BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Uma troca de mensagens ocorrida no plenário do Senado entre Sergio Moro (União Brasil-PR) e o primeiro suplente de seu mandato, o advogado Luis Felipe Cunha, indica que o ex-procurador e ex-deputado federal Deltan Dallagnol estaria “desesperado”.
O diálogo, captado pela Folha de S.Paulo momentos antes da votação que aprovou nesta quarta-feira (13) o nome de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal, também faz menção a uma estratégia adotada pelo senador.
Não há detalhamento sobre qual seria o desespero do ex-chefe da força-tarefa da Lava Jato nem a estratégia adotada por Moro, ex-juiz da operação.
Pessoas próximas, porém, afirmaram que a reação emocional de Deltan tem a ver com o fato de o ex-juiz da Lava Jato não ter declarado voto contra a indicação do ministro de Lula e que isso sinalizaria, para ele, que Moro votou pela aprovação de Dino –a votação é secreta.
Na troca de mensagens com seu suplente, o senador é questionado pelo suplente se iria “votar contra” –possivelmente em relação à indicação de Dino.
Moro não responde por mensagem, mas os dois trocam uma ligação de áudio de 5 minutos.
Em mensagem com outra pessoa, identificada em seu aparelho de telefone celular como “Mestrão”, ele diz que manterá seu voto secreto, como “instrumento de proteção” –essa mensagem foi revelada pelos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo.
Moro e Deltan foram os protagonistas da Operação Lava Jato, que revirou o mundo político nacional a partir de 2014. Ambos abandonaram o mundo jurídico –Deltan saiu do Ministério Público e Moro, da magistratura– e ingressaram na política, transitando no campo bolsonarista.
Mensagens reveladas pelo site Intercept Brasil e outros veículos e que ficaram conhecidas como “Vaza Jato” mostraram uma relação alinhada entre Deltan e Moro na época da Lava Jato, quando o primeiro chefiava a força-tarefa da operação e o segundo era o juiz responsável pelo caso.
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cassou em maio o mandato de deputado federal de Deltan sob o argumento de que ele não poderia ter deixado a carreira de procurador da República enquanto respondia a sindicâncias, reclamações disciplinares e pedidos de providencias. Em setembro, o ex-procurador trocou o Podemos pelo partido Novo.
Nas mensagens trocadas no plenário do Senado nesta quarta, Luis Felipe manifesta a Moro a suposta reação emocional do aliado, dizendo: “Deltan desesperado”, “me ligou, mandou mensagem e etc.” e “só para seu conhecimento”.
Moro responde dizendo que Deltan também mandou mensagem a ele e pergunta ao advogado o que ele deveria responder ao ex-procurador.
“Amigo, pela estratégia relatada, aparentemente, não há o que ser dito. Eu disse ao Deltan que vc sabe o que faz e que estarei ao seu lado sempre, por lealdade e por saber que você è uma [sic] cara correto”, responde Luis Felipe.
As mensagens foram trocadas pouco após a aprovação do nome de Dino na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, ocasião em que Moro e o ministro de Lula foram fotografados abraçados e sorrindo.
Moro chegou a comentar isso na própria sabatina, reclamando de críticas que recebeu em redes sociais.
“Vossa excelência perguntou algo e eu achei graça e dei uma risada. Tiraram várias fotos e já viralizaram, como se isso representasse minha posição”, disse Moro, acrescentando que ambos já foram juízes federais.
“Já deixei muito claro que tenho profundas diferenças com o atual governo, e vossa excelência faz parte do atual governo, mas não perderei a civilidade e acho que esse país precisa disso para diminuir a polarização”, completou, sem dizer se votaria contra ou a favor da indicação do ministro.
Moro afirmou, via assessoria, que não se manifestará sobre as mensagens relativas a Deltan.
Quanto a mensagens em que ele discute com outra pessoa sobre a reação nas redes sociais de suas fotos sorrindo ao lado de Dino, a assessoria do senador divulgou uma nota.
“A pessoa em questão, sem ter informação do voto do senador Sergio Moro, fez a sugestão somente porque distorceram o posicionamento do parlamentar nas redes após cumprimento ao ministro Dino. Em resposta, o senador disse que iria manter o sigilo do voto, que é um instrumento de proteção contra retaliação.”
A reportagem encaminhou perguntas ao advogado Luis Felipe Cunha, mas não obteve resposta.
A reportagem não conseguiu falar com Deltan.
Pessoas próximas ao ex-procurador, entretanto, lembraram que ele estava havia semanas fazendo campanha contra Dino nas redes sociais, com pressão sobre os senadores para que abrissem o voto contra o ministro de Lula.
Diante disso, dizem, Deltan acreditava que Moro não só iria votar contra Dino como abriria o voto publicamente.
O “desespero” teria ocorrido quando surgiram as fotos de Moro sorridente ao lado de Dino e quando o ex-juiz se recusou a dizer como votaria.
Com isso, relatam, Deltan ficou frustrado e decepcionado porque considera Dino no STF como “a maior irresponsabilidade” que o Senado cometeu na história. Além disso, as pessoas próximas afirmam que o ex-procurador passou a ter a impressão de que Moro votou a favor da indicação de Dino.
GABRIELA BILÓ E RANIER BRAGON / Folhapress