Santos segue grande, mas parou no tempo, diz Pepe, ídolo do clube

SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – Segundo maior artilheiro da história do Santos, com 403 gols, o ex-ponta-esquerda Pepe conta, aos 88 anos, ter sofrido na última quarta-feira (6) o golpe mais profundo na relação quase umbilical com o Santos, iniciada em 1951.

O ídolo do clube diz ter acompanhado com dor pela televisão parte do calvário diante do Fortaleza. A derrota por 2 a 1 em plena Vila Belmiro culminou com um inédito rebaixamento à Série B.

“Foi o momento mais triste que já senti com o Santos. Ainda é estranho para mim [o rebaixamento]. Não assisti todo jogo”, iniciou dizendo à reportagem.

“O Santos acostumado a brigar sempre por títulos chegou a esse ponto difícil. Infelizmente, faz parte de uma nova era. O tempo passou, paramos um pouco no tempo. O Santos continua sendo um grande clube, mas parou, enquanto outras equipes se estruturaram “, completou.

Pepe tem pelo Santos uma das histórias de maior fidelidade envolvendo um ex-jogador e um clube. Chegou à Vila Belmiro ainda nas categorias de base e se aposentou em 1969 sem nunca ter vestido a camisa de outra agremiação.

Marcou 403 gols em 741 jogos, conquistando 25 títulos oficiais, sendo 11 estaduais, 6 Brasileiros, 2 Libertadores e 2 Mundiais. Diz ser o maior goleador, uma vez que desconsidera o “alienígena” Pelé da conta.

“Estamos enfrentando um momento de grave crise, mas tenho certeza que o Santos voltará ao seu normal. O Santos voltará a ser aquele Santos, a nos dar alegrias”, avalia.

Para ele, a maior parcela de culpa sempre será refletida para os jogadores, embora também não exima dirigentes, integrantes da comissão técnica e os demais participantes da campanha.

“Cada parte tem uma parcela da culpa, mas os maiores culpados são os que fazem o futebol acontecer em campo: os jogadores. Sempre serão eles. Falo com a visão de quem já foi jogador e treinador”, avalia.

Após pendurar as chuteiras, Pepe teve longa carreira como treinador, tendo dirigido o Santos em cinco oportunidades, com a conquista do título Paulista de 1973. Parou em 2004, após dirigir Pep Guardiola no Al Ahli, do Qatar.

“Gosto de falar para todos do quanto o Guardiola perguntava daquele Santos. Conversávamos muito. Gostava de entender como jogávamos. Esse é o tamanho do clube”, lembra.

O Canhão da Vila acredita que o time não deve demorar a subir novamente: “talvez fosse mais difícil no meu tempo por não haver essa evasão de grandes jogadores nos times de menor expressão”.

Durante a gestão do presidente Andres Rueda, o Santos brigou por três anos consecutivos contra o rebaixamento no Paulista e no Brasileiro. O time ainda acumulou eliminações precoces na Sul-Americana e na Copa do Brasil.

Em outubro, em entrevista ao ge, Rueda minimizou os efeitos de sua gestão dizendo ter feito um “mal necessário pelo momento do clube” e que não se valia de “politicagem” para agradar a integrantes do Conselho Deliberativo.

O dirigente ainda alegou ter pago R$ 431 milhões em dívidas, defendendo que deixaria o clube em dezembro com a “missão cumprida”.

Nesta quinta (7), horas após a confusão generalizada na Vila Belmiro e no entorno do estádio, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que seis ônibus e quatro carros foram incendiados por torcedores, que também avançaram contra o policiamento arremessando garrafas, pedras e fogos de artifício.

Durante a ação, 11 policiais ficaram feridos e duas viaturas foram danificadas, mas ninguém foi detido.

A prefeitura, por sua vez, diz que equipes ainda realizam o levantamento dos equipamentos públicos vandalizados para programar o reparo.

Ao todo, dez pessoas foram encaminhadas à UPA Central da cidade. Todas foram liberadas após receberem assistência médica na unidade de saúde.

No final da manhã, um grupo de torcedores forçou a entrada no setor administrativo do estádio, pedindo que funcionários deixassem suas alas de trabalho.

Eles procuraram pelo presidente Rueda ou integrantes do Comitê Gestor para cobrar satisfações pelo rebaixamento, mas nenhum deles foi encontrado.

Segundo o clube, não houve agressões e danos ao patrimônio. Os invasores foram retirados das dependências do clube pela Polícia Militar.

KLAUS RICHMOND / Folhapress

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