Seca extrema derruba crescimento de plantas em ambientes abertos, diz estudo

Um estudo em escala global sobre as possíveis consequências da seca extrema em ecossistemas abertos indica que o impacto desses eventos foi subestimado até agora. Em experimentos que simularam secas rigorosas, o efeito negativo sobre a capacidade de crescimento das plantas foi 60% mais grave do que o visto em situações mais corriqueiras de falta de chuva.

A análise, que acaba de ser publicada no periódico especializado PNAS, abrangeu 100 localidades em todos os continentes (exceto a Antártida). A lista inclui quatro áreas de estudo no Brasil, nos municípios de Mamanguape (PB), Eldorado do Sul (RS) e Mineiros (GO) -nesse último caso, foram duas áreas diferentes na mesma região. As regiões escolhidas ficam no cerrado, pampa e uma área de transição da mata atlântica.

“O que nós produzimos é uma quantificação verdadeiramente sem precedentes dos efeitos de um único ano de seca extrema”, disse à reportagem a coordenadora do estudo, Melinda Smith, da Universidade do Estado do Colorado (sudoeste dos EUA). “É o maior experimento de campo cooperativo sobre mudanças climáticas conduzido até hoje.”

Entre os colaboradores brasileiros do estudo estão pesquisadores como Marcus Vinicius Cianciruso, da Universidade Federal de Goiás, Daniela Hoss, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e Bráulio Almeida Santos, da Universidade Federal da Paraíba. As equipes responsáveis por cada local produziram “secas artificiais” por meio de um método simples: telas transparentes de plástico, em unidades com 2 metros de lado, que eram armadas de modo a cobrir diferentes trechos do solo.

Essas “tendas” eram abertas nas laterais, de maneira a permitir a circulação do ar, mas impediam parcialmente o contato da chuva com o solo. A centena de áreas espalhadas pelo mundo correspondia a ambientes variados, mas todos com vegetação baixa, às vezes com predomínio de gramíneas, às vezes com maior presença de arbustos.

“As localidades brasileiras são todas em ambientes cobertos de gramíneas e, em sua maioria, com índices elevados de chuva e próximos a florestas”, explica a pesquisadora americana.

A equipe dividiu os locais estudados em dois grupos. Num deles, os pesquisadores simularam secas que estariam dentro da variabilidade natural das chuvas de ano para ano em suas regiões. No segundo grupo, simularam durante um ano uma falta de chuva extrema, que aconteceria apenas uma vez a cada século, de acordo com os registros disponíveis para a área do estudo ou para áreas próximas.

A ideia é que essa simulação seria uma boa maneira de capturar os riscos que os ecossistemas de vegetação rasteira correm num cenário de mudança climática, no qual a tendência é um aumento da frequência e intensidade de eventos extremos.

A medida usada pelos cientistas para avaliar o impacto dos dois tipos de seca simulada foi a chamada produtividade primária -ou seja, a capacidade da vegetação de crescer e produzir mais biomassa a partir da fotossíntese. Embora tenha havido bastante variabilidade entre os locais estudados, em média a queda de produtividade nos locais com seca extrema foi de 35%, contra 21%, em média, nos locais com secas consideradas normais.

Segundo Smith, a localidade gaúcha foi uma das menos afetadas, com uma redução da biomassa vegetal tão modesta que não era possível distingui-la de uma situação normal. “Mas as outras localidades se mostraram mais sensíveis à seca”, diz ela.

Proteger a biodiversidade parece ser um dos poucos fatores que servem como “colchão” para minimizar os danos da seca. No estudo, os locais com maior diversidade de espécies sofreram menos com a seca, talvez porque há mais espécies com capacidade de se adaptar às novas condições, e sua resiliência compensa uma possível perda de outras espécies mais frágeis.

REINALDO JOSÉ LOPES / Folhapress

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