RIO DE JANEIRO, RJ, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A empresa que arrematou o maior número de áreas exploratórias no leilão de petróleo realizado pelo governo nesta terça-feira (13) é uma estreante no setor, criada em agosto por um empresário de tecnologia mineiro.
A Elysian Petro ficou com 122 dos 192 blocos concedidos. O número equivale a metade dos blocos exploratórios sob contrato hoje no Brasil e a mais de três vezes os 37 blocos exploratórios hoje na carteira da Petrobras -nesta quarta, a estatal arrematou mais 29.
O elevado número de áreas arrematadas por uma estreante surpreendeu participantes do leilão. A Elysian se comprometeu a pagar R$ 12 milhões em bônus de assinatura e espera investir R$ 400 milhões em cinco anos.
A Elysian foi aberta em agosto pelo empresário Ernani Machado, que controla uma empresa de tecnologia baseada em Belo Horizonte. Tem capital social de R$ 50 mil, segundo o empresário, valor que será revisto após a vitória no leilão com novos aportes.
Em entrevista após o certame, ele confirmou que abriu a empresa apenas para participar do leilão e disse que fará ingresso de capital próprio agora que arrematou os blocos. “O objetivo é desenvolver tecnologias para extrair petróleo com o menor dano possível à natureza”, disse.
“As tecnologias usadas hoje para extrair petróleo são as mesmas de 80, 100 anos atrás”, continuou. Sua outra empresa é chamada JMM Tech e oferece soluções tecnológicas para setores como defesa, segurança pública, agronegócio e aeroespacial, segundo o Sistema Mineiro de Inovação.
Machado disse que contratou sete consultores especializados para planejar a participação no leilão e que agora planeja contratar 90 pessoas para iniciar as campanhas exploratórias nas 122 áreas arrematadas, que estão localizadas em Sergipe, no Rio Grande do Norte e no Espírito Santo.
O elevado número de blocos, afirmou, é necessário para que a empresa possa identificar os melhores prospectos para seu objetivo de desenvolver tecnologia. “O momento era agora. E, se o momento é agora, tem que aproveitar agora.”
Machado apresentou ofertas de R$ 51.000 pela maioria das áreas em que tinha interesse e perdeu apenas quatro disputas. “Poderia falar a vocês que fiz um supercálculo e cheguei a 51, mas seria a maior mentira. Peguei o [bônus] mínimo de R$ 50 mil e coloquei mais mil”, contou.
Após o leilão, o diretor-geral da ANP, Rodolfo Saboia, disse que a concentração de blocos na mão de uma empresa não é motivo de preocupação neste momento. “A empresa cumpriu os requisitos de habilitação e depositou as garantias em valor até maior do que gastou”, disse.
Agora, passará por um processo de qualificação técnica e econômica que, segundo Saboia, avaliará sua capacidade de cumprir com os compromissos assumidos.
Em meados dos anos 2000, uma outra estreante no país, a argentina Oil M&S levou a ANP a tentar limitar o número de áreas arrematadas por empresas em leilões, em movimento que levou à única suspensão de rodada de licitações da ANP desde a abertura do setor.
Em 2005, a Oil M&S arrematou sozinha 43 blocos exploratórios, 22 deles na bacia do São Francisco e outros 21 na bacia do Solimões. Eram blocos maiores do que os atuais e em áreas de elevado risco exploratório, o que gerou desconfianças no mercado.
Em 2006, a ANP decidiu limitar o número de áreas e a medida foi usada, pela então deputada federal Clair da Flora Martins (PT/PR) como argumento para derrubar o leilão no meio de seu primeiro dia –quando apenas 58 dos 284 blocos previstos haviam sido ofertados.
A empresa acabou repassando as concessões anos depois e deixando o Brasil. Os novos donos também não conseguiram desenvolver os projetos.
A atuação da novata no certame deste ano foi recebida com preocupação pelo Instituto Arayara, que atua na defesa de fontes de energia com menor impacto socioambiental e climático. A diretora executiva, Nicole Oliveira, chamou a atenção para os riscos de uma empresa desconhecida e de pequeno porte assumir tantas áreas em sua estreia num setor tão complexo.
“A Elysian adquiriu o maior número de blocos, mas não há como garantir se terá uma exploração responsável, como dizem, uma vez que tem um capital social baixo, é uma empresa recém-criada e ainda sem funcionários no Brasil. Qual vai ser a capacidade de ela reparar danos se houver um acidente ambiental?”
NICOLA PAMPLONA E ALEXA SALOMÃO / Folhapress