SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cidades da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, registraram um ano de 2023 violento, com recordes históricos na quantidade de furtos e alta no número de roubos.
Policiais que atuam na região ouvidos pela reportagem indicaram que, assim como em outras partes do estado, o celular é o item mais visado, além de bicicletas e motos.
Dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública) mostram que de janeiro a novembro do ano passado os municípios de Bertioga, Guarujá, Praia Grande e São Vicente foram os que mais sofreram nas mãos do crime, atingindo números de furtos jamais vistos na série histórica, iniciada em 2002.
Procurada, a Secretaria da Segurança Pública afirmou ter intensificado o policiamento em todo o litoral de SP por meio da Operação Verão, que abrange os 16 municípios dos litorais sul e norte.
Segundo a SSP, a Operação Verão, iniciada em 18 de dezembro, já prendeu 177 pessoas, sendo 89 em flagrante, além de ter apreendido 15 adolescentes infratores e capturado 73 foragidos da Justiça. Houve ainda a apreensão de 15 armas de fogo.
“No período [2023], outros 10,2 mil suspeitos foram presos na Baixada Santista, representando um aumento de 8,6% em comparação a 2022. A região teve um total de 2.048 veículos recuperados, número 41,4% maior se comparado com os 1.448 recuperados em 2022. O número de armas de fogo apreendidas aumentou em 17,3%, passando de 655 para 768”, diz a nota.
Bertioga, cidade no limite da Baixada Santista com o litoral norte, viu a quantidade de furtos saltar 23%. Passou de 1.299 ocorrências em 2022 para 1.606 no ano passado.
A cidade ainda teve crescimento de 11% na quantidade de roubos (de 304 para 339 casos).
Para o presidente do Conseg (conselho de segurança) de Bertioga, Nelson Jorge de Castro, a questão do furto é tratada de forma branda pelo Judiciário.
“Infelizmente, a legislação vigente facilita a ação desses meliantes. A gente vem trabalhando no Conseg para aumentar o efetivo das polícias Militar e Civil em nosso município.”
Segundo Castro, a maioria dos furtos ocorre em residências de veranistas e em bairros com menor presença de policiamento. “São objetos de pequeno valor, com fácil revenda. Os praticantes desses delitos geralmente os utilizam para obter drogas para consumo próprio. Furtam cabos elétricos, botijão de gás, eletrodomésticos, relógios de controle de água, torneiras e outros”, enumera.
Procurada, Prefeitura de Bertioga afirmou possuir mais de 800 câmeras de monitoramento em funcionamento e que novas bases para a guarda serão construídas.
Na vizinha Guarujá, que chegou a receber um grande reforço policial após a morte de um soldado da Rota no final de julho, a quantidade de furtos cresceu 11% de janeiro a novembro de 2023 na comparação com 2022. No ano passado, a cidade viu, pela primeira vez, as ocorrências superarem 4.000 casos.
Já os roubos passaram de 2.145 para 2.800, alta de 30%.
Para o presidente da Associação Guarujá Viva, José Manoel Ferreira Gonçalves, é necessária a implantação de mais câmeras de monitoramento e a criação de políticas integradas. “Não adianta empurrar de uma cidade para outra. O que nós temos visto é isso: você aumenta o policiamento numa certa praia e você empurra para outra e assim sucessivamente.”
Gonçalves relata que lojistas e moradores o procuram quase que diariamente para contar roubos, furtos e arrastões.
“Neste momento, tem uma quantidade enorme de policiais militares, como todo ano tem. Acabou a temporada, a cidade fica entregue a si mesma”, opina.
Em nota, a Prefeitura de Guarujá disse investir cerca de R$ 4,4 milhões anualmente em apoio às forças policiais estaduais. Conforme a gestão municipal, o programa de Atividade Delegada conta com 600 policiais por mês, em horário de folga, reforçando o patrulhamento.
Também conforme a prefeitura, há um déficit superior a 30% no número de policiais militares na cidade. Um pedido do prefeito junto ao comando da polícia, para reforço da tropa, já foi feito, segundo a gestão.
O município ainda disse contar com 2.197 câmeras públicas, sendo 2.010 instaladas em 72 escolas. Há outros 187 equipamentos instalados em vias públicas, praias e áreas comerciais que aguardam “conclusão de processo licitatório para a contratação de empresa especializada em manutenção preventiva e corretiva de todo o sistema, para que estes equipamentos também voltem a integrá-lo”.
O coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, Rafael Rocha, avalia que a Baixada Santista tem um problema recorrente de insegurança, que pode estar atrelado à proximidade com o porto de Santos.
Ele explica que celulares roubados ou furtados são encaminhados de navio para outros países. Por isso, diz, é necessário um maior investimento em investigações para desarticular os grupos criminosos.
Assim como Bertioga e Guarujá, as cidades de São Vicente e Praia Grande viram os índices de criminalidade subir. A primeira registrou alta de 15% nas ocorrências de furto e 34% nas de roubo. Já em Praia Grande houve crescimento de 9% nos furtos e 16% nos boletins de ocorrência de roubo.
Em nota, a Prefeitura de São Vicente afirma que uma nova base para a PM e para a GCM será instalada na praia do Itararé. A gestão municipal diz manter também fiscalização por meio de totens e câmeras em pontos estratégicos.
Praia Grande, por sua vez, afirma ter contratado mais de 145 guardas civis municipais em 2023, ficando com 518 integrantes. Atualmente, conforme a prefeitura, são quase 3.400 câmeras de monitoramento. O município diz também buscar junto ao governo o aumento do efetivo fixo das polícias Civil e Militar.
Santos é outra cidade da região em que a insegurança tem prejudicado moradores, turistas e comerciantes. Foram 6.112 episódios de furtos reportados em 2023, ante 5.281 no período anterior alta de 16%. Já os roubos se mantiveram praticamente estáveis, com 58 casos a mais no ano passado.
Procurada, a Prefeitura de Santos diz possuir 1.736 câmeras espalhadas. De acordo com o município, houve o investimento de R$ 53 milhões em segurança.
CRESCE NÚMERO DE ROUBOS EM UBATUBA E ILHABELA
O litoral norte paulista também sofre com ações de bandidos. Caraguatatuba passou de 319 ocorrências de roubo de janeiro a novembro de 2022 para 331 no ano passado. Já o número de furtos no município caiu de 1.575 para 1.558.
Em Ilhabela, os furtos e os roubos aumentaram (de 396 para 421; e de 15 para 24, respectivamente).
Ubatuba, que faz divisa com o estado do Rio de Janeiro, também viu crescer a quantidade de roubos. Foram 309 boletins de ocorrência elaborados em 2023 ante 241 no ano anterior. Por outro lado, houve queda nos furtos (1.557 para 1.380).
São Sebastião foi a única localidade a registrar queda em furtos (137 para 127) e roubos (985 para 885).
Procurada, a Prefeitura de Caraguatatuba ressalta ter implantado em dezembro de 2002 sua Guarda Civil Municipal, além da instalação de 180 câmeras de monitoramento e melhora na iluminação pública. A gestão municipal diz ter recebido 266 PMs para reforço no patrulhamento no verão.
A Prefeitura de Ilhabela afirma que um projeto de câmeras de videomonitoramento está no plano de governo, com previsão de ser implantado em 2024.
Ainda em nota, a gestão municipal de Ubatuba afirma ter firmado convênio que abre cerca de 430 vagas por mês para PMs atuarem na cidade e outras 300 vagas para guardas-civis trabalharem nas horas de folga. A cidade também diz estar em processo para a implantação de câmeras.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress