SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vice-chefe do escritório político do Hamas, Saleh al-Arouri foi morto na noite desta terça-feira (2) em Beirute em um ataque de drone de Israel. A informação foi confirmada por três pessoas com conhecimentos sobre o assunto à agência de notícias Reuters questionado, o Exército de Tel Aviv não respondeu.
Mark Regev, um conselheiro do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou à rede de TV americana MSNBC que Israel não assumiu a responsabilidade por este ataque, mas “quem quer que tenha feito isso, deve ficar claro que este não foi um ataque ao Estado libanês”.
O Hamas confirmou a morte do líder, mas não fez outros comentários. O Jihad Islâmico, grupo aliado do Hamas, jurou vingança pela morte de Arouri em comunicado, dizendo que o ataque “não ficará impune”.
Sem mencionar a morte de Arouri, o porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari afirmou que as Forças de Defesa de Israel estão em “alto estado de prontidão para qualquer cenário”.
A agência de notícias pública do Líbano disse que seis pessoas foram mortas quando o drone atingiu um escritório do Hamas no sul da capital, território do Hezbollah, organização xiita que apoia a facção terrorista palestina e tem trocado tiros e foguetes com Israel na fronteira desde o início do conflito em Gaza.
Mais tarde, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, afirmou em pronunciamento que sete pessoas morreram no ataque: além de Arouri, dois líderes das Brigadas al-Qassam, Samir Findi e Azzam al-Aqraa e mais quatro integrantes do grupo terrorista.
Haniyeh chamou os assassinatos de “covardes”, “brutal agressão” e “ato de terrorismo”, além de dizer que o ataque é uma “violação da soberania libanesa, o que representa a expansão do escopo da agressão israelense”.
O primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, condenou o bombardeio, que aconteceu no sul da capital Beirute. “Este crime israelense busca arrastar o Líbano para uma nova fase de confronto [com Israel]”, disse, por meio de comunicado.
O Hezbollah afirmou em comunicado que o assassinato de Arouri “não passará impune” e classificou o ato como “um ataque sério ao Líbano” e um “desdobramento perigoso no curso da guerra” com Israel. “A resistência está com “o dedo no gatilho”, disse o grupo libanês.
Os enfrentamentos entre o Exército israelense e o Hezbollah limitam-se, até o momento, às regiões de fronteira no sul do Líbano, mas o aumento da temperatura entre Israel e o grupo xiita estão no centro das preocupações quanto a um possível alastramento do conflito em curso em Gaza.
O Irã, que financia o Hezbollah, voltou a inflamar o discurso contra Israel após o ataque matou o líder do Hamas em Beirute. “O sangue do mártir, sem dúvidas, vai acender nova onda de resistência contra os ocupantes sionistas”, disse o porta-voz da chancelaria de Teerã, Nasser Kanaani.
Apesar de estar oficialmente ligado à ala para assuntos políticos do Hamas, Arouri era conhecido por se envolver com assuntos militares da facção.
Segundo a rede qatari Al Jazeera, ele era um dos fundadores das Brigadas al-Qassam, o braço armado do grupo terrorista. Nascido em Ramallah, na Cisjordânia, em 1966, ele vivia no Líbano depois de passar 15 anos em uma prisão em Israel. Nas últimas semanas, atuou como porta-voz do Hamas.
Israel há muito tempo o acusa de ataques letais contra seus cidadãos, mas uma autoridade do Hamas afirmou que Arouri também estava “no centro das negociações” sobre a situação pós-guerra em Gaza e a libertação de reféns, mediada pelo Qatar e pelo Egito.
Embora menos influente do que os líderes do Hamas em Gaza, Arouri era visto como um ator-chave no grupo terrorista, planejando operações na Cisjordânia quando exilado na Síria, na Turquia, no Qatar e finalmente no Líbano.
Ezzat al Rishq, membro da ala política da organização, disse por meio de nota que a morte de Arouri não vai frear a “resistência” do grupo.
FUTURO DA FAIXA DE GAZA
Ainda nesta terça-feira, Haniyeh afirmou estar aberto à ideia de que um único governo palestino administre a Cisjordânia ocupada e a Faixa de Gaza território controlado pelo grupo terrorista.
“Recebemos inúmeras propostas de iniciativas acerca da situação interna [palestina] e estamos abertos à ideia de um governo nacional para a Cisjordânia e Gaza”, declarou ele.
O Hamas controla a Faixa de Gaza desde que venceu as eleições palestinas de 2006, que foram seguidas por fortes confrontos com o partido Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, que culminaram na expulsão da legenda do território, desde então apenas com o Hamas presente como força política.
As múltiplas tentativas de reconciliação entre as duas facções têm fracassado, o que contribuiu para a queda da popularidade de Abbas como chefe da Autoridade Palestina e o aprofundamento da crise de legitimidade da instituição, fundada há 30 anos.
Em meio à continuação do conflito e à destruição da infraestrutura de Gaza, volta à mesa a questão de quem irá controlar o território após o fim da guerra. Os Estados Unidos insistem que os palestinos devem fazer parte da administração do pós-guerra, mas o futuro papel da ANP, órgão instituído de transição até a criação de um Estado palestino até hoje inexistente, permanece incerto.
No discurso de Haniyeh, transmitido pela rede Al-Jazeera, o chefe do Hamas também se referiu às negociações sobre uma possível segunda trégua nos combates.
Um cessar-fogo anterior abriu caminho para que quase metade dos 250 reféns sequestrados em Israel em 7 de outubro fosse libertada pelo grupo terrorista. Pelo menos 129 pessoas continuam em cativeiro. “Os prisioneiros do inimigo serão libertados apenas nas condições estabelecidas pela resistência”, declarou Haniyeh, sem dar maiores detalhes.
Redação / Folhapress