SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Saem os cosplay de Star Trek e entram os chapéus de soldadinho de chumbo das paquitas. Nesta quinta-feira (30), a apresentadora Xuxa, 60, abriu a programação oficial da CCXP 2023, em São Paulo, recebendo uma homenagem pela sua contribuição para a construção e consolidação da cultura pop brasileira.
Habituada a grandes estrelas internacionais, a plateia não estava abarrotada como a da maioria dos lugares que a apresentadora costuma frequentar. Os gritos também foram menos histéricos que numa reunião exclusiva de fãs dela, mas não se pode dizer que Xuxa foi recebida com frieza.
Até porque a “Rainha dos fucking Baixinhos” (como foi apresentada) estava solta como poucas vezes se viu. Sem filtros, repassou momentos-chave de sua vida e carreira no palco (como o pedido de casamento de Michael Jackson, que ela disse ser “meio menino e meio menininha”), aceitou reviver brincadeiras clássicas do antigo Xou da Xuxa e se desculpou por traumas que pode ter gerado nas crianças dos anos 1980 e 1990.
Vestindo um paletó com as costas recortadas e usando o microfone com carinha e pelinhos com que apresentava o programa que durou de 1986 a 1992, ela disse se sentir importante por receber a homenagem que já foi feita em anos anteriores a Fernanda Montenegro, Renato Aragão e Fernando Meirelles, entre outros. Ela também disse que não tem problemas em lidar com o título pelo qual ficou cravada no imaginário popular brasileiro. “Não quero abrir mão do título de Rainha dos Baixinhos, quero ser lembrada sempre assim”, afirmou.
Fazendo um aceno à nostalgia dos presentes, ela começou o refrão “vamos com você” para a plateia completar. Também puxou o coro do “Abecedário da Xuxa” inteirinho e se emocionou com uma apresentação de “novas paquitas”, entre as quais havia negras, plus size e uma jovem cadeirante.
Depois, topou que alguns dos presentes subissem ao palco para uma Dança das Cadeiras, brincadeira que estava sempre presente em suas atrações. Após a decepção do público com a vitória do “time dos meninos”, uma gafe.
“Tu não tá representando os meninos não, né?”, perguntou ao vencedor, que ela acreditava fazer parte da comunidade LGBTQIA+. Com os risos da plateia, ela emendou: “Desculpa, era só uma perguntinha, só uma perguntinha…”
A brincadeira também foi gancho para que ela relembrasse alguns dos memes que viralizaram com sua imagem na internet, incluindo o bordão “senta lá, Cláudia”. “Eu não tinha filtro, eu era muito louca”, admitiu, lembrando da vez que disse que uma menina mais gordinha que perdeu uma brincadeira havia “comido batata frita demais” e de quando pisou de propósito um menino que estava com botinha ortopédica.
Ela fez um mea-culpa: “Peço desculpas às crianças que cresceram com esses traumas”. Mesmo com pessoas com deficiência, causa que ela defendeu com bastante afinco ao longo dos anos, ela admitiu que nem sempre teve a melhor postura. “Eu falei muito errado e fui aprendendo”, comentou.
Sem citar o nome de sua ex-diretora e empresária, Xuxa disse ter ficado surpresa com muitas coisas que descobriu na série documental sobre sua vida, que estreou neste ano no Globoplay. “Na realidade, eu tive a constatação de que eu era muito ingênua e em alguns momentos burra mesmo”, lamentou. “Sabe, de deixar a minha vida e a minha carreira na mão de alguém, né?”
“Até peço isso para todo mundo que esteja ouvindo, seja quem for, a gente realmente não pode largar a nossa felicidade, a nossa vida, na mão de alguém, seja de namorado, de um marido, do pai, da mãe”, prosseguiu. “Eu pensava assim: ‘Eu sou artista, artista não pode ficar querendo saber de números, de tudo’. E, aí, deixava na mão das pessoas. E não é assim.”
Entre as novidades da carreira, ela confirmou a turnê que pretende fazer em 2024 com músicas de seu repertório clássico. Segundo ela, será a despedida da Nave da Xuxa, que depois disso será aposentada e não irá mais voar. Também falou com animação do documentário sobre as paquitas e da série ficcional sobre sua vida, que também estão sendo produzidas pelo Globoplay e devem chegar também no ano que vem.
VITOR MORENO / Folhapress