Aislan Pankararu pinta telas a partir de células do corpo e grafismos indígenas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Imagens de células vistas pelo microscópio não precisam necessariamente ficar restritas a laboratórios. Ao unir os universos da medicina e da arte, Aislan Pankararu cria pinturas com formas abstratas que remetem a elementos orgânicos, como tecidos do corpo humano “aumentados não sei quantos milhões de vezes”, segundo ele.

Nas telas do artista de 33 anos, as formas pintadas sobre linho ou sobre couro de cabra são explosivas e estranhamente familiares, como que saídas dos livros de ciência. Mas não só.

Fiel às suas raízes indígenas, Aislan adiciona em seu caleidoscópio visual formas geométricas retiradas das pinturas corporais do povo originário Pankararu, de Pernambuco, e também referências à caatinga, bioma onde cresceu e do qual, vivendo em São Paulo, diz ter saudades.

Agora, uma seleção de obras suas dos últimos anos está em exposição na galeria Galatea, em São Paulo, na mostra “Mitocôndria Ancestral”, em cartaz até 16 de dezembro, sendo que a maioria delas foi feita sob encomenda da galeria. O artista também tem um trabalho em exibição na mostra “Histórias Indígenas”, no Masp, o Museu de Arte de São Paulo.

O que o público vê na galeria é o resultado da retomada, há alguns anos, da arte na vida de Aislan. Ele conta ter voltado a pintar perto de concluir a graduação em Medicina na Universidade de Brasília, quando tinha por volta de 27 anos. Foi um movimento natural, sem pressão e com os materiais que tinha disponíveis na república onde morava —papel craft e tinta guache.

Este processo fez o artista reviver o encantamento pelos desenhos a tinta e com lápis de cor que fazia quando criança na escola de ensino fundamental em Petrolândia, no interior de Pernambuco, onde nasceu e foi criado. Com a vida constantemente atrelada ao trabalho e aos estudos, Pankararu diz não ter tido oportunidade para se dedicar à arte até depois de adulto.

Autodidata, ele participou da residência artística Kaaysá, em São Sebastião, no interior de São Paulo, e em outra no People’s Palace Projects, em Londres, um centro de pesquisa em arte sediado na Universidade Queen Mary, que trata de justiça social. Ele afirma também pesquisar e se aprofundar no trabalho de outros artistas para melhorar sua formação.

Na galeria, o público também vê uma série de delicados bordados em “voile” pendurados num varal que vai de uma parede à outra. Ao se movimentarem com o ar, os tecidos deixam entrever representações de raízes e plantas. O artista não gosta muito de explicar estes trabalhos.

“Os bordados ficam num mundo superior que nem todo mundo acesso, um lugar que eu não necessariamente tenha que revelar o que é.”

AISLAN PANKARARU – MITOCÔNDRIA ANCESTRAL

Quando Segunda à quinta, das 10h às 19h; sexta, das 10h às 18h; sábado, das 11h às 15h

Onde Galeria Galatea – r. Oscar Freire, 379, loja 1, São Paulo

Preço Grátis

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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