Cúpula da Câmara indica a Lula insatisfação com Padilha e quer Planalto menos petista

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Na reta final do ano Legislativo, a cúpula da Câmara dos Deputados fez chegar ao presidente Lula (PT) uma grande insatisfação sobre a atuação do ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), responsável pela articulação política do Palácio do Planalto no Congresso Nacional.

A articulação do Executivo na Câmara e no Senado tem sido alvo frequente de queixas dos parlamentares desde o início do mandato do petista, em especial daqueles que integram o centrão.

Líderes desses partidos dizem que se Lula quiser azeitar sua base de apoio no Congresso para 2024, será necessário fazer trocas no governo.

Já do lado petista na Câmara, o discurso de bastidores é que boa parte das insatisfações decorre do fato de o centrão ter perdido a gerência exclusiva da distribuição de emendas e verbas que tinha sob Jair Bolsonaro (PL).

Apesar de trocas na Esplanada que garantiram a entrada de representantes do centrão no governo, o Executivo ainda não tem uma base de apoio sólida.

Segundo relatos, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), levou essa reclamação sobre Padilha ao próprio Lula em encontro recente com o petista.

A insatisfação gira em torno, principalmente, de falta de traquejo nas negociações políticas e do não cumprimento de acordos que teriam sido firmados. A atuação de Padilha na negociação da reforma ministerial, que se arrastou de julho a setembro, também foi bastante criticada por parlamentares.

Segundo eles, essa não é uma avaliação isolada de Lira. Também há críticas à atuação dos líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).

Há entre os partidos de centro e de direita um discurso agora que nem mesmo a substituição de Padilha por Guimarães, como chegou a ser cogitado, resolveria o problema.

Segundo parlamentares, apesar de Guimarães ter conseguido firmar uma relação mais próxima a Lira, sua ida para o ministério representaria a continuidade da equipe de articulação política atual.

Ou seja, seria preciso escolher um nome fora do PT, mesmo que seja de outro partido de esquerda, como PSB, PV e PC do B.

A resolução do diretório nacional do PT com críticas ao centrão e declarações recentes da presidente da legenda, Gleisi Hoffmann (PR), também azedaram a relação da Câmara com integrantes do partido.

Há uma crítica de que o núcleo político do Executivo é formado somente por petistas, o que acaba prejudicando o diálogo no Congresso: Padilha nas Relações Institucionais, Paulo Pimenta, na Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), e Rui Costa, na Casa Civil.

Nas palavras de um parlamentar, o governo “está órfão” de articuladores no Congresso. Ele diz que isso se reflete no dia a dia, com o Planalto sofrendo derrotas em algumas pautas e com a demora de levar à votação temas caros ao Executivo, caso das matérias da pauta econômica de Fernando Haddad (Fazenda).

Mais recentemente, com a demora para fechar acordos sobre os vetos presidenciais, o governo acabou sendo derrotado em sessão do Congresso em alguns pontos.

Ainda de acordo com relatos, Lira afirmou a Lula que a insatisfação com Padilha é crescente, mas ainda não está num ponto em que deputados irão deixar de votar qualquer matéria enquanto ele não for substituído —mas que esse cenário não será descartado caso não sejam feitas mudanças.

A interlocutores Lira tem demonstrado também insatisfações com a demora da oficialização das trocas das vice-presidências da Caixa Econômica Federal. Em entrevista à Folha, em setembro, ele afirmou que as indicações políticas para as 12 vice-presidências do banco passariam por ele.

No dia 3 de novembro, Lula nomeou oficialmente o economista Carlos Antônio Vieira Fernandes, indicado de Lira, como o novo presidente do banco.

Rui Costa foi bastante criticado por líderes da Câmara ao longo do primeiro semestre. Um cardeal da Casa, porém, diz que apesar do jeito duro e da falta de diálogo com parlamentares, quando o chefe da Casa Civil firma um acordo, ele acaba sendo cumprido.

Apesar das queixas, há uma avaliação de que o governo teve êxito na pauta econômica neste ano, com a aprovação da reforma tributária e de medidas que irão elevar a receita no próximo ano. Eles elogiam também Haddad.

Nesta quarta-feira (20), Lula fez uma fala durante reunião com ministros de seu governo elogiando os articuladores do Planalto no Congresso e tratando das negociações políticas que tiveram êxito neste ano—ele não citou Padilha nominalmente.

Líderes mais alinhados ao governo Lula reclamam da pressão exercida por representantes do centrão e dizem que não é consenso que o petista deve trocar seus articuladores políticos —eles reforçam que a escolha de quem integra ou não o Executivo é uma prerrogativa do presidente.

Um deles diz ainda que é preciso que esses parlamentares decidam se estão ou não no governo, uma vez que seus partidos estão contemplados na Esplanada.

No PT, há parlamentares que concordam que há problemas em ministérios como Saúde e Educação, que estariam impondo dificuldades ao cumprimento dos acertos feitos entre a articulação política do Planalto e o Congresso.

Mas dizem que o centrão vem esticando a corda porque quer buscar um cenário que, para eles, é impossível de se concretizar: um governo Lula sem a participação do PT na articulação política.

O discurso é o de que o governo vem entregando muita coisa a esses parlamentares —as emendas feitas pelos congressistas ao Orçamento, por exemplo, ficarão em mais de R$ 50 bilhões no ano que vem, valor bem próximo do que o Executivo tem para investir livremente, R$ 70 bilhões.

Além disso, dizem que o centrão quer, em suma, voltar ao modelo Bolsonaro, quando o então presidente entregou a Lira e a seus aliados praticamente toda a gerência direta da distribuição de cargos federais e das emendas parlamentares.

A Folha procurou a Secretaria de Relações Institucionais no fim da manhã desta quarta, mas não houve manifestação.

Em entrevista à GloboNews, na última segunda-feira (18), Padilha negou crises com Lira e com partidos no Congresso, destacou a agenda econômica aprovada e disse que o Executivo, sob Lula, tem abandonado um “presidencialismo de delegação” para voltar ao “presidencialismo de coalizão”.

Esse, inclusive, foi o mote da apresentação que Padilha fez na reunião ministerial desta quarta-feira.

O centrão, em sua configuração atual, engloba PP, Republicanos e o PL de Bolsonaro. O grupo foi o sustentáculo legislativo do ex-presidente, com Lira à frente.

Lula derrotou Bolsonaro, mas, ao mesmo tempo, a esquerda conseguiu conquistar em 2022 apenas cerca de 130 das 513 cadeiras da Câmara.

Apesar de aliado a Bolsonaro, Lira foi uma das primeiras autoridades a parabenizar publicamente Lula. Em vez de comprar uma briga com alta chance de derrota, o petista então entabulou um acerto inicial com Lira e apoiou a sua reeleição ao comando da Câmara.

Ainda na transição, Lula distribuiu nove ministérios para obter o apoio de três partidos de centro e de direita que não pertencem ao centrão, o PSD, o MDB e a União Brasil. Em setembro, atraiu duas siglas do centrão, o PP de Lira e o Republicanos, com mais dois ministérios.

VICTORIA AZEVEDO, THIAGO RESENDE E RANIER BRAGON / Folhapress

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