SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na esteira do enorme sucesso de “The Last of Us”, série da HBO baseada no jogo de mesmo nome, a Amazon vai lançar em abril de 2024 “Fallout”, outra produção baseada em uma série de videogames que se passa em um mundo pós-apocalíptico –mas, dessa vez, o que liquidou maior parte da humanidade não foram zumbis, mas bombas atômicas em uma guerra entre China e EUA.
Mas as semelhanças param por aí. Enquanto, em “The Last of Us”, o surgimento de zumbis movidos por fungos em 2003 é o evento que desencadeia a história, o universo de “Fallout” é uma realidade alternativa na qual, em 2077, Washington e Pequim decidem resolver suas diferenças na base dos mísseis nucleares –e a história só começa duzentos anos depois, com os sobreviventes se organizando em novas sociedades num mundo devastado pela radiação.
Para trazer o mundo complexo dos jogos para a TV, a Amazon contratou a dupla de produtores executivos Jonathan Nolan e Lisa Joy –os dois são responsáveis pelo sucesso de ficção científica da HBO “Westworld”. Nolan e parte da equipe e elenco de “Fallout” estão no Brasil para para participar da CCXP, ou Comic Con Experience, a convenção de cultura pop que começou nesta quinta (30) e vai até o domingo (3) em São Paulo.
Em um evento com a imprensa brasileira e internacional em um hotel na capital paulista, Nolan, que é irmão do diretor Christopher Nolan (“Interestelar” e “Oppenheimer”), disse que um dos desafios da série foi criar dois mundos diferentes: a realidade alternativa de “Fallout” antes das bombas caírem, e o futuro do que o mundo se tornou séculos depois disso.
Em “Fallout”, a tecnologia avançou e robôs e armas laser existem, mas a cultura e as referências estéticas ficaram presas nos anos 50. O efeito, nos jogos, é criar um ambiente retro-futurista que serve de pano de fundo para temas como a paranoia da Guerra Fria, o militarismo, o fascismo, e a natureza absurda da guerra.
“Os EUA desse mundo são como os EUA da época de Eisenhower [presidente americano de 1953 a 1961]”, diz Nolan. “Um país que nunca teve uma guerra do Vietnã, nunca teve um escândalo de Watergate, nunca teve um festival de Woodstock, nunca teve uma conversa consigo mesmo sobre seus pecados e transgressões, e meio que avançou rumo a outro século americano, mais cem anos dessa América arrogante que tem um fim terrível. E na série, temos a chance de brincar com essas ideias”, diz.
Nolan escreveu filmes dirigidos pelo irmão, como “Memento”, “Interestelar” e “Batman: O Cavaleiro das Trevas” –que cita ao falar sobre o que o interessou a respeito de adaptar “Fallout”. “Já adaptei quadrinhos e livros, mas adaptar algo interativo é muito complicado. Em ‘Batman’, a experiência que tive foi que você adapta um universo no qual existem tantas versões diferentes que você pode contar sua própria história”, diz Nolan.
“Sempre desconfiei de adaptações que tentam o tempo todo lembrar o espectador de onde vieram. E eu não estava interessado em adaptações de videogames que querem fazer o público se sentir dentro do jogo. As pessoas podem jogar o jogo, não tem problema, mas aqui estamos fazendo uma série, estamos fazendo cinema.”
Os produtores confirmaram que a série não vai se basear em algum dos jogos já existentes (são seis: o primeiro foi lançado em 1997 e o mais recente, em 2018), mas trazer uma história inteiramente nova, que se passa na costa oeste dos EUA.
A trama vai se concentrar em três personagens com passados muito diferentes e visões completamente distintas do mundo arruinado no qual vivem. Lucy (Ella Purnell) é descendente de um dos poucos privilegiados que tinham dinheiro para se esconder em bunkers e atravessar o apocalipse em relativo conforto debaixo da terra. Lucy viveu a vida toda nesse ambiente artifical e protegido, e é confrontada com o mundo real quando precisa sair do bunker em uma missão.
Ela eventualmente se encontra com Maximus (Aaron Moten), um soldado de uma organização militar de caráter duvidoso, e com o terceiro personagem principal, um sobrevivente da guerra que viveu centenas de anos através de mutações radioativas e que é conhecido apenas como o ghoul –vivido por Walton Goggins, conhecido por faroestes como “Os Oito Odiados” e “Django Livre”.
“Foi um papel difícil emocionalmente”, diz Goggins. “Eu acho que você se identifica com a visão de mundo dele quando você vê do que o ser humano é capaz. Mas também espero que as pessoas tenham empatia com o otimismo e a ingenuidade da Lucy, ou com a busca por ordem de Maximus, e por fim se identifiquem também com o ghoul como essa pessoa que aceita o caos”, afirma o ator.
Quando perguntados sobre as comparações com “The Last of Us” da HBO, que furou a bolha dos games e chegou a ter mais de 8 milhões de espectadores no seu último episódio, a equipe de “Fallout” diz que há espaço para as duas histórias.
“Adaptações de videogames estão no seu melhor momento de todos os tempos. Acho que estamos em uma era de ouro desse para esse tipo de história”, diz Graham Wagner, showrunner de “Fallout”.
“E ‘The Last of Us’ tem uma história muito específica, enquanto ‘Fallout’ é um jogo de mundo aberto. Minha experiência com ele é provavelmente muito diferente da sua”, afirma o roteirista, que trabalhou em séries como “The Office” e “Portlandia”. “Então não estamos adaptando uma narrativa, estamos criando uma narrativa nova no mesmo mundo, que é algo que todo jogador faz quando joga.”
Redação / Folhapress