SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Katy Perry, David Beckham, Gabriela Sabatini, Adidas, Nautica, Mon Bourjois grifes de perfumes muitas vezes considerados de elite começam a inundar pontos de venda bastante acessíveis: as farmácias. As marcas pertencem à Coty, multinacional franco-americana dona de marcas populares como a dos cremes Monange, do gel de barbear Bozzano e dos esmaltes Risqué. A empresa vem investindo nas redes de farmácias e drogarias para popularizar fragrâncias antes vendidas apenas em lojas especializadas ou na internet.
O valor dos perfumes, em versões eau de toillete, eau de parfum e spray corporal (body splash), começa em R$ 79 e chega a R$ 259. “É o luxo acessível, queremos democratizar a beleza no Brasil”, disse à Folha o italiano Stefano Curti, principal executivo de marcas da Coty global.
A estratégia está centrada nos números de consumo: o Brasil é o maior mercado mundial de perfumes, responsável por um faturamento de US$ 6,8 bilhões (R$ 33,7 bilhões) no ano passado, de acordo com a consultoria Euromonitor, um negócio que não parou de crescer nem mesmo na pandemia.
Na opinião de Curti, a supremacia brasileira nos perfumes se deve à vaidade do povo, “um dos mais bonitos do mundo”, diz ele, “que tem cuidado na escolha das cores que melhor combinam com o seu tom de pele e gosta até do cheiro da limpeza”, afirma.
“É um dos povos mais conectados com a beleza: em um passeio em shopping centers aqui de São Paulo, por exemplo, pude ver vários serviços de dermatologia disponíveis, o que é algo singular no mundo”, diz. “Até lojas anunciando três sessões de Botox por R$ 700.
Questionado se existem particularidades em relação ao consumidor brasileiro de perfumes, o executivo afirma que o país se destaca por preferir o floral, amadeirado, oriental e âmbar, além do “aromático fougére” uma mistura de ervas com cítricos, lavanda e amadeirados. “É o território olfativo brasileiro.”
De acordo com Curti, a distribuição de fragrâncias no Brasil se dá, principalmente, pela venda direta, com marcas como Natura e Avon, e também por lojas de franquias, como Boticário e Granado. “Nós queremos incentivar o consumo massivo de perfumes, e para isso nada melhor do que distribuir as fragrâncias nas farmácias”, afirmou.
A distribuição da perfumaria “de massa” da Coty, que o executivo chama de “luxo acessível”, começou em março deste ano e hoje está presente em cerca de 5.000 pontos de venda do varejo farmacêutico, com destaque para redes como Drogaria São Paulo e Pague Menos. Mas a multinacional também decidiu levar suas marcas para grandes redes varejistas, como C&A, Riachuelo e Renner, além das lojas especializadas Ikesaki, Mundo do Cabeleireiro e dos marketplaces Época Cosméticos e Beleza na Web.
As farmácias, por sua vez, veem as vendas dos itens de higiene pessoal e beleza (onde os perfumes estão inseridos) atingirem importância cada vez maior: entre 2018 e 2022, essa categoria avançou 61%, para um faturamento de R$ 24,9 bilhões, de acordo com a Abrafarma, associação do setor que reúne as maiores redes do país.
“O maior valor agregado de vendas ainda advém dos medicamentos de prescrição”, diz Sergio Mena Barreto, presidente da Abrafarma. “Mas a oferta de outros produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos acaba sendo um trunfo das farmácias para atrair mais consumidores e fidelizá-los”, afirma.
A Coty não revela quanto o Brasil representa do seu faturamento anual, na casa dos US$ 5,5 bilhões (R$ 27 bilhões). “Mas o Brasil é o nosso terceiro maior mercado global, depois dos Estados Unidos e da Alemanha”, diz Curti.
Fica no Brasil a maior fábrica e o maior centro de distribuição da Coty no mundo: em Senador Canedo (GO), a unidade da Savoy produz marcas como Risqué, Monange, Paixão, Bozzano e Cenoura & Bronze, adquiridas da Hypermarcas em 2015. A empresa conta com 2.400 funcionários no país, sede administrativa na zona sul da capital paulista e outro centro de distribuição no Rio de Janeiro.
Já os perfumes são produzidos em Granollers, na região de Barcelona, na Espanha. “É a maior fábrica de perfumes do mundo”, diz Curti.
A multinacional franco-americana ainda tem interesse em outros segmentos do mercado brasileiro de beleza, como cosméticos, cabelos e esmaltes.
No Brasil, a venda de produtos de cuidados para a pele supera os R$ 16 bilhões ao ano, segundo a Euromonitor. Neste segmento, a Coty trabalha com marcas como Monange, Paixão, além do protetor solar Cenoura & Bronze.
Já no mercado brasileiro de esmaltes, que movimenta R$ 1,7 bilhão ao ano, a Coty é dona de uma das marcas líderes, Risqué. “O esmalte é uma maneira de a consumidora brincar com as cores no dia a dia”, diz Curti.
Em produtos de cuidados para cabelos, o Brasil também é potência global, com faturamento de R$ 24 bilhões ao ano, de acordo com a Euromonitor. Neste segmento, a Coty atua com Monange, Bozzano e as tinturas Biocolor.
A multinacional é dona ainda da marca de produtos para cabelos Wella, da qual vem se desfazendo aos poucos. O dinheiro vai ajudar da equacionar a dívida da empresa, hoje em três vezes o seu Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “Até o final de 2025, teremos vendido toda nossa participação na Wella e a alavancagem terá atingido duas vezes o Ebitda”, afirma. Hoje a Coty ainda tem cerca de 22% da Wella.
RAIO-X
Fundação: 1904, em Paris
Sede: Nova York
Funcionários: 11.300
Faturamento: US$ 5,5 bilhões (R$ 27 bilhões)
Principais concorrentes no Brasil: Natura, Avon, O Boticário, LOccitane
DANIELE MADUREIRA / Folhapress