SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Hoje piloto da Porsche Cup, Rubens Barrichello teve um episódio na Fórmula 1 que mostra como cada detalhe importa em uma corrida. O piloto saiu da 18ª posição para vencer o GP da Alemanha, em Hockenheim, em 2000.
Para isso, além de sorte, com um invasor que paralisou a corrida e safety car em duas ocasiões, o piloto e sua equipe tomaram uma decisão ousada de não colocar pneus de chuva, após o início da precipitação.
A escolha deu vantagem ao brasileiro sobre o segundo colocado Mika Häkkinen, já que o baixo volume de água deu melhores condições para os pneus para pista seca.
São decisões como essas que receberão auxílio do novo sistema de monitoramento em tempo real, com inteligência artificial, lançado pela Microsoft na última prova da Copa Porsche, realizada no autódromo de Interlagos no último dia 17.
A tecnologia acompanha toda a interação entre o piloto e o carro, para detectar quais atitudes geram perda de tempo e quais melhoram o desempenho.
Para fazer isso, o programa Data Fabric trabalha com os chamados dados telemétricos, os mesmos usados para monitorar o comportamento das pessoas em redes sociais com base em movimento do mouse e do teclado.
Sensores captam o quanto o piloto esterça o volante, o quão fundo pisa no freio em uma curva e demais comandos ao carro. A essas informações, o sistema adiciona condições dos pneus, quantidade de combustível no tanque, peso do carro e outros dados.
Com isso, as equipes são capazes de tomar decisões informadas, com base nos dados e cálculos estatísticos. Até as emissoras de televisão poderão receber dados em tempo real para informá-los ao público, segundo o vice-presidente de tecnologia e soluções da Microsoft Brasil, Cristiano Faig.
Esse recurso deve estar disponível nas transmissões da Porsche Cup já no campeonato de 2024, segundo a Microsoft.
A reportagem compareceu à demonstração do Data Fabric e viu o dashboard, com diversas curvas de desempenho, esquemas de calor em partes do carro.
Cada detalhe em tela se torna essencial, quando carros que alcançam velocidades próximas a 300 km/h disputam segundos para vencer a competição.
Em volta com o piloto Max Wilson, a reportagem assistiu a como os pilotos ganham velocidade a cada metro disponível para acelerar antes da frenagem que precede a curva.
O carro também ganha velocidade quando tem menos combustível no tanque e menos peso nos pneus. O risco é acabar em uma pane seca ou com pneus carecas, com menos tração e segurança nas curvas.
Os dados de telemetria são coletados em tempo real por meio de um dispositivo de internet das coisas (IOTs, na sigla em inglês), desenvolvido pela IturanMOB, braço de mobilidade da empresa de monitoramento veicular Ituran.
Para reduzir o tempo de troca de informações, chamado de latência, sem o acesso a 5G no carro, a empresa usou uma rede privada, de uso exclusivo, o que garante maior velocidade por não haver concorrência no envio e recebimento de dados. Isso diminui a latência a quase zero.
“Nossos IOTs são conectados à rede lógica do carro por indução. Com isso, não interferimos na originalidade dos carros da Porsche Cup, assim como nos mais de 2.000 IOTs já em uso no Brasil com propósito de mobilidade e compartilhamento de veículos”, afirma o fundador da IturanMOB, Paulo Henrique Andrade.
“A infraestrutura, fornecida como serviço, permite que o time interno da Porsche Cup mantenha o controle sobre os dados, atualizando provedores, patches de segurança e contando com recursos nativos da nuvem para o manejo responsável e seguro das informações, prezando pela privacidade e conformidade da operação”, diz a Microsoft em nota.
O vice-presidente de inovação da Microsoft Brasil, Cristiano Faig, compara a tecnologia a um exame de sangue. “O modelo extrai uma série de informações que permitem fazer um prognóstico útil para o piloto.”
O Data Fabric ainda não está equipado com IA generativa, como o ChatGPT, capaz de indicar respostas em texto para cada situação. Também não intervém no controle do atleta sobre o veículo.
O piloto será substituído pelo robô?
O chefe-executivo da Porsche Cup no Brasil, Dener Pires, afirma que não vê um cenário em que os pilotos serão substituídos pela inteligência artificial.
“Temos há um tempo o caso do controle de tração assistido por computador, e é o piloto que escolhe quando quer usar. Alguns usam em uma curva, mas não usam em outra, a equipe também avalia o que dá mais certo.”
Ele assume, porém, que pode haver interesse do público em uma competição entre homem e máquina, como foi a partida de xadrez entre o campeão Garry Kasparov e o computador da IBM Deep Blue.
Em 1996, o humano venceu uma sequência de seis partidas por 4 a 2. Em 1997, após melhorias na máquina, o Deep Blue ganhou por 3 a 2, com um empate.
Competições entre pessoas e inteligências artificiais já são comuns em jogos de videogame. No caso dos carros, as principais aplicações de veículos autônomos ainda ficam restritas à mobilidade urbana.
PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress