tive coragem de sair da cama’, diz vizinho de mina que se rompeu em Maceió

MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – Para enterrar seu cachorro, Gilvan da Silva Correia, 52, entrou nesta segunda-feira (11) na área de risco à beira da lagoa Mundaú, no bairro do Bom Parto, em Maceió. O local fica a 400 metros da mina 18 da Braskem, que se rompeu no domingo (10).

A reportagem andou nesta segunda pelos bairros do Bom Parto e Farol, e encontrou um cenário de desolação. Algumas ruas da capital de Alagoas foram completamente evacuadas. Nelas, há casas abandonadas e tomadas pelo mato. As vias estão silenciosas.

Mas nem todos os moradores precisaram ser retirados. Quem ficou, agora vive entre a indefinição do que acontecerá e o medo de um desastre.

Correia mora em um trecho não foi evacuado, que fica ao lado da lagoa Mundaú. Esse ponto entrou no mapa de área de risco neste mês, mas moradores dizem que nunca receberam qualquer aviso da Defesa Civil ou da Braskem.

Além disso, reclamam que com a com a evacuação nas proximidades, o bairro ficou quase deserto, com parte das casas vazias.

Desempregado, Correia diz estar preocupado com a possibilidade de ser obrigado a deixar sua casa, na qual moram oito pessoas.

“Nos dois dias após o início do alerta [em 29 de novembro], precisei ir a uma UPA porque minha pressão tinha baixado muito”, conta ele. “Não sabia o que fazer, mas estou mais tranquilo graças à medicação. A gente vai para a porta de casa e só se fala nisso. As pessoas estão aflitas, sem saber o que fazer”.

No fim de novembro, a Defesa Civil emitiu um alerta que a mina 18 corria o risco de desabamento, o que aconteceu neste domingo. Por isso, uma parte dos moradores foi evacuada -outras pessoas já tinham sido retirada nos últimos anos.

Segundo Correia, a grande preocupação agora é em relação às outras 34 minas localizadas na região.

“Tem muitas outras por aqui, todas uma próxima da outra. Acompanhamos os noticiários, falamos com as pessoas, mas se sabe muito pouco”, reclama. “Os meus vizinhos de frente estão na área de risco, mas a minha casa não está. Se cair a casa dele, quem garante que não vai acontecer o mesmo com a minha?”.

A Defesa Civil de Maceió diz que o cenário agora é de estabilização e que as outras cavidades não serão afetadas pelo rompimento.

Luiz Vieira da Silva, 72, aposentado, estava ao lado do seu cachorro e ouvindo à rádio na calçada. Mora no bairro há 40 anos e passou por enchentes da lagoa, mas nunca viu ou sentiu tanto medo.

“Eu, que tenho minha casinha e demorei tanto a construí-la, só quero sair para outro lugar certo. Já sou uma pessoa doente, tomo medicação controlada e não posso ficar na dependência desse tipo de serviço. Eu ouvi um estouro [quando a mina colapsou], mas não tive coragem de sair da cama”.

Igor Galdino de Lima Rodas, 28, estava com sua venda fechada quando a Folha de S.Paulo visitou o bairro do Bom Parto nesta segunda. Ele vive numa casa com sua esposa e dois filhos, já perto da lagoa.

“A pessoa só vive aqui porque não tem para onde ir”, afirma. “Sou quase falido, mas ainda sou autônomo. Demora demais para eu conseguir vender 10 bujões de água. Antes, eram 30 ou 40 por dia. Era coisa rápida”, conta ele. “Hoje, com esse caso, só tenho cinco. Mal dá para vender. Só vendo para pessoas daqui, enquanto antes muita gente comprava.”

Rodas estima que atualmente ganha cerca de R$ 20 por dia, valor que era cinco vezes maior antes do desastre. Nas prateleiras, mantém apenas itens básicos.

“Eu só quero ser realocado. À noite, mal tem iluminação. Vieram os ratos, os insetos, sapos e cobras. Está uma situação muito difícil. Nunca morei em outro bairro. Só diz que aqui não tem risco quem nunca veio.”

Segundo o comerciante, desde o último dia 4 nenhuma equipe da Defesa Civil de Maceió ou da Braskem fez visita, apesar do colapso.

A Defesa Civil afirma que os moradores incluídos no atual atual mapa de risco são orientados a procurar o Ministério Público para realizar as tratativas necessárias junto aos órgãos de controle e a Braskem. A empresa não respondeu.

O sentimento de impotência é semelhante para Francisca da Silva Santos, 36, que está sem emprego.

“Eu acordo várias vezes à noite. Estamos aguardando. Não temos condições de ir para alojamento. O comércio aqui está morto e não temos serviços básicos. É muito triste tudo isso.”

JOSUÉ SEIXAS / Folhapress

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