SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Lei ônibus”, “nhoques”, “leliqs”. Em menos de um mês na Presidência da Argentina, Javier Milei já parece ter todo um vocabulário associado ao seu governo.
O feito talvez não surpreenda aqueles que acompanharam o ultraliberal ao longo de sua campanha, em que expressões como “plano motosserra” se tornaram tão populares que seus apoiadores passaram a levar motosserras de verdade para seus comícios.
Termos como aquele seguem na boca do líder –mas, desde que ele assumiu o mandato, eles vêm sendo acompanhados de nomes mais técnicos. É o caso de “DNU”, acrônimo de “Decreto de Necessidade e Urgência”. Ele designa um documento que, assinado por Milei no último dia 20, estabelece mais de 300 medidas para desregular economia.
Se algumas palavras são repetidas à exaustão, outras também são proibidas. O mesmo DNU exclui, por exemplo, a palavra “gratuito” da publicidade de benefícios ou serviços nas esferas nacional, provincial e municipal. A orientação, nesses casos, é esclarecer que os benefícios ou serviços oferecidos são de livre acesso, mas “financiados por impostos dos contribuintes”.
Conheça, abaixo, algumas expressões que marcaram o governo de Milei até agora.
Carajo
A frase “viva la libertad, carajo!” virou uma espécie de bordão pessoal do presidente e de sua campanha à Casa Rosada. Foi escolhida para encerrar o primeiro discurso de Milei no cargo –e foi escrita, inclusive, no livro do Congresso da Argentina. Nesse contexto, a palavra “carajo” se assemelha menos a um palavrão e mais ao “caramba” do português.
Casta
Usada pelo presidente argentino em diferentes ocasiões, a palavra serve como reforço ao discurso antissistema de Milei e define não apenas adversários, mas a classe política que compõe o establishment.
No fim das eleições primárias, conhecidas como Paso, o mandatário disse: “Vamos acabar com o kirchnerismo e com a casta política parasitária, estúpida e inútil que afunda este país”.
DNU
A sigla significa “Decreto de Necessidade e Urgência”, que é um instrumento usado em circunstâncias extraordinárias para viabilizar leis.
A DNU chegou aos holofotes no dia 20 de dezembro, quando Milei assinou, em rede nacional, o documento que modifica ou revoga mais de 300 leis que regulam uma ampla variedade de atividades econômicas no país. O polêmico “megadecreto” inclui pontos como a alteração do regime trabalhista e também versa sobre privatizações, aluguel e exportações.
Lei ‘ônibus’
Intitulado “Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos”, o projeto enviado pelo presidente ao Congresso da Argentina no dia 27 de dezembro tem o apelido por conter diretrizes que regulam uma ampla diversidade de áreas, propondo uma abrangente reforma do Estado.
Composto por 664 artigos, inclui restrições a protestos e bloqueios de vias, a revogação das eleições primárias (em que argentinos são convocados a escolher os políticos que concorrerão nas eleições de fato) e a autorização para o Executivo privatizar as empresas estatais.
Leliqs
As Letras de Liquidez são títulos vendidos pelo Banco Central da Argentina a bancos cujo rendimento é pago com pesos que ele próprio emitiu, gerando mais dívida para o governo.
Parte da promessa de campanha de Milei consistia em comprar esses títulos de volta e parar de imprimir dinheiro -para, então, liberar o comércio de dólares no país.
Motosserra
Outro símbolo da campanha de Milei, ele representa, no vocabulário construído pelo presidente, os cortes nos gastos estatais. Por isso, o conjunto de medidas de seu governo que visa diminuir as contas públicas foi apelidado de “plano motosserra”.
Em sua primeira semana de governo, por exemplo, o ultraliberal anunciou um corte de 18 para 9 ministérios e de 106 para 54 secretarias.
Nhoques
A palavra, que em espanhol é grafado “ñoqui”, é como são conhecidos popularmente os servidores públicos que teoricamente não trabalham e só aparecem no escritório no final do mês para receber seus salários.
A expressão vem da tradição italiana de comer o prato no dia 29 de cada mês. Uma tradução dela no Brasil seria “funcionário fantasma”.
Redação / Folhapress