SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESSS) – Edemar Cid Ferreira, fundador e antigo controlador do falido Banco Santos e que ficou famoso como colecionador de obras de arte e pela mansão extravagante que construiu no Morumbi, em São Paulo, morreu neste sábado (13), aos 80 anos, na capital paulista.
Em texto publicado na Folha em fevereiro de 2011, o economista disse que estava “patente que não houve ‘rombo bilionário’ algum na instituição”, e que isso foi um “pretexto para a intervenção do Banco Central”.
Leia o texto na íntegra abaixo:
Uma das notícias mais repetidas em 2004 foi a intervenção e falência do Banco Santos, motivadas por um “rombo” de R$ 2,2 bilhões.
Seis anos depois, as contas do Banco Central (BC) foram corrigidas pela vida real. Do tal “rombo” de R$ 2,2 bilhões, o administrador da massa falida já arrecadou R$ 1,2 bilhão e receberá outros R$ 200 milhões em pagamentos a prazo.
O banqueiro e ex-controlador do banco Santos, Edemar Cid Ferreira Daniel Marenco – 28.mar.2011/Folhapress **** Esses valores, mais R$ 700 milhões em descontos concedidos pelo administrador da massa aos devedores, perfazem R$ 2,1 bilhões.
Além disso, corre na Justiça a cobrança de outros R$ 3 bilhões que irão engordar o caixa da massa falida em benefício dos credores –já existem sentenças favoráveis em 1ª e 2ª instâncias.
Debitando-se R$ 500 milhões em debêntures de empresas holding do Banco Santos –Procidpar e Procid Invest–,são R$ 4,6 bilhões positivos, a demonstrar que a intervenção e a falência foram indevidas.
Então, que “rombo” foi esse, em que os créditos do Banco Santos eram de R$ 4,6 bilhões e os débitos eram de R$ 2,2 bilhões? O “rombo” era só uma farsa.
Uma rápida cronologia: em maio de 2004, o BC instalou cerca de 30 fiscais no Banco Santos. Esse fato foi amplamente divulgado pela imprensa e assustou o mercado. Houve uma série de saques de clientes.
Em novembro, mesmo com caixa positivo, o Banco Santos recorreu ao redesconto, solicitando R$ 700 milhões para suportar novos saques. Mas o Banco Central recusou o desembolso e, três dias depois, interveio no banco, que era saudável e tinha caixa positivo.
Hoje, está patente que não houve “rombo bilionário” algum na instituição e que isso foi mero pretexto para a intervenção. Não maquiei balanços, não desviei recursos nem fiz “lavagem de dinheiro”.
Sempre acreditei e acreditarei na Justiça, que começa a mostrar, por meio de centenas de sentenças favoráveis, que a razão estava do meu lado.
As informações erradas do BC e do interventor –materializadas no “Relatório Vânio”– levaram a uma ação de responsabilidade na falência que determinou que os 22 diretores do Banco Santos paguem à massa falida R$ 2,2 bilhões.
O “Relatório Vânio” e suas desastrosas previsões não se concretizaram. O então interventor e liquidante é o mesmo funcionário do Banco Central que hoje, no papel de administrador judicial, fiscaliza a si próprio. Não defende os credores, só os devedores.
A maioria dos devedores só começou a ser cobrada dois a três anos após a intervenção e pagou com descontos –que chegavam a 75% para grandes empresas. Descontos dessa grandeza não encontram paralelo no mundo dos negócios, pois eram dívidas contraídas por empresas de porte e com boa saúde financeira.
Para adiar o pagamento das suas dívidas, tais empresas alegaram falsamente na Justiça que, para obter os empréstimos, eram “obrigadas” a aplicar em papéis de empresas vinculadas ao Banco Santos ou ao seu controlador.
Hoje, já há centenas de sentenças judiciais rejeitando a falácia e obrigando tais empresas a quitar suas dívidas com a massa falida. Por sua vez, os principais credores do Banco Santos, incluindo vários fundos de pensão, entraram com ações judiciais contra os acordos que deram descontos de até 75% aos devedores.
Por outro lado, recursos externos que entraram no Brasil e estavam registrados legalmente no Banco Central foram, irresponsavelmente, apontados pela Justiça Federal como oriundos do Banco Santos.
A Justiça concluirá que se trata de mais uma invenção do então interventor e hoje administrador judicial da massa falida.
Quanto ao recentíssimo despejo de minha esposa Marcia Costa Cid Ferreira e de nossa família da casa de propriedade dela, na rua Gália, 120, onde vivemos há 23 anos, é cedo demais para comentá-lo, pois a decisão final cabe à Justiça.
Redação / Folhapress