SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Bruno Aiub, 33, não deixou de falar, mas já não fatura como antigamente por isso. “Tô fudido, não consigo monetizar, tá tudo ruim pra mim”, diz o podcaster que, na infância, tirou a alcunha Monark de um game.
Ele foi banido das principais redes sociais por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, a quem chama de “ditador” e “imperador” em entrevista à Folha. Autointitulado “perseguido político”, mora desde setembro na Flórida e diz que tem medo de ser preso se voltar ao Brasil.
Elogia a política externa de Lula (PT), fala sobre ter chamado Flávio Dino de “gordola”, diz que Javier Milei está “cagando para a Argentina” e defende uma liberdade de expressão irrestrita para ele, o PCO deve poder apoiar o Hamas, e um nazista, advogar por suas ideias.
Questionado se ainda mantém, à revelia da ordem judicial, perfis virtuais, Monark diz que prefere não confirmar porque “vai que usam isso para banir”. E acrescenta, por WhatsApp: “kkkk”.
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ALEXANDRE DE MORAES
O ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, diz, “basicamente se tornou um ditador, um imperador que da cabeça dele qualquer coisa pode sair”. Alguém, continua, que “simplesmente pune você antes de ser julgado”, atuando como “apurador, investigador, promotor, julgador, tudo”.
Moraes ordenou que Monark se abstivesse de compartilhar fake news. A decisão de junho destacou uma fala compartilhada na Rumble, plataforma de vídeos queridinha da extrema direita, sobre um Supremo “disposto a garantir uma não-transparência nas eleições”. Dois meses depois, o ministro o multou em R$ 300 mil por descumprir a ordem judicial.
Questionamentos sobre as urnas eletrônicas já haviam levado ao bloqueio de outras redes do influencer.
Ele se diz um perseguido político e, por isso, prefere continuar na Flórida, onde vive desde setembro. Diz estar tentando tirar um visto específico para representantes da mídia estrangeira. Acredita que seria preso se retornasse ao país natal, embora não haja “ainda” pedido de prisão contra ele, “graças a Deus”.
8/1
Os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, ao seu ver, não mereciam desembocar em centenas de prisões e, em vários casos, condenações pelo STF. “Tem cara que morreu na cadeia. Não sei como a gente não vê absurdo que está acontecendo no Brasil, é um sistema tirânico.”
O único crime que partiu da multidão que clamava por um golpe de Estado, segundo ele, é o de vandalismo. “Quem quebrou, quebrou. Quem não quebrou nada, manda para casa, dá uma bronca, sei lá.” Seriam apenas pessoas “iludidas por Bolsonaro” e “ingênuas” tentando protestar, diz.
Monark adota tom conspiratório para dizer, sem provas, que os ataques foram “um evento patrocinado por interesses internacionais” e que “provavelmente a CIA estava envolvida”, à imagem e semelhança do que teria acontecido no 6 de janeiro em que eleitores de Donald Trump, incrédulos com sua derrota, invadiram o Capitólio.
BOLSONARO E LULA
Ele diz que não votou em 2022 e que, apesar da fama de direitista, não se encaixa numa forma ideológica. É a favor de legalizar drogas e aborto, como a maioria da esquerda, mas também de acesso a armas e corte de impostos, típico da direita.
Diz não nutrir muita simpatia por Bolsonaro, que acusa de censurar o amigo Danilo Gentili “por causa do filme lá”. “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, baseado em livro de Gentili, atraiu a fúria conservadora por uma cena em que o personagem de Fábio Porchat tenta seduzir dois adolescentes. Em 2022, o Ministério da Justiça bolsonarista instou plataformas de streaming a remover o longa.
Uma ressalva Monark faz ao ex-presidente: ele pode não ser “um grande defensor das liberdades individuais”, mas “nunca o vi rasgando a Constituição como Moraes tem feito”.
Já o governo Lula (PT) estaria “pior pra igual” se comparado ao anterior. O que se salva, diz, é a política externa do presidente, que “não está sendo subserviente a nenhum polo de poder, nem China nem EUA”.
Também dá pitacos sobre Javier Milei, o presidente argentino cortejado pela família Bolsonaro. Considera-o “totalmente um agente globalista”, que estaria “cagando para a Argentina”.
