Os Satyros encerram peça ‘Bruxas de Salém’ após perda dos direitos autorais

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A premiada montagem de Os Satyros para “As Bruxas de Salém”, texto clássico do dramaturgo americano Arthur Miller, saiu de cartaz porque a companhia perdeu os direitos de encenar a peça. Fundadores da companhia, Ivam Cabral e Rodolfo García-Vázquez se disseram surpresos quando, tentando estender a temporada, foram informados de que não seria possível, dado que outro produtor havia comprado os direitos com exclusividade.

O outro produtor se chama Marcel Giubilei. Procurado, ele informou à reportagem que não poderia conceder entrevistas nos próximos dias. “É uma situação que frustra toda a companhia”, diz García-Vázquez. “É muito triste gente de teatro brigar, não queremos isso, mas fomos totalmente eliminados do processo.”

Para montar “As Bruxas de Salém”, os fundadores dos Satyros iniciaram um processo, em maio, na Associação Brasileira de Música e Artes, a Abramus, como é praxe no meio teatral, desde a derrocada, nos anos 1990, da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. A Abramus faz a intermediação entre os produtores artísticos e os detentores dos direitos.

Pagando US$ 1.500 mais um percentual de 10% da bilheteria, a companhia paulistana conseguiu a liberação por seis meses e estreou a peça em junho deste ano. “Levantar essa grana já foi um esforço imenso”, lembra Cabral. Com o sucesso de público, a pequena sala de espetáculos na Praça Franklin Roosevelt, no centro de São Paulo, com capacidade de 60 pessoas, esteve lotada durante todo esse tempo.

A montagem também recebeu uma indicação para o prêmio APCA, na categoria de melhor direção teatral, e ganhou o prêmio Deus Ateu, nas categorias de melhor espetáculo e melhor intérprete, com o ator Henrique Mello.

Com tanta repercussão, a dupla que fundou a companhia iniciou, em agosto, as tratativas junto a Abramus para estender a cessão dos direitos autorais por mais um ano. Naquela ocasião, eles apenas foram informados de que a liberação ocorreria com um novo adiantamento de US$ 1.500.

Perto da expiração do contrato, no mês passado, os diretores da companhia voltaram a insistir junto a Abramus, mas foram informados de que, nesse ínterim até a renovação, Giubilei havia comprado, com exclusividade, os direitos da peça. García-Vázquez entrou em contato, então, com Giubilei, pedindo autorização para continuar a própria montagem, em paralelo. Numa troca de emails, o produtor, no entanto, negou o pedido.

“Infelizmente a tratativa com o escritório de NYC [Nova York] foi por exclusividade por causa dos patrocínios que serão aportados para o projeto. Mesmo que, para nós, não seja um problema cedermos os direitos, contratualmente estamos amarrados com estas empresas”, escreveu o produtor.

Cabral diz agora que existe nessa atitude uma infração ética, não sendo razoável a comparação entre as duas montagens. Não há patrocinadores na peça dos Satyros.

“Ele meio que deu uma voadora na gente”, afirma Cabral. A última sessão de “As Bruxas de Salém” ocorreu na quinta-feira passada. O texto de Miller conta a história de uma onda de histeria que acometeu a comunidade de Salém, em Massachusetts, nos Estados Unidos.

Um grupo de meninas acusa várias mulheres de bruxaria. Os Satyros propõem uma releitura da peça, fazendo comparações com o momento político do Brasil.

A companhia Os Satyros, fundada em 1989, é uma das mais importantes de São Paulo. No total, o grupo já encenou mais de cem espetáculos, se apresentaram em 20 países e receberam 53 prêmios, incluindo o Shell e o Mambembe. Entre suas montagens, estão “Saló, Salomé”, de 1991, e “Joana Evangelista”, de 2006.

GUSTAVO ZEITEL / Folhapress

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