SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Apple TV estreia em 6 de dezembro a minissérie documental “John Lennon: Assassinato Sem Julgamento”, que investiga as circunstâncias do assassinato de Lennon por Mark David Chapman, ocorrido em 8 de dezembro de 1980 na calçada do edifício Dakota, em Nova York, onde o ex-Beatle morava com Yoko Ono.
Dividida em três episódios de cerca de 40 minutos cada, a minissérie levou dois anos para ser produzida e traz depoimentos inéditos de testemunhas do crime, como um motorista de táxi que presenciou o assassinato e um porteiro do edifício Dakota.
“Nosso objetivo foi contar a história de forma completa”, diz com exclusividade à Folha o codiretor, junto a Nick Holt, e produtor executivo da minissérie, Rob Coldstream. “Para isso, fomos atrás de todos que tiveram alguma relação com o crime, de todas as pessoas que testemunharam o acontecimento, e descobrimos que algumas delas nunca tinham sido entrevistadas.”
Se o objetivo era dar um panorama geral do assassinato mais marcante envolvendo um astro da música, a minissérie obteve êxito. “John Lennon: Assassinato Sem Julgamento” disseca, de maneira competente, o acontecimento de 8 de dezembro e suas consequências.
Os três episódios, chamados respectivamente “O Último Dia”, “A Investigação” e “O Julgamento”, contam, em ordem cronológica, quase tudo o que ocorreu naquele dia.
Quase, porque não menciona, por exemplo, que, na manhã de 8 de dezembro, a fotógrafa Annie Leibowitz foi ao apartamento de John e Yoko no edifício Dakota para fotografar o casal para a revista “Rolling Stone”, e clicou uma das imagens mais icônicas do rock, em que John, nu, abraça Yoko na cama.
À tarde, John e Yoko foram a uma estação de rádio em Nova York, onde John deu o que seria sua última entrevista. “Minha obra só vai terminar depois que eu estiver morto e enterrado, e espero que isso demore muito a acontecer”, disse.
Enquanto isso, na frente do edifício Dakota, um dos porteiros, Jay Hastings, percebe a presença de um sujeito “estranho” e que lhe chama a atenção.
“Eu perguntei o que ele estava fazendo ali”, diz o porteiro, “e ele respondeu que só queria o autógrafo de John. Lembro que ele disse que nem gostava muito da música do John, mas que era um colecionador e que colecionava, entre outras coisas, borboletas”. O sujeito era Mark David Chapman.
À noite, John e Yoko foram ao estúdio para uma sessão de gravação com o produtor Jack Douglas. O disco deles, “Double Fantasy”, havia sido lançado 20 dias antes, e marcou a volta de Lennon à música depois de cinco anos em que passou cuidando do filho, Sean.
O casal estava ansioso para gravar outras canções. Naquela noite, com Douglas, trabalharam na faixa “Walking on Thin Ice”. Na volta da gravação, na entrada do Dakota, John foi baleado por Chapman.
“Ele passou correndo por mim e disse: Levei um tiro. Ele tinha sangue saindo da boca. E então simplesmente caiu no chão”, diz Hastings em um dos episódios. “Eu o virei de costas, tirei os óculos e coloquei-os sobre a mesa. E Yoko estava gritando: Chame uma ambulância, chame uma ambulância, chame uma ambulância.”
A minissérie entrevista testemunhas do crime, incluindo os porteiros e um taxista que estava levando dois passageiros para uma festa no edifício Dakota. Mas o relato mais comovente é o de uma enfermeira do Hospital Roosevelt, para onde John foi levado, e que teve de dar a Yoko a notícia da morte de John.
“Tivemos a ajuda de uma equipe grande e competente de pesquisadores”, diz Rob Coldstream, “e eles vasculharam todos os arquivos de emissoras de rádio e TV, atrás de imagens da cobertura da morte de John. Procurávamos, especialmente, o material bruto, sem edição, e não apenas as imagens que foram ao ar. Conseguimos, nesse material bruto, algumas coisas muito especiais.”
Uma das imagens de bastidor mais impressionantes mostra uma conversa entre dois apresentadores de uma transmissão ao vivo de um jogo de futebol americano que ocorria naquela noite. Os dois discutem se deveriam divulgar, ao vivo, a morte de John Lennon. Eles decidem que sim, e um dos apresentadores revela a trágica notícia aos telespectadores.
Os episódios seguintes também trazem elementos jornalísticos surpreendentes, em especial gravações de conversas entre o assassino, Mark David Chapman, e seus advogados, e também sessões em que Chapman é entrevistado sob efeito de hipnose.
Rob Coldstream diz que, por razões legais, não pode revelar detalhes sobre como a produção teve acesso a esse material, mas que eram fitas que estavam “há quatro décadas fechadas numa caixa”.
As conversas mostram um Chapman instável, numa hora falando coerentemente sobre o crime, e em outras parecendo mentalmente perturbado e dizendo coisas agressivas e sem sentido: “Ele (Lennon) era a pessoa mais falsa que já pisou na Terra!”
JOHN LENNON: ASSASSINATO SEM JULGAMENTO
Quando 6/12
Onde Apple TV+
ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress