SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As quatro primeiras músicas escolhidas para abrir o show do The Killers, primeira banda headliner da segunda edição do Primavera Sound, que acontece neste sábado (2) e domingo (3), em São Paulo, deram o tom do momento em que o quarteto está, 22 anos depois de sua criação –é hora de olhar para trás.
O grupo liderado por Brandon Flowers emendou, logo de cara, “Mr. Brightside “, “Spaceman”, “The Way It Was” e “Smile Like You Mean It”, que figuram entre os maiores hits de sua carreira.
Aproveitando a leva bem-sucedida de lançamentos que exploram a nostalgia na música mundial, os americanos lançam na próxima sexta-feira (8), a coletânea “Rebel Diamonds”, que pinça vinte sucessos das duas décadas de sua trajetória.
A apresentação feita na noite deste sábado, então, soa mais como uma ode aos anos de ouro do grupo que ficou concentrada nos três primeiros álbuns, lançados entre 2004 e 2008.
Embora seu auge já tenha passado há muito, o Killers consegue segurar na maior parte do tempo a apresentação pautada na celebração, apesar de quase nenhuma novidade ter sido adicionada ao repertório desde que o grupo veio ao Brasil pela última vez, em 2021.
Na época, Flowers e seus colegas tinham lançado há poucos meses seu último álbum, “Pressure Machine”, que não decolou como os anteriores.
O grupo, no entanto, tem um vasto repertório de hits e sabe jogar bem com isso, o que, ao mesmo tempo em que facilita a tática de espalhar sucessos ao longo do setlist, serve como um diagnóstico do que colou ou não na carreira de sete álbuns do grupo.
Antes do show, no camarim, os dois integrantes originais do Killers falaram à Folha sobre a vinda ao Brasil. Flowers recorda até hoje de quando eles tocaram no Rio de Janeiro, na Marina da Glória, em 2007. “Melhores abacates que comemos”, diz.
Ele e o baterista Ronnie Vannucci são os remanescentes da formação original da banda, estabelecida nos primeiros anos da década de 2000. Mark Keuning, guitarrista, e Mark Stoermer, baixista, deixaram o grupo, mas não de vez.
“Eles vêm e vão, não saíram de vez”, afirma Vannucci. Os dois ainda gravam músicas e discos com o Killers, mas raramente fazem shows com a banda. É o que Flowers chama de “acordo maduro”, que faz o grupo continuar ativo.
Keuning, aliás, aparece na capa de “Your Side of Town”, single recente do Killers feito para o que seria um novo álbum da banda, depois abandonado. Flowers entrou numa crise, segundo disse ao The Times.
É que o vocalista não quer mais fazer o indie rock dançante com influência de synth pop que marcou a banda desde “Hot Fuss”. No álbum “Pressure Machine”, compôs canções inspiradas por Bruce Springsteen com letras baseadas em histórias de sua infância em Nephi, no estado americano de Utah.
“Tenho que ser honesto comigo mesmo. As músicas antigas estão aí para todo mundo ouvir, para sempre. Então por que tentar fazer aquilo de novo? Preciso ser fiel a quem sou agora e representar isso [nas composições].”
Mas, no palco, a história é outra. Flowers e Vannucci dizem que, especialmente quando tocam num festival, querem mostrar suas músicas famosas e impactar até quem não conhece tanto a banda.
Eles não enjoaram de tocar hits como “Mr. Brightside” toda noite. “[Enjoar] depende de as músicas serem boas”, diz Flowers. “Por sorte, temos várias boas. Você vê como os fãs reagem a elas, é difícil enjoar disso.”
De fato, os momentos mais comemorados pelo público são aqueles em que canções que ocupavam a programação da MTV e tocavam em baladinhas indie, como “Jenny Was a Friend of Mine”, “Human” e “When You Were Young”, apareceram. A plateia, em sua maioria, tem idade para ter vivido a glória do indie rock e do The Killers nos anos 2000.
Enquanto não se ocupou dos hits, o Killers apostou em poucas canções de trabalhos mais recentes, como a faixa “The Man” e solos instrumentais. Também convidou um fã para tocar a bateria de “For Reasons Unknown”.
Na primeira noite de Primavera, o Killers e seu combo de repertório popular e domínio da fórmula que o fez decolar há vinte e poucos anos mostrou que é uma escolha segura para headliners de grandes festivais.
Aliás, estes shows bombásticos e cheios de hits, diz Flowers, são um legado do Killers para a música contemporânea. “Carregamos uma tradição, fazemos coisas que não se fazem mais”, ele diz. “Por isso as pessoas sempre vão aos shows. É algo de que me orgulho. A crença no rock and roll é importante.”
LAURA LEWER E LUCAS BRÊDA / Folhapress