RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Consórcios liderados por Petrobras e pela americana Chevron arremataram 44 blocos exploratórios na bacia de Pelotas, no litoral do Rio Grande do Sul, abrindo uma nova fronteira para a exploração de petróleo no país.
A bacia não tem um poço perfurado desde 2001, quando a Petrobras fracassou na busca por reservas na região, mas teve o interesse renovado por descobertas de reservas gigantes na Namíbia, que tem características geológicas semelhantes.
As petroleiras preferiram os blocos em águas profundas e ultraprofundas, onde estão as descobertas da Namíbia. Ao todo, se comprometeram a gastar R$ 298,3 milhões em bônus de assinatura.
É a primeira vez, desde 2004, que um bloco exploratório na bacia de Pelotas é arrematado em leilões da ANP. A agência ofereceu 165 áreas na região.
A participação da Petrobras era esperada, já que a empresa busca alternativas para renovar suas reservas após o esgotamento do pré-sal, previsto para o início da próxima década. A principal aposta, no momento, é a margem equatorial, que enfrenta resistência da área ambiental do governo.
A estatal arrematou blocos em parceria com a anglo-holandesa Shell e com a chinesa CNOOC.
A forte participação da Chevron, porém, surpreendeu. A companhia acaba de anunciar uma aquisição bilionária que lhe garantiu presença na promissora Guiana, que também tem descobertas recentes de reservas gigantes, e ampliou sua participação na produção de xisto dos Estados Unidos.
A empresa americana participou sozinha do leilão e ofereceu elevados ágios em relação aos preços mínimos estipulados pela ANP.
Ela prepara neste momento uma campanha exploratória na Namíbia, onde a Shell e a francesa TotalEnergies anunciaram recentemente uma série de descobertas que podem conter 11 bilhões de barris de petróleo, volume equivalente ao anunciado pela americana Exxon na Guiana.
As descobertas na Namíbia já têm movimentado, porém, a industria do petróleo na Argentina e no Uruguai, que também teriam características semelhantes.
Ainda que decida apostar novamente no Sul, a Petrobras mantém a aposta na margem equatorial como plano A para renovar suas reservas. A empresa obteve em setembro licenças para perfurar dois poços na bacia Potiguar e espera autorização para poço na bacia da Foz do Amazonas em 2024.
A possibilidade de abertura de uma nova fronteira exploratória na região sul, porém, pode ajudar a reverter o que Bedregal chamou de “crise de exploração” do país, com a redução ano a ano de poços pioneiros em busca de petróleo, aqueles furados em áreas onde ainda não há qualquer descoberta.
Em 2022, disse, foram apenas 21 poços pioneiros (10 no mar e 11 em terra), contra um pico de 157 em 2008 (45 no mar e 113 em terra). O ciclo de queda nesse tipo de poço coincide com um foco total da Petrobras no desenvolvimento das reservas descobertas no pré-sal na virada da década.
Sem a descoberta de novas fronteiras, a produção nacional de petróleo passa a cair no início da próxima década, segundo estimativa da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
NICOLA PAMPLONA / Folhapress