FLÁVIO DINO
“É que chamei o Dino de gordo, né?”, lembra Monark sobre uma declaração sua que levou Flávio Dino, ministro da Justiça de Lula e futuro ministro do STF, a processá-lo após ser chamado de “gordola”, “filho da puta” e “tirânico”. Na época, Dino pedia mais regulamentação das redes sociais para prevenir ataques como o que matou quatro crianças numa creche em Santa Catarina.
O desembargador Fausto de Sanctis entendeu que o influenciador fez um “mal-educado desabafo” que não justifica uma ação penal e suspendeu a queixa-crime apresentada por Dino.
Com o habeas corpus, Monark pode voltar a fazer comentários sobre Dino. “Eu tava proibido de falar [dele], mas nunca parei de falar. Era uma ordem ilegal, a Constituição garante a liberdade de expressão.”
Para ele, o crime de injúria tem que acabar. “Tinha que ser direito de todos xingar a pessoa do que quiser.”
Ele se diz o maior alvo, “se você quiser usar essa narrativa de vítima”, de ofensas digitais. Coisas como “depois do PC Siqueira [youtuber encontrado morto], o próximo tem que ser o Monark”, que diz ter lido no X. “Não preciso de lei para me defender, por mim deixava a galera falando o que quiser na internet.”
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Sua compreensão para o conceito é a mais ampla possível. Acha que nenhum tipo de cerceamento ao discurso deva existir, posição que sustenta ao ser confrontado com episódios como o do linchamento até a morte de uma mulher em Guarujá (SP) em 2014. Uma multidão a espancou após uma página no Facebook publicar uma notícia falsa sobre o rapto de crianças para realizar magia negra.
Segundo Monark, o espaço virtual deve ser livre, “onde as pessoas possam debater as narrativas umas das outras”, mesmo que elas sejam propositalmente enganosas. “Deixa a própria sociedade se regular, não precisamos de um Estado para isso.”
Exemplifica: tanto o PCO, partido de extrema esquerda, deve poder defender o grupo terrorista Hamas se bem entender quanto “um nazista imbecil” tem direito de respaldar Adolf Hitler.
ELON MUSK
O dono do X, a quem já convidou para fumar maconha num post nunca respondido, tem sua admiração. A rede antes conhecida como Twitter melhorou muito depois que Musk a comprou deixou de ser “braço de censura e espionagem dos democratas”, afirma, mais uma vez recorrendo a conspirações, desta vez para associar o partido americano a uma suposta rede de influência anabolizada por big techs.
“As pessoas de direita não estão sendo mais perseguidas [por lá] como antes”, diz. “Agora, o negócio dele colocando chip na cabeça das pessoas me dá medo.” O bilionário também comanda a Neuralink, empresa de implantes cerebrais.
CANCELAMENTO
Diz não guardar ressentimentos por sua saída do Flow, podcast que o projetou e pelo qual passaram entrevistados tão diversos quanto Bolsonaro, Guilherme Boulos e Fernando Haddad. Conta que ainda fala com Igor Coelho, ex-colega na empreitada, e que se retirar “foi uma escolha necessária para salvar a empresa”.
A marca enfrentou forte boicote de agências publicitárias após Monark dizer que nazistas deveriam ter direito a se organizar num partido, num programa de 2022 com os deputados Kim Kataguiri e Tabata Amaral.
“Claro que se eu tivesse uma varinha mágica, desejaria que não tivesse acontecido.” Mas não se arrepende de suas palavras. O que defendeu, afirma, foi a liberdade de qualquer um se organizar politicamente a partir de um ideal, por pior que ele seja.
“Meu argumento era assim: tem um monte de partido comunista, sabemos que no regime [soviético] muitas pessoas foram mortas. Por que eles têm direito, e [o nazista] não tem?”
Estar bêbado “com uns drinques muito loucos que tinham lá” na hora colaborou para expressar seu pensamento de forma atabalhoada, admite. E conclui: “Em prol da liberdade de expressão, precisamos deixar o ambiente livre até mesmo para os idiotas falarem”.
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER / Folhapress