SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A segunda fase da Fuvest, vestibular da USP (Universidade de São Paulo), ocorre no domingo (17) e na segunda (18). No primeiro dia, mais de 30 mil candidatos devem desenvolver uma redação e responder a dez questões de língua portuguesa.
Tais perguntas devem cobrar conhecimento das leituras obrigatórios. Mas não é só o repertório literário que deve ser cobrado a banca da Fuvest é conhecida por mesclar interpretação de texto ao contexto histórico dos livros.
Saiba quando e onde algumas das narrativas da lista de livros de 2024 são desenvolvidas.
*
INCONFIDÊNCIA MINEIRA
“Marília de Dirceu”, de Tomás António Gonzaga, e “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles
No século 18, a capitania de Minas Gerais era a joia do Brasil colônia. De lá, eram extraídos quilos de ouro e diamante. A maioria era enviada para enriquecer o Reino de Portugal. Porém, a população mineira também se favorecia.
Sabendo disso, o Marquês de Pombal, chefe do governo lusitano no reinado de dom José 1º (1970-1977), ordenou o aumento de impostos na região. A iniciativa desagradou às elites da capitania, que começaram a inflar uma revolta separatista.
O movimento começaria em Vila Rica hoje Ouro Preto, a cidade mineira mais rica na época. Depois, os inconfidentes aspiravam conquistar o estado e declarar seu divórcio do império. Não rolou. A administração da colônia descobriu o plano, prendeu membros da revolta e matou seu expoente, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
APOGEU E DECADÊNCIA DO REINO DE PORTUGAL
“Mensagem”, de Fernando Pessoa
Lisboa tornou-se a capital do mundo após as conquistas além-mar de Portugal iniciadas em 1415. Ali, nascia um império ávido por terras e riquezas. A exploração de territórios, especialmente na África e na América, culminou em prosperidade por mais de 100 anos.
Tudo mudou em 1580. O rei dom Sebastião desapareceu durante a batalha de Alcácer-Quibir, ante o Reino do Marrocos, e uma crise na sucessão foi iniciada. Sem herdeiros, o trono passou a seu tio-avô padre. Este morreu em poucos anos, e a coroa passou para o parente mais próximo, e poderoso: Filipe de Habsburgo, majestade da Espanha.
Era o início da União Ibérica, período traumático para o povo português, que rezava pela volta de Sebastião para salvar o espírito lusitano. A esperança virou até termo: sebastianismo a crença em um messias.
A chamada dinastia filipina acabou em 1640, com a chegada da Casa de Bragança ao trono português após guerra civil. Mais dois séculos de conquistas e crescente nacionalismo.
Nova crise surgiu com a Independência do Brasil, em 1822. Ao perder sua principal fonte de renda, os lusíadas visaram expandir sua influência na África, mas foram barrados pelo Reino Unido. Isso levou ao colapso da monarquia e à instauração da República Portuguesa em 1910.
O contexto inspirou a narrativa épica de “Mensagem”, obra em poemas de Fernando Pessoa.
GUERRA PELA INDEPENDÊNCIA DE MOÇAMBIQUE
“Nós matamos o cão tinhoso”, de Luís Bernardo Honwana
Moçambique era colônia portuguesa desde 1498, e a segregação racial sempre foi a marca do regime. Isso, no entanto, piorou quando o ditador António Salazar assumiu o país europeu, a partir de 1933. Negros eram impedidos de ascender socialmente.
A insatisfação moçambicana crescia. Greves eram organizadas. Escritores e artistas transmitiam a expectativa de liberdade da população. Em 1960, Portugal tenta reprimir ainda mais os africanos. Foi o estopim para a criação da Frente de Libertação de Moçambique.
O grupo armado começou a avançar pelo país em 1964. O plano era conquistar províncias, as transformando em regiões independentes. Depois, chegar a uma das sedes do poder. Isso ocorreu em setembro daquele ano, quando foi iniciado um conflito que duraria uma década.
Em setembro de 1974, foram assinados os acordos de Lusaka, encerrando o conflito armado entre colonizadores e colonizados. Em 25 de junho de 1975, foi declarada oficialmente a independência de Moçambique, e lá iniciado um estado marxista pelo líder separatista Samora Machel.
O processo de independência do país africano é retratado na obra “Nós matamos o cão tinhoso”, de Luís Bernardo Honwana.
*
QUAIS SÃO OS LIVROS DE 2024
– Marília de Dirceu – Tomás Antônio Gonzaga
– Quincas Borba – Machado de Assis
– Angústia – Graciliano Ramos
– Alguma Poesia – Carlos Drummond de Andrade
– Mensagem – Fernando Pessoa
– Nós matamos o cão tinhoso! – Luís Bernardo Honwana
– Campo Geral – Guimarães Rosa
– Romanceiro da Inconfidência – Cecília Meireles
– Dois irmãos – Milton Hatoum
BRUNO LUCCA / Folhapress