Erika Januza diz por que não conseguiu gravar cena de ‘Dona Beja’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando liga a câmera, Erika Januza, 38, explica que estava na academia e se desculpa porque atrasou pouco mais de dez minutos para a entrevista por videoconferência com a reportagem. O horário é uma das poucas brechas na agenda da atriz.

Só nos últimos meses, ela gravou a 3ª e a 4ª temporadas de “Arcanjo Renegado” (Globoplay) e a série “A Magia de Aruna” (Disney+), tudo isso enquanto se prepara para desfilar mais uma vez como rainha de bateria no Carnaval carioca. E é desse jeito que ela pretende continuar em 2024.

“A minha meta de vida é ter tanto trabalho que eu precise optar por uma coisa ou outra (risos)”, diz a atriz. “É o meu universo dos sonhos ter muito trabalho.”

E não é o excesso de compromissos que faria com que ela não aproveitasse a fundo cada experiência. Como quando gravou com a colega Léa Garcia, morta aos 90 anos em agosto de 2023, para cenas ainda inéditas de “Arcanjo Renegado”.

“As últimas cenas gravadas na carreira da Léa foram comigo, ela foi muito ovacionada”, lembra. “Ela era um amor e muito generosa, perguntava para mim: ‘Você achou que ficou bom?’. E eu pensava: ‘Anos de experiência e ela querendo saber o que eu achava’.”

Erika conta que a cena não tinha tantas falas, mas muita comunicação visual entre as duas. “As nossas conversas eram sempre bonitas, e vão ter muitas falas bonitas dela que, assistindo depois, parecem uma despedida”, afirma, saudosa.

Mas pensa que ela está parada enquanto espera a estreia dos novos episódios da série? Nada disso. A atriz está imersa nas gravações da novela “Dona Beja”, a segunda empreitada da HBO Max no universo dos folhetins.

Na trama, ela interpreta Candinha, mas uma versão não copiada de quando a personagem foi ao ar pela primeira vez na extinta Rede Manchete (1983-1999). “A gente não se baseou na novela que já passou, mas sim no contexto histórico. Só posso falar que ela é uma mulher bem forte, com uma vida de dramas e tragédias, mas que vai dando a volta por cima”, comenta.

As cenas não são sempre tranquilas para quem sente até hoje na pele o que anos de escravidão deixaram como legado para o país. “Teve uma fala específica que eu não consegui acabar de jeito nenhum, tive uma crise de choro muito grande”, conta. “Não consegui verbalizar, e nunca mais voltei nessa cena.”

“Mexeu muito comigo. Vai mexer também com um monte de mulher preta porque fala sobre a solidão da mulher negra”, adianta. “E, de quem estava na sala naquele momento, só eu entendi o que estava dizendo. O dia de gravar vai chegar, mas ainda não tive coragem de voltar no roteiro.”

A tristeza, no entanto, não faz morada na atriz. Toda terça, domingo e, às vezes, sábado, ela está cheia de brilho, e sai direto das gravações para os ensaios da Viradouro, da qual é rainha de bateria desde 2021. O noivo, José Junior, que é produtor cultural e fundador do AfroReggae, às vezes a acompanha, mesmo ela dizendo que eles têm gostos “completamente diferentes”.

Entre gravações, preparativos para o Carnaval e até para seu casamento, ela ainda arranjou espaço para mais uma atividade: a narração de um audiolivro. E sua estreia foi com “Úrsula”, de Maria Firmino dos Reis, considerada a primeira romancista do país.

“Morri de amores pela obra, eu não tinha lido antes, adoro, sou muito romântica. Foi até difícil para gravar por ser de outro tempo, com outras palavras. Saí de lá muito mais rebuscada, falando ‘nos veremos então, até mais ver'”, finaliza, aos risos.

MARIA PAULA GIACOMELLI / Folhapress

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