SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse que um dos motivos de ter recusado o convite para voltar a fazer exercícios físicos numa academia do Exército foi o receio de ser importunado por paparazzi.
O magistrado começou a treinar na academia do Comando Militar do Planalto a convite do general Fernando Azevedo e Silva, primeiro ministro da Defesa do governo Bolsonaro. Os dois ficaram próximos nas Olimpíadas de 2016 no Rio, quando Moraes era ministro da Justiça do governo de Michel Temer (MDB) e Azevedo, comandante militar do Leste e um dos responsáveis pela segurança dos Jogos.
O local fica no Setor Militar Urbano, perto do quartel-general do Exército e de onde foi instalado o acampamento que serviu de base para os golpistas do 8 de janeiro.
Moraes chegava diariamente ao complexo que conta também com uma pista de atletismo às 6h40 e se exercitava junto com militares.
Em agosto de 2022, num dos momentos mais agudos da crise entre Bolsonaro e o Judiciário, quando o então presidente e generais aliados faziam uma campanha contra o sistema eleitoral brasileiro, Moraes recebeu um recado de que teria de interromper as idas à academia, pois o espaço estava passando por reforma.
Encafifado, o magistrado pediu que seu ajudante de ordens um capitão da Polícia Militar, intermediário do aviso sobre a “reforma” tirasse a história a limpo.
“Eu falei, reforma em agosto? Reforma costuma ser em janeiro, agora eles têm todos os testes físicos… E obviamente não estava em reforma, eu é que estava sendo reformado da academia, foi uma forma educada de eu ter sido convidado a me retirar da academia. É uma pena, academia boa, mas são águas passadas já”, contou Moraes à Folha de S.Paulo.
Como parte de um movimento para distensionar as relações entre o Judiciário e a caserna (os integrantes das Forças Armadas são em sua maioria bolsonaristas e críticos da atuação de Moraes e do STF), o atual comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, convidou o magistrado para voltar a usar a academia.
O ministro agradeceu, mas recusou.
“Eu não voltei porque a partir disso eu já substituí, montei meus treinos, e obviamente agora, se eu voltar, o que vai ter de paparazzi lá tirando foto de eu treinando, vou perder a minha tranquilidade, e mais, eu vou atrapalhar o treino dos demais”, afirmou Moraes.
O ministro não o declara, mas aliados comentam que ele tem certeza de que o “desconvite” do ano passado foi uma ordem direta de Jair Bolsonaro. Uma das evidências dessa versão é que o aviso sobre a “reforma” veio três dias depois da posse de Moraes como presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O evento representou um dos maiores constrangimentos públicos a Bolsonaro em seu mandato.
Num momento em que o então presidente da República atacava sem tréguas as urnas eletrônicas e as instituições, Moraes fez um discurso fervoroso em defesa do sistema eletrônico de votação e do estado democrático de Direito.
Sem mencionar diretamente o nome de Bolsonaro (somente ao agradecer pela presença, na abertura do discurso), mandou vários recados ao chefe do Executivo. Moraes foi aplaudido de pé, em um auditório lotado de altas autoridades dos três Poderes. Bolsonaro se manteve impassível, sendo um dos raros presentes a não aplaudir.
FABIO VICTOR / Folhapress