Brasileiro retoma consumo de cultura após a pandemia, mas desigualdade é barreira

Os brasileiros fizeram mais atividades culturais em 2023 em relação a 2022, com um aumento significativo das experiências presenciais entre esses períodos, consolidando uma retomada dos hábitos pré-pandêmicos, ainda era tímida no ano passado. Apesar disso, a diferença de poder de consumo ainda é decisiva para definir os hábitos culturais.

É o que indica a quarta pesquisa Hábitos Culturais, realizada entre o começo de junho e o começo de julho pelo Itaú Cultural e pelo Datafolha. O levantamento ouviu 2.405 pessoas de 16 a 65 anos em todas as regiões do país, com entrevistas presenciais e telefônicas, entre os dias 1º e 28 de setembro.

De acordo com a pesquisa, 96% dos entrevistados dizem ter realizado alguma atividade cultural em 2023, entre online e presencial. Na mesma amostra, 89% afirmam ter realizado alguma atividade antes deste ano.

Nas classes A e B, todas as pessoas entrevistadas dizem ter realizado alguma atividade cultural nos últimos 12 meses. Enquanto na classe C o patamar é semelhante, com 98%, o número cai para 88% nas classes D e E.

A diferenças entre as classes sociais também estão no que cada grupo consome, como explica Jader Rosa, superintendente do Itaú Cultural. “As classes A e B vão mais para atividades culturais e de esporte, enquanto nas D e E, o consumo maior é de mídia —TV, internet e celular—-, que não exige deslocamento.”

“Precisamos pensar em formas de descentralizar as manifestações, e não concentrar recursos. E precisamos ter políticas públicas para quem está fazendo arte conseguir se manifestar e não depender de catraca, que acaba se revertendo em preços mais elevados e dificultando o acesso das pessoas”, ele afirma.

O consumo de cultura no Brasil acontece principalmente por meio das plataformas de streaming. 82% dos entrevistados ouviram músicas online, preservando o patamar de 2022, de 80%. 74% consumiram séries e filmes pelas plataformas, contra 70% em 2022.

Essas duas porcentagens de 2023 são compostas por valores bastante desproporcionais. Nas classes A e B, 92% consomem música online e 89%, filmes e séries. Nas classes D e E, os números caem para 70% e 45%, respectivamente.

Consolidando a retomada das atividades presenciais, 45% dos entrevistados pela pesquisa frequentaram apresentações de música, dança ou teatro, contra 18% em 2022. Os cinemas, frequentados por apenas 26% das pessoas em 2022, observaram alguma melhora em 2023, com 33% dos entrevistados tendo frequentado o espaço.

Enquanto o consumo de podcasts aumentou de 42%, em 2022, para 48%, o acesso a cursos online despencou nos últimos três anos. Em 2021, 41% das pessoas afirmavam ter acessado algum curso. Em 2022, 28%. Em 2023, apenas 14% consumiram esses conteúdos.

A leitura de livros digitais também aumentou. O consumo foi de 30%, em 2022, a 42%, em 2023 —prática realizada por 62% das pessoas nas classes A e B, mas por apenas 22% delas nas classes D e E.

Questionados sobre o que os leva a ir para as ruas em busca de cultura, 28% dos entrevistados responderam que buscam convivência e interação. Em seguida, buscam distração e lazer, com 23%, e adquirir conhecimento, com 20%.

A pesquisa também investigou o que afasta as pessoas de atividades culturais presenciais. Insegurança e a violência lideram as preocupações, sendo apontadas como motivos por 20% das pessoas. A distância dos eventos e equipamentos culturais (15%), cansaço (9%), superlotação (9%) também estão entre os empecilhos.

E também estão as questões financeiras, que são apontadas como um problema por 19% dos entrevistados. Mas este número sub-representa as dificuldades que pessoas com menor poder aquisitivo enfrentam para consumir cultura, como diz Rosa.

“O consumo também envolve deslocamento, a alimentação, tudo isso acaba refletido no indicador”, diz o superintendente.

Apesar das dificuldades, os gastos das classes D e E com cultura não são baixos. Entrevistados deste extrato gastam, na média, R$ 114 com cultura presencial e R$ 79 com o consumo online. Nas classes A e B, os valores são R$ 170 reais e R$ R$143, respectivamente.

Os principais pontos de consumo de atividades culturais presenciais são as praças, frequentadas por 71% dos entrevistados, os parques, por 63% e os shoppings, por 55%. Os cinemas (42%) quase empatam com as escolas (41%), seguidos dos clubes (34%), teatros (24%), bibliotecas (20%) e museus (19%).

“Essa pesquisa é fundamental porque permite que a gente entenda como é o hábito do brasileiro e quais são suas carências, o que é necessário a gente olhar com mais cuidado”, afirma Rosa.

DIOGO BACHEGA / Folhapress

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