Mercado de trabalho deve pisar no freio em 2024, após reação em 2023

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| Foto: Reprodução

O mercado de trabalho brasileiro deve perder ritmo em 2024, após o desempenho aquecido de indicadores de emprego e renda em 2023, dizem analistas. A perspectiva, segundo eles, está associada à previsão de crescimento mais baixo da atividade econômica no próximo ano.

As projeções do mercado financeiro indicam que o PIB (Produto Interno Bruto) do país deve fechar 2023 com crescimento próximo a 3%, acima do esperado inicialmente.

Para 2024, as estimativas sinalizam que o avanço deve desacelerar para perto de 1,5%, sob efeito defasado dos juros altos e do estímulo menor da agropecuária, motor da atividade econômica no começo deste ano.

“No ano que vem, a tendência é de um mercado de trabalho andando mais de lado, em um ritmo mais fraco”, diz o economista Rodolpho Tobler, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

“A atividade econômica não vai ter um supercrescimento. Isso não deve gerar uma criação de vagas tão grande assim”, acrescenta.

De acordo com Tobler, a taxa de desemprego do Brasil deve fechar o quarto trimestre de 2023 abaixo de 8% e tende a subir para a faixa entre 8% e 8,5% ao final do próximo ano.

“Não é uma taxa extremamente baixa, mas ficar abaixo de dois dígitos no Brasil já é algo que pode ser comemorado, levando em conta o passado recente”, afirma.

A desocupação recuou a 7,6% no trimestre até outubro deste ano, o mais recente com dados disponíveis da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Com o resultado, a taxa ficou 0,7 ponto percentual abaixo de igual intervalo de 2022 (8,3%). A marca de 7,6% é a menor para o trimestre até outubro desde 2014 (6,7%).

De acordo com dados do IBGE, a queda do desemprego foi puxada pelo aumento da população ocupada com algum tipo de trabalho. Nos três meses encerrados em outubro, esse contingente chegou ao patamar recorde de 100,2 milhões de pessoas.

Foi a primeira vez que o número de ocupados ultrapassou os 100 milhões na série histórica da Pnad, iniciada em 2012. O resultado, contudo, ainda está sujeito a uma revisão, já que a amostra populacional da pesquisa deve ser atualizada a partir das estatísticas levantadas pelo Censo Demográfico de 2022.

“O mercado de trabalho continuará evoluindo em 2024, mas de uma forma mais lenta”, afirma o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

De acordo com Imaizumi, a taxa de desemprego deve fechar o quarto trimestre de 2023 em 7,2% e tende a ficar em 8,5% até o final de 2024. O aumento, contudo, não deve significar um horizonte negativo para o mercado de trabalho, pondera o economista.

Na visão dele, a expectativa é de que mais brasileiros que hoje estão afastados da força de trabalho voltem a buscar emprego no próximo ano, o que pressionaria a taxa de desocupação.

Isso pode ocorrer porque a população considerada desempregada pelas estatísticas oficiais reúne pessoas de 14 anos ou mais que estão sem trabalho e que procuram oportunidades.

Quem não busca vagas, mesmo sem ter um emprego, não faz parte desse contingente. A população desempregada recuou a 8,3 milhões no trimestre até outubro deste ano, conforme dados do IBGE.

A taxa de participação, por sua vez, foi de 61,9% no mesmo intervalo. Assim, ficou 0,7 ponto percentual abaixo do trimestre finalizado em outubro de 2022 (62,6%).

Essa taxa mede o percentual de pessoas em idade de trabalhar (14 anos ou mais) que estão inseridas na força de trabalho como ocupadas ou à procura de oportunidades (desempregadas).

O dado mais recente (61,9%) continua em patamar inferior ao do pré-pandemia. No trimestre até outubro de 2019, antes da crise sanitária, o percentual era de 63,8%.

A menor participação após a pandemia, dizem analistas, não é exclusividade do Brasil e também é vista em outros países. “A gente espera um retorno parcial da taxa de participação. De alguma maneira, pode elevar um pouco a taxa de desemprego”, aponta Imaizumi.

RENDA

Ao longo de 2023, outro dado que chamou atenção foi o aumento da renda média do trabalho da população ocupada no país.

No trimestre até outubro, o rendimento real habitual foi estimado pelo IBGE em R$ 2.999 por mês. A quantia representa uma alta de 3,9% ante o mesmo período de 2022 (R$ 2.888).

“Para a renda, é o mesmo cenário da ocupação. Vai continuar positivo, mas mais comedido”, prevê Imaizumi.

A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, também avalia que a população ocupada com trabalho deve seguir em expansão em 2024, ainda que em ritmo menor. “Faz sentido pensar em uma taxa de crescimento mais lenta, porque a gente não vai crescer tanto.”

Segundo Moreno, o mercado de trabalho em 2023 pegou embalo no desempenho acima do esperado da atividade econômica.

Apesar da perspectiva de desaceleração do PIB no próximo ano, ela descarta um aumento significativo da taxa de desemprego.

Conforme Moreno, a desocupação, que marcou 7,6% até outubro, deve diminuir para 7,3% até dezembro deste ano e ficar em 7,5% no quarto trimestre de 2024.

O economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, afirma que o cenário para o mercado de trabalho no próximo ano ainda pode ser considerado positivo, mesmo com a perspectiva de desaceleração da atividade econômica.

“O mercado de trabalho deve perder um pouco de força, assim como a atividade.”

Mercadante prevê que a taxa de desemprego atingirá 7,4% no quarto trimestre de 2023 e que o indicador subirá a 8,9% em igual período de 2024.

“Dá para entender o mercado de trabalho agora como sobreaquecido. Ele deve caminhar para alguma coisa mais próxima do equilíbrio [taxa de desemprego que não acelera a inflação]”, diz.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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