Dorival deixa brigas contra o rebaixamento para trás no caminho até a seleção

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Até alguns anos atrás, o nome de Dorival Júnior, 61, raramente aparecia entre os mais cotados para assumir o posto de treinador da seleção brasileira.

Apesar de campanhas vitoriosas que lhe renderam sete títulos estaduais ao longo da carreira, acabou tendo como trabalhos mais lembrados nos anos 2010 as brigas contra o rebaixamento, como foi o caso com o Palmeiras, em 2014, e com o São Paulo, em 2017.

O seu anúncio como o substituto de Fernando Diniz, escolhido pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para conduzir o time pentacampeão até a Copa de 2026, se não causa o mesmo entusiasmo que o nome de grandes técnicos europeus, também não surpreende.

Após amadurecer seu trabalho com os times que brigavam na parte de baixo da tabela de classificação, Dorival Júnior se colocou nos últimos anos como um dos treinadores mais vitoriosos do país.

O paulista de Araraquara, que teve algum destaque como volante entre os anos 1980 e 1990 em times como Palmeiras, Grêmio e Botafogo-SP, chegou ao Flamengo no meio de 2022 e conseguiu recolocar o time no caminho dos títulos, depois de zero taça levantada pelos antecessores Paulo Sousa e Renato Gaúcho.

Colheu os frutos de fazer a aposta pedida havia tempos pela torcida de escalar Pedro e Gabigol juntos no ataque, municiados por um meio de campo com Arrascaeta e Everton Ribeiro. Apostando nessa formação, o técnico obteve a segunda Copa do Brasil de sua carreira e triunfou na Copa Libertadores em 2022.

Apesar dos títulos e de contar com o apreço dos jogadores, acabou rifado pela diretoria rubro-negra, que buscava um nome de mais grife. O escolhido foi o português Vítor Pereira, demitido meses depois.

No trabalho seguinte, no São Paulo, Dorival ergueu mais uma Copa do Brasil justamente em cima do Flamengo, que era comandado por outro nome badalado, o argentino Jorge Sampaoli.

O bom momento abriu o caminho para que viesse o convite para a seleção brasileira, desejo assumido por Dorival em publicação feita nas redes sociais no domingo (7).

“Deixo o São Paulo, hoje, pronto para enfrentar os desafios da temporada. No rumo certo e com grandes pessoas e profissionais os guiando”, escreveu Dorival. “Chegou a hora de encarar outro desafio, que também era um de meus sonhos, e peço que todos entendam minha decisão.”

À frente da seleção brasileira, além de conviver com a constante instabilidade na direção da CBF, Dorival terá como desafio recuperar a equipe da má fase na qual terminou 2023.

Com Fernando Diniz, o Brasil acumulou marcas negativas dentro de campo, como a sequência inédita de três derrotas nas Eliminatórias, que deixaram a equipe na sexta posição -última que garante vaga direta ao Mundial.

Na seleção, o treinador também deve voltar a trabalhar com Neymar pela primeira vez desde que protagonizou uma das maiores polêmicas da carreira.

Em 2010, Dorival foi demitido do Santos, mesmo após ter conquistado o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil, em um braço de ferro perdido contra Neymar. Ele impediu o então jovem atacante de bater um pênalti e o afastou do time por sua reação contra a comissão técnica.

“Acho que estou fazendo o melhor para o atleta. Para o clube, talvez, mas é o melhor para o atleta”, afirmou Dorival à época, em referência à decisão de manter o atacante afastado do time titular -o que acabou resultando em sua demissão.

Passados 14 anos do episódio, os dois devem se reencontrar em momentos bastante distintos da carreira. Dorival vive seu auge, no posto que sempre almejou de treinador da seleção brasileira, enquanto Neymar está longe da melhor fase, em uma liga de pouca expressão no futebol mundial e com previsão de retorno aos gramados apenas no segundo semestre por conta de uma lesão.

Raio-X | Dorival Junior, 61

Novo técnico da seleção brasileira, nasceu em Araraquara, em 25 de abril de 1962. Atuou nos anos 1980 e 1990 como volante por times como Guarani, Palmeiras, Grêmio, Botafogo-SP, Avaí e Juventude. Como treinador, foi campeão estadual sete vezes, é tricampeão da Copa do Brasil e uma vez campeão da Copa Libertadores.

TRAJETÓRIA E LUTAS CONTRA O REBAIXAMENTO DO TREINADOR DORIVAL JUNIOR RUMO À SELEÇÃO BRASILEIRA

2002 – Ferroviária

Dorival estreia como treinador pelo time de Araraquara que o revelou para o futebol e evita a queda para a 4ª divisão do Paulista.

2006 – São Caetano

Assumiu o time do ABC Paulista na penúltima posição do Campeonato Brasileiro e não consegue impedir o rebaixamento para a Série B. No ano seguinte, foi vice-campeão paulista.

2009 – Vasco

Técnico obtém o primeiro título de projeção nacional, com a conquista da Série B do Campeonato Brasileiro.

2010 – Santos

Conquista o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil, mas é demitido após se envolver em uma polêmica com Neymar.

2010/2011 – Atlético-MG

Assume em setembro com o time na penúltima posição e com quase 90% de chance de rebaixamento. Engata sete vitórias e salva o clube da queda para a 2ª divisão.

2013 – Fluminense

É contratado novamente para tentar evitar a queda do time já na zona do rebaixamento e só se salva devido à punição ao Flamengo pela escalação irregular de um jogador.

2014 – Palmeiras

Dorival chega em setembro em mais um trabalho para evitar a queda para a Série B. A permanência foi confirmada apenas na última rodada.

2015 – Santos

Encontra o time da Baixada na 18º posição na tabela de classificação, tem uma boa sequência de resultados e encerra o campeonato em 7º e com o vice da Copa do Brasil.

2017 – São Paulo

Novamente assume um time na zona do rebaixamento, na penúltima posição. Contando com papel decisivo do meia Hernanes, impede mais uma queda, com o time terminando em 13º.

2022 – Flamengo

Chega para a terceira passagem no clube carioca e conquista a Copa do Brasil e a Copa Libertadores, mas não tem o contrato renovado.

2023 – São Paulo

Leva o time do Morumbi ao primeiro título da Copa do Brasil e recebe o convite para comandar a seleção brasileira até a Copa de 2026.

TÍTULOS DE DORIVAL JUNIOR COMO TREINADOR

São Paulo

Copa do Brasil (2023)

Flamengo

Copa do Brasil (2022), Copa Libertadores (2022)

Athletico-PR

Campeonato Paranaense (2020)

Santos

Campeonato Paulista (2010 e 2016) e Copa do Brasil (2010)

Internacional

Recopa Sul-Americana (2011) e Campeonato Gaúcho (2012)

Vasco

Série B (2009)

Coritiba

Campeonato Paranaense (2008)

Sport

Campeonato Pernambucano (2006)

Figueirense

Campeonato Catarinense (2004)

LUCAS BOMBANA / Folhapress

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