Saiba quais são as acusações contra George Santos

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O republicano George Santos, filho de brasileiros, foi expulso da Câmara dos EUA em uma votação nesta sexta (1º), tornando-se o primeiro deputado a perder o mandato em 20 anos, e o sexto em toda a história americana.

O político chamou a atenção após vencer uma disputa acirrada em Nova York no ano passado como o primeiro republicano abertamente gay e não incumbente a ganhar uma eleição. Pouco depois, uma série de reportagens mostraram diversas inconsistências na história de vida contada por Santos.

Ele foi alvo ainda de uma investigação pelo Departamento de Justiça, que resultou em 23 acusações criminais, de fraude a roubo de identidade. O julgamento está marcado para setembro do ano que vem.

Um relatório produzido pelo Comitê de Ética da Câmara, por sua vez, encontrou evidências de que Santos desviou recursos de campanha para gastos pessoais, como compras de itens de luxo, aplicação de botox e acesso ao site de conteúdo erótico OnlyFans.

Santos nega irregularidades e diz ser alvo de perseguição política. Ele não retornou tentativas de contato feitas pela Folha de S.Paulo.

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Quem é George Santos? George Anthony Devolder Santos, 35, é um político de Nova York eleito pelo Partido Republicano para a Câmara dos Representantes dos EUA.

Apoiador ferrenho do ex-presidente Donald Trump, Santos teve a vida virada de cabeça para baixo após a eleição, quando o jornal The New York Times mostrou que ele mentiu sobre vários aspectos da vida para atrair eleitores de seu distrito —do currículo acadêmico e profissional às fontes de renda e origens familiares. Ele depois viria a ser investigado também por suas contas de campanha.

Qual a relação dele com o Brasil? Santos é filho de pais brasileiros e, até onde se sabe, nasceu no bairro do Queens, em Nova York. Ele fala português fluente, sem sotaque estrangeiro, e viveu alguns períodos no Brasil. Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), encontrou-se com o deputado federal brasileiro Eduardo Bolsonaro (PL-SP) antes de ser eleito, e, no mês passado, recebeu uma comitiva de congressistas brasileiros, liderada por Eduardo, em seu gabinete.

Como surgiram as primeiras suspeitas? Santos já era relativamente conhecido na região pela qual foi eleito desde que concorreu para deputado em 2020, sem sucesso, e contestou a derrota. Antes das midterms de 2022, um jornal local de Long Island, The North Shore Leader, escreveu que até queria apoiar um candidato republicano no distrito, mas ressaltou que “o indicado [Santos] é tão bizarro, sem princípios e rudimentar” que não poderia fazê-lo. O veículo endossou o democrata Robert Zimmerman, que perdeu.

O North Shore Leader chamou a atenção para o fato de que o postulante vivia em uma casa simples enquanto se gabava de riqueza e citou a estranheza que um político local relatou com a rápida evolução patrimonial dele nos dois anos entre um pleito e outro.

Em 19 de dezembro, reportagem do New York Times desvelou uma série de mentiras. O texto mostrou que Santos dizia ter experiência no mercado financeiro, mas as duas firmas de Wall Street que ele citava, Citigroup e Goldman Sachs, não tinham registro dele como funcionário. A universidade em que contou ter estudado, Baruch College, tampouco possuía histórico dele como aluno. A história de antepassados judeus fugidos do nazismo na Europa carecia de referências. O jornal ainda resgatou uma acusação na Justiça brasileira, por roubo de um talão de cheques em Niterói em 2008, entre outros casos.

Santos acusou o Times de perseguição política, mas a teia de histórias mal contadas foi se desenrolando. Ele mentiu sobre a mãe ser uma executiva que morreu por inalação de fumaça nos atentados às Torres Gêmeas em 11 de Setembro —ela na verdade morreu 15 anos depois do episódio e trabalhava como faxineira e cuidadora. E sobre quatro ex-funcionários terem sido mortos no ataque à boate gay Pulse, em 2016 —não há registro de que nenhuma das 49 vítimas tenha atuado em empresas citadas por ele.

O que o Departamento de Justiça diz sobre Santos? A Procuradoria apresentou 23 acusações criminais contra o político. São elas: conspiração para cometer irregularidades contra os EUA, fraude, falsificação de documentos para obstruir a Comissão Federal Eleitoral, roubo de identidade agravada, acesso fraudulento a dispositivo, lavagem de dinheiro, furto de recursos públicos, declarações falsas à Câmara dos EUA.

Santos se declara inocente de todas as acusações. O julgamento está marcado para setembro do ano que vem.

O que diz o Comitê de Ética? O relatório de 56 páginas reúne evidências de vários dos 23 crimes de que Santos foi acusado na Justiça. As infrações que mais chamam a atenção no texto se relacionam, contudo, com os destinos que o então candidato teria dado ao dinheiro de seu fundo de campanha em ambas as suas campanhas, de 2020 e 2022.

O documento do Comitê de Ética revela, por exemplo, que Santos usou mais de US$ 2.000 (quase R$ 10 mil na cotação atual) dessa verba em resorts em Atlantic City, cidade em Nova Jersey conhecida por seus cassinos, em julho de 2022, mesmo que não haja registros de eventos políticos ocorrendo lá no período.

Além disso, um antigo funcionário da campanha de Santos disse ao subcomitê de investigação não se lembrar de “nenhum evento de campanha ou de captação de recursos” na cidade naquela data. Contou, no entanto, que sabia que Santos costumava apostar em cassinos, em geral acompanhado do marido.

O relatório ainda descreve uma despesa de cerca de US$ 3.000 (cerca de R$ 15 mil) com estadia em um Airbnb que o deputado havia identificado como um “gasto com hospedagem”. Segundo seu calendário de campanha, porém, ele passou o fim de semana da despesa em questão nos Hamptons, balneário frequentado pela elite nova-iorquina.

Além das viagens, destacam-se no relatório os gastos de Santos com serviços e procedimentos estéticos. Duas transações foram identificadas como “[aplicação de] botox” pela tesouraria de suas campanhas: uma de US$ 1.400 (R$ 6.800), de 2022, e outra de US$ 1.500 (R$ 7.285), esta da campanha de 2020 em que ele saiu derrotado.

Santos ainda teria usado US$ 4.127,80 (R$ 20 mil) do fundo de campanha em uma compra na grife de luxo Hermès e quantias menores para pagar contas de seu cartão crédito, refeições, estacionamento, produtos na loja de cosméticos Sephora e até assinaturas do OnlyFans, plataforma de streaming de conteúdos eróticos.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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