NBA se une a ONG e inaugura quadra em SP: ‘Mexe com autoestima da favela’

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A NBA Brasil e a ONG Gerando Falcões trabalharam em conjunto para levar à Favela dos Sonhos uma quadra de basquete com chancela da principal liga do planeta.

O espaço foi inaugurado em Ferraz de Vasconcelos, em São Paulo. Cerca de 50 crianças da Gerando Falcões conheceram a quadra. Os jovens acompanharam a inauguração de perto e depois praticaram fundamentos do basquete, com acompanhamento de professores.

O espaço será livre para uso dos moradores da Favela dos Sonhos, e gerido pelos próprios. Professores capacitados com a metodologia Jr. NBA para dar aulas duas vezes por semana. O projeto pretende atingir 80 crianças da comunidade.

O design do espaço foi produzido com contribuição de crianças da Gerando Falcões. Jovens da Favela dos Sonhos desenharam sua quadra dos sonhos, e os artistas Cainã e Gelin organizaram as ideias, culminando na pintura que se vê nesta sexta-feira (15).

“A gente tem como princípio lá fazer uma coisa de baixo para cima e de dentro para fora. É um favelado cocriando a solução, no centro, participando das decisões. Então, essa quadra também tem esse espírito da cocriação, de atender a uma demanda e uma vontade, um anseio da própria favela”, diz Edu Lyra, CEO da ONG Gerando Falcões, em entrevista ao UOL.

O evento contou com participação de Rodrigo Vicentini —CEO da NBA Brasil—, representantes da Gerando Falcões, Priscila Gambale —prefeita de Ferraz de Vasconcelos— e personalidades do basquete brasileiro, como os ex-atletas e nesta sexta-feira (15) comentaristas da ESPN Guilherme Giovannoni e Helen Luz.

A quadra é a terceira inaugurada pela NBA no Brasil. Além da cidade na região metropolitana de São Paulo, a liga criou espaços no Parque Villa Lobos, na capital paulista, e na comunidade de Vergel do Lago, em Maceió.

A ESCOLHA POR FERRAZ

A Favela dos Sonhos foi escolhida para receber a quadra devido à sua participação no projeto ‘Favela 3D’. O programa promove ação conjunta de lideranças para transformar as regiões em dignas, digitais e desenvolvidas. As favelas Marte (São José do Rio Preto), Vergel do Lago (Maceió), Morro da Providência (Rio de Janeiro) e Haiti (São Paulo) também integram o conjunto.

O CEO da NBA Rodrigo Vicentini e Edu Lyra, CEO da Gerando Falcões, concederam entrevista exclusiva ao UOL Esporte e falaram sobre o projeto.

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CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA COM RODRIGO VICENTINI E EDU LYRA

PERGUNTA – Como começou a parceria entre NBA e Gerando Falcões?

RODRIGO VICENTINI, CEO DA NBA BRASIL: A gente tem sonhos muito similares. Sabemos do nosso lado, como NBA, o poder da bola laranja, né? Quando eu conheci o Edu, acho que os dois têm um perfil muito legal de um provocar o outro. E ele consegue transformar sonhos dessa galera em realidade. Uma das iniciativas que a gente tem nessa parceria há quase dois anos, que foi a provocação do Edu e de nós: como é que a gente consegue entrar no coração da favela ali e transformar vidas? E você não transforma a vida sem ter esse sonho.

P – Qual é a importância de uma parceria com uma marca global como a NBA?

EDU LYRA, CEO E FUNDADOR DA ONG GERANDO FALCÕES: É, acho que é mais do que a Gerando Falcões, é a favela brasileira trabalhando em colaboração com uma marca global, que é a NBA. Estive recentemente nos Estados Unidos, assisti a um jogo de basquete e aquilo mexe com toda uma sociedade. E as favelas no Brasil, elas vivem um processo muito grande de desvalorização, de ser associada, infelizmente, à droga, à violência, e a favela brasileira não é isso. O problema não é a favela, o problema é a pobreza. E alianças como essa da gente existe para vencer a pobreza, para ter uma agenda positiva de superação da desigualdade. Quando você leva também a NBA para dentro das favelas, junto com a Gerando Falcões, mexe com a autoestima da favela, com o senso de pertencimento, com o orgulho de morar ali, e aí tudo que o esporte pode trazer como basquete de aprendizado, de colaboração, de trabalho em grupo, de vontade de superar, de competitividade, de futuro, de estar longe das drogas, de ver isso eventualmente como um sonho também, como uma profissão, como uma carreira, não só nas quadras, mas por trás também das quadras.

P – Como é feita a escolha da região que vai ter uma quadra padrão NBA?

