SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Desde que foi confirmada como a sede dos Jogos Olímpicos de 2024, Paris trabalhou para permitir que os esportes urbanos pudessem ser disputados em seus espaços naturais.
O conceito pode ser bem ilustrado pela transformação temporária da Praça da Concórdia, icônico espaço público conectado à famosa rua Champs-Elysées, em uma arena aberta.
O local foi escolhido para abrigar modalidades radicais, entre elas o breaking, que fará sua estreia em uma Olimpíada a pedido dos próprios organizados do megaevento na cidade francesa. Competições de skate, ciclismo BMX e basquete 3 x 3 também serão realizadas na arena.
As disputas do breaking estão marcadas para os dias 9 e 10 de agosto. Nelas, 16 homens e 16 mulheres vão se enfrentar em batalhas de danças, um contra um, com músicas escolhidas aleatoriamente por um DJ. Os critérios de avaliação incluem a fisicalidade, o artístico e a interpretação.
A introdução desses esportes no programa olímpico faz parte de um movimento do COI (Comitê Olímpico Internacional) no intuito de ampliar o público dos Jogos, sobretudo entre os jovens. Pelo mesmo motivo, alguns esportes tradicionais, mas de pouco apelo entre os mais novos, saem de cena, como o beisebol, o softbol e o caratê.
Semelhantes, mas disputados por homens e mulheres, respectivamente, beisebol e softbol devem retornar nas Olimpíadas de Los Angeles, já que são populares nos Estados Unidos.
A aposta de Paris no breaking se baseou na experiência considerada bem-sucedida dos Jogos de Tóquio, em que surfe, skate e escalada tiveram estreias de sucesso. Ao todo, Paris terá 45 modalidades.
Assim como os japoneses, os franceses exploram a Agenda 2020+5, do COI, aprovada em 2021, com uma série de intenções do comitê para um período de cinco anos, entre os quais a promoção de novos esportes olímpicos.
O documento também prevê um incentivo às federações nacionais para o desenvolvimento dos e-Sports, como são conhecidos os esportes virtuais. A ideia da entidade é aproveitar a popularidade crescente dos games para também atrair os jovens.
Durante a apresentação da agenda, em março de 2021, o presidente do COI, Thomas Bach, destacou que o incentivo deverá ser dado a esportes virtuais e não a jogos eletrônicos que não exijam qualquer atividade física, sem qualquer apoio a jogos que incentivem comportamentos violentos ou discriminatórios.
O tópico causou polêmica em diversas partes do mundo. No Brasil, a ex-ministra do Esporte Ana Moser do atual governo Lula afirmou em diversos momentos durante a sua breve gestão na pasta que não concorda com a equiparação de esportes tradicionais e virtuais.
Paulo Wanderley, presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), compartilha da opinião da ex-jogadora de vôlei, embora entenda o movimento do COI.
“Como eu entendo há 60 anos, não é esporte”, disse ele à Folha de S.Paulo em recente entrevista. “Mas, o que o COI decidir, vou fazer. Vai ter [eSports] na Olimpíada? Então vamos montar uma equipe.”
Os franceses, porém, enxergam os games de uma forma diferente. No começo do ano passado, o governo da França anunciou a criação de um visto especial para atletas de e-Sports, facilitando a entrada deles no país.
O projeto foi apoiado publicamente pelo presidente Emmanuel Macron, entusiasta dos games. O desejo do político era criar uma conexão dos e-Sports com as Olimpíadas de Paris.
Macron também já marcou presença em eventos que homenagearam alguns dos principais praticantes de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), o Worlds de League of Legends (LoL) e o The International de Dota 2 do país. Embora esses esportes não estejam alinhados com o desejo do COI para as Olimpíadas, o presidente da França enxerga neles uma oportunidade de desenvolver a indústria no país.
A expansão dos games na França foi impulsionada em 2016, quando foi criada a France Sports, uma federação não oficial com objetivo de tratar o tema com mais profissionalismo.
Em janeiro do ano passado, Désiré Koussawo, presidente da entidade, anunciou um plano para criar um “ecossistema nacional de esportes eletrônicos” para ajudar a indústria a crescer antes dos Jogos de Paris.
Para este ano, o plano prevê a realização de uma “Semana Olímpica de e-Sports” em paralelo à disputa da Olimpíada. A iniciativa conta com o apoio do COI.
Embora não tenha incluído os jogos eletrônicos nesta edição dos Jogos, o comitê já afirmou sua intenção de fazê-lo num futuro próximo ou criar os Jogos Olímpicos de e-Sports.
De acordo com o COI, há três bilhões de pessoas jogando esportes e jogos digitais em todo mundo. Diz o comitê que 500 milhões de usuários estão interessados especificamente em esportes digitais.
“O que é ainda mais relevante para nós: a maioria deles tem menos de 34 anos”, destacou Thomas Bac.
LUCIANO TRINDADE / Folhapress