SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O advogado Pedro Pacífico, mais conhecido como Bookster, até pensou em escrever um livro de ficção. Mas, por mais que tentasse, continuava encontrando no caminho assuntos que precisava tirar da frente.
Resignado, escreveu “Trinta Segundos Sem Pensar no Medo”, sobre como suas relações com sua sexualidade e com a literatura moldaram quem ele é hoje, prestes a fazer 30 anos.
Pedro se aceitou como um homem gay após seus 25 anos, quando terminou o relacionamento com sua última namorada. Antes disso, enfrentou censuras que vinham de dentro e fora, que mal escondiam o segredo que sempre esteve insinuado.
Um dos picos de tensão do livro é a primeira experiência sexual do hoje influenciador com outro homem, um colega igualmente escondido de si e dos outros, ambos bêbados. Pedro narra um encontro quase mecânico, dominado pelo carnal, pulsão que foi mais difícil de conter do que o afeto no calor da adolescência.
O episódio não foi o único, e depois do alívio sempre ficava o silêncio e a culpa. Voltando a se encontrar, restava o combinado tácito –“nada havia acontecido”.
O livro já começa com o relato de quando Pedro contou para sua mãe que estava namorando um homem, em 2020. Para o pai, contou tempos depois, após o começo da pandemia de Covid-19 e depois de uma viagem a Ruanda que provou a amizade paterna, episódios que também estão registrados no livro.
“Depois, isso virou só mais uma coisa sobre mim, deixou de me definir como antes”, afirma Pacífico. “Comecei a entender quais eram meus gostos, coisas banais que eu deixava de vestir e consumir. Não foi só a questão de viver a sexualidade, mas de poder me viver por completo, sem tanto medo dos julgamentos dos outros.”
Um desses gostos, o outro pilar de “Trinta Segundos sem Pensar no Medo”, é a literatura. Quem acompanha o Bookster nas redes sociais não deve imaginar que Pedro Pacífico não foi um grande leitor até a vida adulta.
Num primeiro momento, a literatura foi um passatempo que ajudou o escritor a se entender melhor e ver as coisas com outros olhos. Hoje, Pedro concilia os ofícios de advogado e influenciador enquanto assiste ao surgimento de um terceiro, o de escritor.
“Muito se fala sobre isso, ‘eu leio para ter vocabulário, para expandir a minha bagagem’. Para mim, não é isso. O principal conhecimento que a literatura traz é sobre o ser humano. Isso eu senti na prática, não só com a minha aceitação, mas também por me tornar uma pessoa com uma sensibilidade maior para conhecer o outro.”
“Ao ler sobre realidades totalmente diferentes da sua, você se depara com preconceitos que nem sabia que tinha, ideias prontas que você reproduzia. É uma desconstrução constante por meio da leitura, ao conhecer o outro e entender que ser diferente é algo muito bom.”
Próximo ao final do livro, Pacífico conta a história de seu padrinho, homem de mais de 90 anos que nunca havia se casado ou tido filhos e sempre ia aos eventos de família acompanhado de um mesmo amigo. Só um pouco mais velho Pedro entendeu que aquele homem era mais que um colega.
Quando o homem morreu, seu padrinho recebeu da família a atenção de quem perdeu um amigo –viveu sozinho a dor de quem se despediu do companheiro de uma vida. Pacífico conta no livro que, ao ver o afilhado se declarar gay, seu padrinho viu no gesto uma chance de acabar com o silêncio e se entender melhor.
Para o autor, seu lugar é o de quem quer criar identificação e influenciar outras pessoas a criar o hábito de leitura. “Eu não estou aqui para competir com nenhum jornalista, com nenhum crítico, com nenhum acadêmico, eu não sou nada disso. O papel desses outros grupos é essencial, importantíssimo, mas tem funções diferentes e atinge públicos, às vezes, diferentes.”
“Eu me vejo como um leitor comum que fala sobre literatura nas redes. Não tenho conhecimento técnico, compartilho a minha experiência com aquelas leituras. Os trabalhos não competem e um não anula o outro, eles se complementam.”
DIOGO BACHEGA / Folhapress