RECIFE, CE (FOLHAPRESS) – Distante da governadora Raquel Lyra (PSDB), o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto (PSDB), vem de uma família política tradicional do agreste meridional do estado. É visto por aliados como homem de posições firmes e por adversários como intempestivo.
Raquel e Álvaro são do mesmo partido, mas isso não impediu o desgaste da relação política e partidária. Os dois tiveram embates sucessivos ao longo do ano, com derrotas para a governadora no Legislativo e o estopim da antecipação da reeleição de Álvaro para presidente da Assembleia.
Policial civil, seu reduto político é a cidade de Canhotinho, a 210 km do Recife e com 24 mil habitantes, onde foi prefeito, assim como o seu pai e o sobrinho, que o sucedeu.
Álvaro entrou na política sob influência do pai, Lourival Mendonça, e do irmão, Carlos Porto, que foi deputado estadual entre 1979 e 1990, antes de ir para o Tribunal de Contas do Estado.
Hoje, quem governa a cidade é Sandra Paes, esposa do deputado. Ou seja, a família Porto está no poder em Canhotinho desde 2005.
O grupo expandiu as bases em 2020, quando Alvinho Porto, filho de Álvaro, foi eleito prefeito de Quipapá, cidade vizinha a Canhotinho, com 18 mil habitantes. Renunciou ao cargo em dezembro de 2023, mas o novo prefeito, ex-vice, é aliado do grupo político.
A família também está no Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, onde Eduardo Porto, sobrinho do presidente da Assembleia Legislativa, é um dos conselheiros.
Ele foi aprovado em maio deste ano para a vaga, substituindo o próprio pai, Carlos Porto, em articulação de Álvaro. Os deputados também decidiram que as escolhas seriam via votação secreta, o que desagradou ao governo.
A aprovação de Eduardo para o TCE foi um dos motivos de desgaste de Raquel com Álvaro. Ela tinha preferência por uma mulher para a vaga, a deputada estadual Débora Almeida (PSDB).
Outro tema de discórdia foi a votação da segunda vaga aberta para o TCE, em maio, quando os parlamentares escolheram o então deputado estadual Rodrigo Novaes, do PSB, que é da oposição.
Nos bastidores, Álvaro precisou se aliar ao partido para ganhar musculatura na votação para a presidência da Alepe. Em 2022, após as eleições gerais, fechou acordo com o PSB para ter votos dos deputados em troca do apoio a Novaes para a vaga no TCE.
A aliança com o PSB o fortaleceu para evitar uma possível articulação de Raquel em prol de outro deputado, Antônio Moraes (PP), tido como preferido dela no Legislativo.
Álvaro a irritou ao ir, em dezembro de 2022, para uma confraternização de despedida do então governador Paulo Câmara (PSB). Como o candidato da governadora não se viabilizou internamente, Álvaro foi candidato único.
Os deputados costumam elogiá-lo e dizem que dá protagonismo ao colegiado, evita tomar decisões sozinho e afaga os colegas inclusive com presentes trazidos do interior, como calçados e queijos, e ampliação de cargos nos gabinetes. Ele também faz confraternizações com deputados em sua casa em Canhotinho.
Com origem na região onde nasceu o presidente Lula (PT), Álvaro é um político de direita. Neste ano, o sobrinho Felipe Porto, que o sucedeu na prefeitura de Canhotinho, foi nomeado pelo ministro de Portos e Aeroportos de Lula, Silvio Costa Filho, para a Infraero em Pernambuco.
Em 2010, o ex-vice-presidente Marco Maciel, do extinto DEM, foi o mais votado em Canhotinho, tendo Álvaro como cabo eleitoral, em um estado à época dominado pela esquerda de Lula e Eduardo Campos (PSB), então governador. O município foi um dos poucos onde Maciel foi o mais votado no estado, foi derrotado.
Após deixar a Prefeitura de Canhotinho, Álvaro foi eleito deputado estadual em 2014, em pleito no qual seu irmão, o então deputado Eduardo Porto, perdeu. Apesar disso, não houve estremecimento familiar na relação entre os dois na ocasião. Álvaro foi reeleito em 2018 e em 2022.
Também tem boa relação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O deputado alagoano cria bois em Quipapá (PE), uma das cidades dominadas pelo grupo político do pernambucano.
Um receio de aliados de Raquel é que Álvaro tente assumir o comando do Executivo. Isso porque, até 2026, será o segundo na linha sucessória do estado, já que articulou a antecipação da eleição da Mesa Diretora do biênio 2025/26 para novembro, quando foi candidato único.
Aliados de Álvaro descartam essa possibilidade, mas admitem que a antecipação da reeleição se deu por temor de que Raquel lançasse um candidato em 2025 e usasse a máquina estadual para conquistar votos na Assembleia.
Outro foco de intriga foi nas eleições de 2022. Raquel sinalizou a aliados, ainda no primeiro turno, que Álvaro não estaria fazendo campanha para ela e reclamou porque o deputado subiu em um palanque com o candidato Miguel Coelho (União Brasil) no sertão.
Álvaro alega a correligionários que subiu no palanque porque o grupo político da cidade de Carnaíba apoiava ele e Miguel ao mesmo tempo. Lembra também que Canhotinho foi a cidade que mais deu votos percentualmente a Raquel no primeiro turno.
Na eleição, a governadora determinou que a campanha de Álvaro recebesse R$ 1 milhão do fundo do PSDB. Por isso, secretários da governadora dizem que ele foi ingrato.
Neste ano, Raquel sofreu derrota na Assembleia também na votação de vetos ao projeto de Orçamento. Outras propostas de interesse do Executivo tiveram aprovação na Casa, mas com alterações. Os parlamentares se queixam da ausência de diálogo nas propostas.
O tensionamento chega ao partido de ambos, o PSDB. No final de novembro, Raquel indicou o empresário Fred Loyo, um dos financiadores da sua campanha de 2022, para sucedê-la na presidência do partido em Pernambuco. Álvaro alegou ausência de diálogo da governadora.
Em novembro, durante o lançamento de um plano estadual de segurança, ele também disse que, “para enfrentar bandidos, os policiais não podem ir com um buquê de flores” e mencionou um episódio no qual, uma semana antes, no Recife, policiais foram punidos após matar dois homens durante ação no bairro do Detran.
O governo abriu investigações sobre a ação policial e inicialmente a própria PM deteve os policiais. Nos bastidores, Raquel classificou a fala de Álvaro de desnecessária.
JOSÉ MATHEUS SANTOS / Folhapress