RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Quem passa pela Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, já conhece a paisagem: o prédio cilíndrico de 120 metros de altura e inacabado destoa dos demais edifícios. É a chamada torre H, também conhecida como torre Abraham Lincoln, que fazia parte do plano urbanístico projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer para o centro do bairro.
O projeto, datado do fim da década de 1960 e início de 1970, era da empresa Desenvolvimento Engenharia, de Múcio Athayde. Na época, a Barra era uma área de areal. O empresário, que morreu em 2010, tinha a ambição de construir 76 torres cilíndricas residenciais, com áreas de lazer e serviço que se interligavam.
O projeto ousado recebeu o nome de Athaydeville. Atrasos nas obras e uma crise financeira da empresa, no entanto, fizeram com que o plano nunca saísse do papel. Das 76 torres, apenas 3 foram erguidas. Entre elas, a Torre H, cujas obras foram paralisadas em 1984.
Ao longo de quatro décadas, o prédio foi abandonado e ficou deteriorado. Se tornou pivô de brigas judiciais entre a empresa, que decretou falência em 2005, e compradores dos apartamentos que nunca ficaram prontos. Chegou até ser ocupado, em 2004, por famílias de baixa renda que foram expulsas de lá pelo poder público.
Quarenta anos depois, vive um novo capítulo e uma nova promessa. Nos últimos anos, a incorporadora Capital 1 adquiriu 85% dos apartamentos, parte vendidos em leilões da massa falida, parte em negociação com os compradores originais. A empresa pretende agora reocupar o prédio.
A ideia do empreendimento, que rebatizou a torre H de Niemeyer 360º Residences, é entregar o prédio em 2025. Para isso, conta com a participação dos proprietários dos 15% restantes do edifício, que pagam uma taxa extra mensal para, enfim, poder se beneficiar da aquisição feita no passado.
Segundo a incorporadora, os custos totais para reformar o prédio inacabado e inaugurá-lo giram em torno de R$ 150 milhões. Cerca de R$ 70 milhões já foram gastos, de acordo com o sócio da Capital 1 Antonio Carlos Osório.
Desde novembro, os futuros apartamentos já podem ser comprados. São estúdios de 40 m² a duplex de 80 m² que custam a partir de R$ 620 mil. Segundo a Capital 1, o VGV (Valor Geral de Vendas) é de R$ 280 milhões.
Quem assina a modernização da fachada da torre é o bisneto de Oscar Niemeyer, Paulo Sérgio Niemeyer, o único da família a se manter no ramo da arquitetura.
“Eu fico muito orgulhoso de participar desse projeto. Apesar de todo o tempo que passou, a torre é muito atual mesmo sendo de 1970. Considero um dos projetos urbanísticos mais inovadores, com um conceito modernista mas funcional”, disse Paulo Sérgio à Folha de S.Paulo.
“Cheguei a visitar a torre quando era pequeno, com o meu pai [o arquiteto Walter Makhohl]. Eu digo que sou o filho da arquitetura, então estou feliz de poder completar esse projeto que era do meu bisavô”.
No período que ficou abandonada, a torre chegou a receber laudos indicando riscos à sua estrutura por conta da corrosão e da falta de manutenção das obras. Procurada, a Defesa Civil do Rio afirmou que fez duas vistorias no prédio nos últimos dois anos.
A última foi no dia 14 de dezembro, após denúncia sobre o mau estado de conservação do prédio. Ao chegar no local, a Defesa Civil constatou que a obra do novo empreendimento estava em andamento, mas não conseguiu entrar no interior do terreno.
A outra vistoria foi feita em 22 de março de 2022 e constatou não existir nenhum risco iminente de queda das estruturas nem desabamentos. Um laudo particular da incorporada, feito pela Cietec Engenharia, atesta que a torre está segura.
“A estrutura principal da torre não apresenta qualquer manifestação patológica ou dano estrutural importante, que venha a comprometer a estabilidade e segurança da edificação. Não existe qualquer dano na estrutura, acréscimo de carregamento ou outro motivo qualquer que justifique a necessidade de prova de carga estática na estrutura. Poucas fissuras irrelevantes foram identificadas, geralmente em elementos secundários, e deverão ser tratadas apenas para garantir uma maior vida útil à estrutura”, diz o documento.
O sócio do novo empreendimento garante que a torre H ficará pronta até o fim do ano que vem e que, finalmente, o edifício cilíndrico simbólico deixará de ser apenas um esqueleto no centro da Barra. Antonio Carlos Osório afirma que, com a modernização do prédio, ele será uma oportunidade não só de habitação, mas de investimento.
“A expectativa aqui é que [o apartamento na torre] dê uma rentabilidade de 1,5% a 2% se forem usados como Airbnb. Já está na convenção do condomínio a previsão expressa para que as unidades possam ser usadas como aluguéis por temporada”, afirmou.
CAMILA ZARUR / Folhapress