TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) – A cerca de um mês da votação, no próximo dia 13 de janeiro, a campanha presidencial em Taiwan tem agora dois candidatos tecnicamente empatados na dianteira. A eleição ocorre em único turno, com a posse prevista para 20 de maio.
Segundo pesquisa divulgada nesta terça (12) pelo instituto Formosa, um dos mais confiáveis para intenção de voto na ilha, o vice-presidente Lai Ching-te lidera com 2,6 pontos de diferença sobre o prefeito de Nova Taipé, Hou Yu-ih. A margem de erro é de 2,8 pontos, para mais ou para menos.
Lai, do Partido Democrático Progressista, identificado popularmente pela cor verde, tem 35,1%. Hou, do Kuomintang ou Partido Nacionalista da China, azul, tem 32,5%. O terceiro candidato, Ko Wen-je, do Partido do Povo de Taiwan, branco, que chegou a aparecer na segunda posição, caiu para 17%.
O quadro mudou a partir do fracasso da união dos oposicionistas Hou e Ko, há três semanas, e da desistência do independente Terry Gou, fundador da empresa de tecnologia Foxconn.
“Embora a ascensão de Hou nas pesquisas o tenha tornado um candidato mais viável e criado uma distância entre ele e Ko, ele ainda está atrás de Lai”, afirma Yan Zhensheng, professor de política comparada da Universidade Nacional de Taiwan. “Ele só tem um mês, ainda é difícil”, diz, apontando a divisão da oposição como principal fator. Yan acrescenta que “Hou não é um político com apelo populista, uma característica importante na política eleitoral do século 21”.
Hou tem privilegiado temas locais e abordado menos as relações com a China, divergência central entre os candidatos. Diz que reativaria os contatos, inclusive comerciais, e reafirma seu apoio ao chamado Consenso de 1992 entre Pequim e Taipé, sobre a existência de “uma China”, o que é rejeitado pelo atual governo.
Já Lai vem buscando se distanciar da afirmação que fez em 2017, de ser um “trabalhador pragmático pela independência”. Diz que “independência hoje se refere ao consenso em Taiwan de que não faz parte da República Popular da China, já é um país independente chamado República da China”, nome oficial da ilha.
Segundo Yan, a posição histórica de Lai, mais favorável à independência, não agrada a Pequim nem a Washington, “mas existe apoio o bastante” para uma vitória no pleito em turno único. A Folha ouviu eleitores dos dois principais candidatos na capital, Taipé.
Wang Shih-Han, 37, comerciário, acredita que Lai, se eleito, vá seguir a posição da atual presidente, Tsai Ing-wen, também “verde”, de não alterar o quadro vigente nas relações bilaterais com a China. Ou seja, não caminharia para uma separação formal de Pequim.
“É a minha posição, manter o statu quo”, afirma Wang. “Não quero uma declaração de independência, embora, por dentro, a deseje. A situação agora não permitiria fazê-lo, então vamos manter e ver como a coisa vai. Não creio, mas talvez em 20 ou 30 anos a China se torne mais democrática”.
Ele se diz mais preocupado em garantir que a ilha se arme militarmente, o que não seria o caso com Hou. “A razão por que eu sou profundamente verde é que temos que fabricar nós mesmos um submarino, por exemplo, e o KMT vem tentando atrapalhar”, diz Wang.
Por outro lado, assumindo serem “profundamente azuis”, ou seja, com apoio fechado a Hou, um casal afirmou que jamais votaria no “separatista Lai”. Ambos com 80 anos, ele contador e ela ex-dona de salão de beleza, pediram para seus nomes não serem divulgados.
Ela elogia o último presidente “azul”, Ma Ying-jeou (2008-16), e diz que naquele período a China não fazia tantas ameaças e não havia tantas proibições de exportação de produtos agrícolas taiwaneses. Segundo a eleitora, o povo não sentiu tanto o aumento de preços para alimentação e lazer.
O marido, por sua vez, apoia a retomada de um acordo comercial com a China e acredita que, seja quem for eleito, um dia a China vá retomar Taiwan. Ele afirma que só não gostaria que Taiwan se tornasse a próxima Hong Kong, em uma referência ao território cuja soberania foi transferida do Reino Unido para a China em 1997.
Wang é contra o acordo comercial e lembra que as manifestações de 2014, que acabaram levando Tsai ao poder, foram exatamente contrárias a essa aproximação. “Eu penso nisso como uma infiltração, infiltrar a sociedade, cada indústria. Viriam muitos da China continental trabalhar aqui.”
O cientista político Yan diz que as questões econômicas podem acabar definindo a eleição. “A arrogância das elites e uma economia desbotada são grandes preocupações. O alto custo de habitação, a inflação e a relativa privação podem transferir os votos para a oposição.”
Além do presidente, a votação vai decidir a nova composição do Legislativo. A expectativa é que o campo “verde” perca a maioria, que passaria para o KMT ou, possivelmente, uma formação mais dividida, dados o partido “branco” e os candidatos independentes.
NELSON DE SÁ / Folhapress