Após fiasco por não tomar vacina, Djokovic vive seu melhor ano

MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – O sérvio Novak Djokovic, 36, foi o tenista que mais faturou em torneios em 2023, um total de US$ 16 milhões (R$ 78 milhões). Ele volta, assim, a comparecer no ranking dos atletas com as premiações anuais mais altas de todos os tempos –um feito que ele não atingia desde 2018, quando amealhou valor semelhante ao deste ano.

Nesse compilado, Djokovic reina tranquilamente. Ele detém cinco das dez maiores premiações anuais, segundo dados da ATP (Associação de Tênis Profissional), inclusive a maior, com os US$ 21,1 milhões (R$ 102 milhões) que recebeu em 2015.

Também em 2023, o sérvio venceu três grand slams e ultrapassou o espanhol Rafael Nadal no número de títulos dos quatro torneios mais importantes –Aberto da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e US Open–, tornando-se o maior recordista, com 24 taças. E, no mês passado, ultrapassou a marca de 400 semanas como o número 1 do mundo, outro recorde incontestável.

Só faltou vencer a final de Wimbledon contra outro espanhol, Carlos Alcaraz, para se tornar o primeiro tenista a conquistar, desde 1969, os quatro grand slam em um único ano. É a quarta vez que Djokovic ganha três dos quatro torneios principais. As demais aconteceram em 2011, 2015 e 2021.

Por tudo isso, pode-se dizer que 2023 tenha sido o melhor ano da carreira de Djokovic, um enorme contraste com 2022, quando não jogou no Aberto da Austrália e no US Open em 2022 devido à exigência do passaporte de vacina pelos governos.

A carreira de Novak Djokovic parecia se encaminhar para um fim, ou pelo menos para um grande cancelamento, após sua recusa em se vacinar contra a Covid-19.

“Pessoalmente sou contra a vacinação e não gostaria de ser forçado por alguém a tomar uma vacina para poder viajar”, disse ele, em uma live no Facebook que caiu como uma bomba no meio profissional, em abril de 2020. No mesmo ano, ele doou 1 milhão de euros (R$ 5,3 milhões) para a compra de equipamentos sanitários na Sérvia.

No ponto provavelmente mais baixo de sua carreira, foi deportado pelo governo australiano em janeiro de 2022. Um mês depois, ele afirmou à BBC que não se via como parte do movimento antivacina. “Nunca fui contra a vacinação, mas sempre apoiei a liberdade de escolher o que colocar no corpo”, disse, acrescentando que tomou vacinas quando criança. Mas também que seguiria seus princípios mesmo que isso lhe custasse os recordes e a posição entre os maiores.

Djokovic completou, em 2023, duas décadas de carreira profissional. Foi em janeiro de 2003 que, aos 15, ele jogou sua primeira partida como profissional na Alemanha, onde treinava, estreando com uma derrota. Mas, após vencer um torneio em Belgrado, em seu país natal, acabou o ano ranqueado em 687º na ATP.

Com 1,88 m de altura e cerca de 77 kg, o sérvio reúne força física com velocidade e agilidade, possibilitando vitórias tanto em saibro quanto em grama. Seu primeiro saque é uma de suas principais armas, responsável por 74% dos pontos que conquistou em sua carreira. Tem suas manias, como não tomar água gelada, o que, segundo ele, evita que o sangue fuja dos músculos para esquentar o estômago.

A ligação do sérvio com o tênis, no entanto, remonta a 1991, quando seu país ainda se chamava Iugoslávia. Aos 4 anos, ganhou do pai uma mini raquete e uma bolinha de espuma.

“Nós colocávamos obstáculos no meio do tapete e jogávamos de joelhos”, disse seu irmão mais novo, Djordje, à revista Newsweek, em 2016. “Estávamos quebrando coisas por toda a casa e mamãe reclamou, mas papai disse: ‘Não os impeça, é isso que eles adoram fazer.'”

Aos 6, o menino já estava tendo aulas com uma professora prestigiada, que se impressionou: “No terceiro dia, liguei para os pais dele e disse: ‘Você tem um filho de ouro'”, lembrou Jelena Gencic ao jornal The New York Times em 2010. “Eu tinha dito a mesma coisa sobre Monica Seles [também sérvia] quando ela tinha 8 anos.”

O esfacelamento da Iugoslávia em 1992 atrapalhou os planos da família. “Tínhamos o nosso projeto. Não eram bons tempos, havia sanções e a guerra estava para começar”, contou o pai, Srdjan Djokovic ao mesmo jornal. “Não foi um período fácil para a Sérvia, para a Iugoslávia, mas investimos todo o dinheiro que tínhamos em Novak. Ele era aquele que tinha tudo o que precisava: a raquete nova, a boa comida e tudo o mais.”

O projeto deu certo, apesar de consumir dinheiro que a família nem tinha. O pai, que comandava um restaurante de fast food, pegou empréstimos em bancos para o garoto treinar por quatro anos em uma academia na Alemanha, a partir de 1999, além de passagens para Estados Unidos e Itália.

Sua estreia no grand slam aconteceu em 2005. Dois anos depois, chegou à final do US Open e, no ano seguinte, conseguiu sua primeira taça, no Aberto da Austrália.

Em 2011, teve um ano fantástico, vencendo três dos quatro grand slams, superando nove vezes em dez partidas seus maiores rivais, Rafael Nadal e o suíço Roger Federer, e chegando ao primeiro lugar no ranking mundial pela primeira vez em 4 de julho, mantendo a liderança pelo resto da temporada. Também estabeleceu recorde de premiação, ganhando US 12,6 milhões no circuito da ATP.

Nada que ele não melhorasse em 2015: conquistou três grand slams e foi finalista do quarto, reinou como número 1 do mundo em todas as 52 semanas do ano e alcançou o recorde que perdura até hoje da maior premiação dada em um ano para um tenista profissional: US$ 21,1 milhões (R$ 102 milhões).

Vale dizer que as premiações do circuito são a menor parte do ganho dos tenistas do topo. Segundo a revista Forbes, um contrato de patrocínio com o atleta está na casa dos US$ 30 milhões (R$ 146 milhões). Djokovic recebe cerca de US$ 10 milhões (R$ 48 milhões) anuais da marca de roupas Lacoste, além de contratos com a Peugeot, entre outras.

O tenista está casado há nove anos com Jelena Ristic, sua namorada desde os tempos da escola. Eles têm um casal de filhos e é ela quem comanda a Fundação Novak Djokovic –voltada para ajudar crianças pequenas na Sérvia, onde já construiu cerca de 60 pré-escolas.

Um dos grandes rivais de Djokovic, Roger Federer se aposentou em 2022, aos 41. A julgar pela idade, o sérvio de 36 ainda tem uns bons cinco anos para aumentar seus recordes. Mesmo que seja tomando água morna.

IVAN FINOTTI / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS