TAIPE, TAIWAN (FOLHAPRESS) – Desde 2004 na China, agora com fábricas em Nantong, Rugao, Changzhou e Jintan, o grupo brasileiro Weg atingiu um crescimento anual médio de 15% nos últimos quatro anos, “apesar das dificuldades provocadas pela pandemia”, diz Eduardo de Nóbrega, diretor superintendente das operações no país.
O objetivo para os próximos anos é manter esse ritmo da taxa de crescimento anual composta (CAGR). “Vamos continuar investindo, através do aumento da capacidade de produção, como a ampliação da nossa fábrica de Rugao, cuja conclusão está prevista para maio de 2024”, diz ele.
Deve investir também na ampliação da rede comercial e do portfólio de produtos feitos na China. O país representa 30% do mercado global de motores elétricos, foco da Weg. “Não poderíamos deixar de atuar neste mercado”, diz Nóbrega, embora seja “desafiador, pulverizado, com vários competidores locais e globais”.
Além da ampliação de sua estrutura atual, a empresa deve iniciar no meio deste ano a integração das unidades chinesas da americana Regal Rexnord. A aquisição pela Weg foi divulgada há três meses e abrange fábricas em outros países, inclusive na Índia, mas ainda depende de autorizações.
A presença na China, diz o executivo, é importante para “consolidar o posicionamento estratégico na região Ásia-Pacífico”, e pela parceria com clientes globais também com operações no país.
O significado da China para a Weg foi evidenciado na escolha do novo presidente-executivo, na última semana. Alberto Yoshikazu Kuba, que assume em 1º de abril, ocupava o cargo de Nóbrega até 2019.
As fábricas no país se concentram na produção de motores elétricos, de baixa, média e alta tensão e comerciais, com exceção da unidade de Jintan, dedicada a inversores de frequência e drives de baixa e média tensão.
“A Weg focou seus principais esforços no desenvolvimento de soluções para veículos de carga e de passageiros, para caminhões e ônibus”, diz Nóbrega, mas “sempre esteve muito atenta aos movimentos de mercado”.
É uma referência a carros elétricos, área em grande expansão na China. “A Weg não está focando seus esforços de desenvolvimento de produtos para veículos de passeio, porém continuamos monitorando esse segmento e atuando em oportunidades específicas em que nossos produtos e soluções sejam competitivos.”
No seu entender, “a motorização elétrica parece ser um caminho sem volta, em que veremos grandes avanços, tanto na própria tecnologia da tração elétrica quanto nas baterias”. Lembra que a empresa já produz carregadores de bateria veicular, amplamente usados no Brasil.
Questionado sobre a resistência normativa recente nos EUA e na Europa, visando conter os carros elétricos chineses em seus mercados, ele avalia que “o mundo pode enfrentar dificuldades esporádicas durante esta jornada, algumas causadas por questões geopolíticas, mas não deve haver mudanças de trajetória”.
Consultado sobre a possibilidade de entrada da empresa brasileira nas cadeias de suprimentos de veículos elétricos da própria China, o analista financeiro chinês TP Huang, especializado no setor, disse que montadoras como BYD “são muito integradas verticalmente e produzem internamente”.
E ao menos até este momento, “quando vão para fora da China, sua cadeia de suprimentos recorre apenas a europeus, japoneses e americanos”. Para as fábricas que a BYD anunciou para a Bahia, acredita Huang, é provável que leve fabricantes chineses de autopeças.
No Brasil, além da aposta nas estações para recarga de bateria, o caminho para a Weg passa pela também crescente renovação da frota de ônibus. O programa é incentivado pelo BNDES, buscando um “novo capítulo do transporte público elétrico, ecológico e sustentável”, no dizer do presidente do banco, Aloizio Mercadante.
“Nossa prioridade para tração elétrica tem sido o mercado brasileiro de transporte de passageiros e de carga”, diz Nóbrega. “A China, neste momento, não é nosso alvo para essa linha.”
De maneira geral, a empresa vê hoje “um movimento definitivo e necessário na busca da redução das emissões de carbono”, diz ele. “A tração elétrica deve permanecer como uma das principais, mas outras opções devem surgir, como os motores a combustão movidos, por exemplo, com hidrogênio.”
Foi uma das questões levadas pela Weg à conferência do clima em Dubai, parte da visão estratégica de sustentabilidade da empresa. “Eventos como a COP28 são oportunidades em que podemos mostrar nosso compromisso”, diz o executivo.
“Países com matriz energética predominantemente renovável, como o Brasil, tem potencial de liderar a produção de hidrogênio verde, e a Weg vem trabalhando para atender esse mercado, que deverá crescer muito nos próximos anos.”
O objetivo é oferecer um pacote de soluções, de motores a transformadores e soluções de geração renovável solar, eólica, hídrica e biomassa. Além disso, a empresa vem trabalhando suas próprias operações para reduzir as emissões de carbono em 50% até 2030.
O principal produto da Weg, motores elétricos, “contribui por natureza para a redução de emissões” e passa por novo esforço de pesquisa e desenvolvimento, visando tecnologia de “fluxo axial, de alta eficiência”.
“Esse tipo de motor apresenta uma relação peso-potência muito melhor que os convencionais, de indução, e tem aplicação tanto na área industrial como em tração veicular”, descreve Nóbrega, que é engenheiro industrial. “Num primeiro momento, por se tratar de nova tecnologia, deverá ser produzido no Brasil.”
NELSON DE SÁ / Folhapress