SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um ataque a tiros em uma universidade na região central de Praga, capital da República Tcheca, deixou ao menos 15 mortos, incluindo o atirador, nesta quinta-feira (21). Outras 25 pessoas ficaram feridas, e dez delas estão em estado grave.
Trata-se do ataque a tiros com o maior número de mortos pelo menos desde que o país da Europa Central se tornou independente em 1993. O atirador tinha 24 anos e era aluno do curso de artes da Universidade Charles, informou a polícia. Pouco antes de realizar o ataque na instituição de ensino, ele teria também matado seu pai, em casa.
Não há detalhes sobre a motivação do crime e, em um país no qual ataques a tiros semelhantes a esse são incomuns, a polícia afirmou em seus comentários iniciais que acredita que o autor do atentado tenha se inspirado em massacres semelhantes ocorridos em outras nações. A hipótese de terrorismo foi prontamente descartada pelos agentes.
Martin Vondrasek, chefe da polícia local, disse que informações iniciais de redes sociais mostram que ele pode ter se inspirado em um ataque similar na Rússia no início de outubro. O atirador, afirmou o policial, possui diversas armas de fogo obtidas de maneira legal.
A polícia não mencionou qual seria o episódio em território russo. Nos últimos meses, a Rússia assistiu a mais de um ataque a tiros em ambiente escolar. No final de setembro, por exemplo, um atirador que vestia camiseta com o símbolo nazista da suástica matou 15 pessoas, sendo 11 crianças, antes de se suicidar.
O ataque na Universidade Charles nesta quinta-feira ocorreu pouco depois das 15h no horário local (11h em Brasília), e o atirador teria se posicionado inicialmente no quarto andar, apoiado no parapeito. A praça de Jan Palach, no coração histórico de Praga e onde fica a instituição, foi isolada pela polícia.
Os agentes disseram que o atirador morava em uma aldeia a cerca de 21 quilômetros da capital, na região de Kladno, e que o pai dele foi encontrado morto horas antes do atentado, dando a entender que o filho também teria assassinado o pai. A polícia ainda apura se o atirador se suicidou ou morreu após um disparo de um dos agentes.
A polícia apura ainda a possibilidade de o atirador ser responsável por outras duas mortes, na semana passada, na floresta Klanovicky, perto de Praga. As vítimas teriam sido escolhidas de maneira aleatória. O governo também relatou que “uma grande quantidade” de armas do atirador foi encontrada na universidade.
O presidente tcheco, Petr Pavel, disse estar chocado com o caso e manifestou solidariedade às famílias das vítimas. O ex-general foi eleito no início deste ano com um discurso voltado à política externa, notadamente à ajuda fornecida à Ucrânia em guerra, e o ataque desta quinta-feira se desenha como um dos grandes desafios que enfrentará.
Falando poucas horas após o episódio, o ministro do Interior Vít Rakuan chamou o ataque de “um ato insano sem precedentes na história do país”. “É uma tragédia que certamente terá muitas consequências para o ambiente universitário, para parentes e amigos das vítimas.”
No final do dia, o premiê tcheco, Petr Fiala, anunciou que o próximo sábado (23) será um dia de luto nacional em homenagem às vítimas.
Durante o atentado, um email enviado a funcionários e alunos da Faculdade de Letras da Universidade Charles obtido pela agência de notícias Reuters informava que um atirador estava em um dos edifícios da instituição e que as pessoas deveriam permanecer quietas. “Não vão a lugar nenhum. Tranquem-se e coloquem móveis em frente à porta. Desliguem as luzes”, orientava a mensagem.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram várias pessoas correndo em uma ponte turística de Praga. Em outra gravação, dezenas de viaturas estão no centro da capital tcheca, e barulhos que parecem ser de tiros podem ser ouvidos. Uma fotografia mostra um grupo que seria de estudantes escondidos em um parapeito de um prédio. As imagens não puderam ser comprovadas de maneira independente.
Segundo a rede BBC, o atirador tinha perfil de estudante participativo na universidade. Ele participaria de uma palestra em um dos edifícios da instituição horas antes do ataque.
O atentado desta quinta-feira é o mais letal desde a independência tcheca, há 30 anos. O ataque com arma de fogo mais recente ocorreu em dezembro de 2019, num hospital em Ostrava, quando um homem abriu fogo na sala de espera de uma clínica de trauma e matou quatro homens e duas mulheres, antes de se suicidar.
Em fevereiro de 2015, um homem local abriu fogo num restaurante na cidade oriental de Uhersky Brod. Oito pessoas morreram no ataque.
Mas, ainda que os ataques a tiros sejam pouco comuns, a caça com armas de fogo é habitual. Também por isso, Praga tentou, em vão, derrubar a proibição estabelecida pela União Europeia de fuzis automáticos para uso privado.
A medida foi colocada em prática pelo bloco europeu, do qual a República Tcheca faz parte, após ataques terroristas de grupos radicais islâmicos em 2015. Na ocasião, o país argumentou que as regras eram restritivas de maneira indevida até contra quem possui armas de fogo e cumpre a lei, como os caçadores, e por isso apresentou um recurso ao Tribunal de Justiça da UE, que foi negado em 2019.
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RELEMBRE OUTROS ATAQUES A TIROS NA EUROPA EM 2023
Alemanha, 9 de março
Atirador mata oito pessoas em Hamburgo durante reunião em centro das Testemunhas de Jeová;
Sérvia, 3 e 4 de maio
Homem mata oito pessoas em vilarejos nos arredores da capital, Belgrado, um dia após adolescente abrir fogo em escola da capital e matar nove;
Rússia, 26 de setembro
Atirador vestindo camiseta com suástica mata 15, sendo 11 crianças, antes de se suicidar em uma escola de Ijevsk;
Rússia, 7 de dezembro
Adolescente mata colega de classe e fere outras cinco pessoas antes de se matar em escola de Briansk.
Redação / Folhapress