EDU LYRA: A gente iniciou trabalhando com as quadras, e o que a gente propôs ao time da NBA, foi fazer nas Favelas 3D, que é um projeto muito ambicioso para a superação da pobreza nossa, que significa digital, digna e desenvolvida. Dentro dessa vertical, ali adentro dessa intervenção sistêmica que a gente faz dentro da favela, esporte é uma linha de atuação. E o esporte também sob um ponto de vista de convivência, que traz as pessoas para conviver, que levar os jovens para a quadra, os adolescentes para a quadra, e com isso os pais saem dentro de casa e vão também assistir ao jogo. Lá eles fazem amizade, eles trocam, eles convivem, e a gente acaba fortalecendo ainda mais o senso de comunidade.

RODRIGO VICENTINI: Do nosso lado, acho que um dos grandes ganhos que a gente tem com essa parceria é confiar na expertise da Gerando Falcões. Nas primeiras conversas que a gente teve, a gente falou: ‘EDU, preciso que você me ajude, a gente de mão dada andar aqui pelo Brasil afora, entender onde que a gente deve entrar, ou em que momento, e por aí vai’. Conto muito na expertise deles, que realmente assim: ‘Olha, RODRIGO, agora chegou a hora de você entrar nessa daqui.’ Nesse ponto, acho que é muito mais na liderança do EDU e do time dele, para mostrar os caminhos, para a gente poder colaborar com as quadras.

P – Qual a sensação de entregar mais um projeto?

RODRIGO VICENTINI: A gente sabe da responsabilidade que tem em fazer isso. Ao mesmo tempo, projetos como esses lavam a alma. Uma coisa que a gente sabe é que daqui a alguns anos podemos transformar a vida de uma pessoa, mas não é uma pessoa que vai ser impactada, é todo o entorno que ela tem. Acreditamos muito nisso. Eu não sei se vai sair um novo jogador de basquete ali, a gente nem tem essa expectativa. A expectativa é poder transformar.

EDU LYRA: Parte do meu trabalho é derrubar muros e construir pontes. Então, construir uma ponte entre a favela e uma marca global é um dos meus maiores sonhos sendo realizado. Sou um moleque de favela que cresceu em um barraco e que nunca teve uma quadra meramente funcional, quem dirá da NBA. Então, nesta sexta-feira (15) poder ter uma colaboração, uma parceria que leva um serviço desse, um produto desse, é uma tecnologia de ponta na ponta da favela.

P – Qual o impacto que vocês esperam que aconteça em uma comunidade?

RODRIGO VICENTINI: A gente está falando de gerar emprego, a gente está falando de capacitar a professora de educação física, a gente está falando de dar aula pra molecada, pra molecada praticar esporte, ou seja, tem o outro lado fora o cimento, vamos dizer assim, que pra mim é mais importante, mais relevante. Então a minha expectativa é daqui a poucos meses voltar lá com o EDU e ver um rachão pegando fogo e a molecada praticando esporte. Resumindo isso tudo, acho que se a gente conseguir transformar algumas vidas ali, o objetivo já está cumprido.

EDU LYRA: Esporte salva. A gente quer que o máximo de jovens sejam salvos também pelo esporte. É isso que a gente quer.

EDU, para você, como é que é ver acontecer um projeto assim em Ferraz de Vasconcelos?

EDU LYRA: Têm duas formas de você escalar impacto. Uma, através de política pública. Tem que ter boas políticas públicas. A segunda é através de negócios. É o que escalar impacto por meio de parcerias e colaboração com o negócio. Você pensa negócio e descobre formas de ser sustentável. Ferraz é uma das cidades mais pobres da região metropolitana de São Paulo. Eu vou levar uma palavra para um deles. Tem uma agenda muito forte de criação de valor. De levar o melhor pra quem é pobre. Qual que é o problema no Brasil? A gente está falando de política pública e negócio. É comum no Brasil você entregar coisa ruim para quem é pobre. Essa quadra que a gente fez ali, possivelmente, um colégio particular não tem igual pra ele. Você muda a lógica do pensamento sobre pobre no Brasil. E aquela pessoa nesta sexta-feira (15) é pobre exatamente porque ela recebeu o pior. Não teve creche, não teve uma boa alimentação. Essa máxima é péssima. Então, quando você entrega um melhor, melhor quadro, de um melhor professor, mais um formato, você vai mudando uma lógica.

P – Vocês podem falar um pouquinho desse acompanhamento, como ele vai ser feito?

RODRIGO VICENTINI: Na parte do jogo em si, a gente tem a capacitação de professor de educação física da comunidade. Essa é a parte importante. Não é que a gente vai trazer alguém de fora. Ou seja, gera emprego. E a gente vai ter duas vezes por semana aula de basquete ali para 80 crianças nesse primeiro momento. São aulas gratuitas. E a partir dali a gente começa a desenhar agendas de rachões as primeiras semanas.

PATRICK MESQUITA E ARTHUR MACEDO / Folhapress

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