presidente do sindicato, o gasto com salários de professores e funcionários representa de 60% a 70% do custo de operação das empresas do ramo.
Redação / Folhapress