BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Deputados e senadores do Partido Liberal saíram em defesa do presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, após o dirigente partidário ser alvo de críticas nas redes sociais por ter elogiado os governos anteriores do presidente Lula (PT) e a indicação de Ricardo Lewandowski para o Ministério da Justiça.
Os parlamentares divergem sobre as expectativas em torno da condução da política de segurança pública de Lewandowski; são unânimes, porém, em defender Valdemar, que na opinião deles é um líder político prestigiado e que não abandonou o bolsonarismo.
“O Valdemar Costa Neto é um dos dirigentes partidários com maior credibilidade e postura partidária que eu conheço. Meu desagravo a ele”, disse o senador Eduardo Gomes (PL-TO), que foi líder do Congresso no governo Jair Bolsonaro (PL).
“Você precisa entender que não é bom radicalizar nestes momentos. O Brasil vive uma disputa polarizada e, por isso, a composição do governo tem várias configurações. Em determinado momento, até os partidos de oposição dão apoio ao governo. No caso do Valdemar nem isso tem.”
Gomes disse ainda que Lewandowski tem uma “carreira consagrada”, mas preferiu não manifestar apoio ou contrariedade à escolha de Lula para a sucessão de Flávio Dino. “A escolha de ministro de Estado é prerrogativa do presidente da República, e a nomeação dele é a Presidência sendo respeitada”, concluiu.
O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-SP), 2º vice-presidente da Câmara dos Deputados, disse que Valdemar já se explicou sobre os elogios ao governo petista diante “desses ataques”. “Eu retuitei e compartilhei o esclarecimento dele”, afirmou.
O parlamentar ainda disse que a escolha de Lewandowski é uma decisão de Lula. “Nós, da oposição, temos que aguardar a posse e fiscalizar o trabalho. Nada mais.”
Ex-presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, o deputado Capitão Augusto (PL-SP) avalia que o ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) já demonstrou posição contrária ao endurecimento do Código Penal.
“Ele sempre pregou contra o encarceramento, achando que isso não é a solução. E nós, da bancada da bala, sabemos que a questão da segurança é complexa, mas você tem as soluções de curto, médio e longo prazo […]. No curto prazo, a única forma é endurecer a legislação penal para o marginal sentir o peso da mão da Justiça”, defendeu Augusto.
Apesar da posição contrária à de Valdemar, o parlamentar defendeu que o dirigente partidário é “amplamente reconhecido como um grande líder, admirado e respeitado por muitos”.
“As críticas e ‘cortes’ frequentemente mencionados são, em muitos casos, tirados de contexto e disseminados por opositores que desejam criar divisão dentro do partido. Esses ataques desconsideram injustamente os esforços e a dedicação de Valdemar. Reconhecer suas realizações e apoiá-lo em seu contínuo trabalho de fortalecimento da direita é essencial para o futuro político do Brasil”, concluiu.
Atual presidente da frente da segurança pública, o deputado Alberto Fraga (PL-DF) disse que o fato de Lewandowski ter sido o responsável pela criação da audiência de custódia revela que o trabalho do ministro na Justiça será “um desastre”.
“A indicação do Lewandowski é um desastre, é o pagamento de um favor que ele prestou ao ‘descondenado’ Lula. Nós sabemos que vamos ter um ministro da insegurança pública, porque ele não tem nenhum tipo de conhecimento técnico dessa área”, afirmou Fraga, engrossando o coro divergente à posição de Valdemar.
Para o deputado Sargento Gonçalves (PL-RN), membro da Comissão de Segurança Pública da Câmara, Ricardo Lewandowski deve ter uma gestão menos atribulada com o Congresso do que a de Dino.
“Tivemos uma péssima experiência no último ano com Flávio Dino à frente do ministério. Esperamos que o novo ministro tenha um comportamento oposto ao de seu antecessor. Queremos dialogar e esperamos que sejamos ouvidos pelo novo ministro da Justiça e Segurança Pública.”
As críticas ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, se intensificaram na sexta (12) após ele ter elogiado a decisão de Lula de nomear Ricardo Lewandowski para comandar o Ministério da Justiça.
“Lewandowski tinha tudo para ir pro Ministério da Justiça. Ele é preparado, homem de bem, homem que sempre teve comportamento firme. [Lula] Acertou, como não. Como no caso do [Cristiano] Zanin, não foi boa indicação?”, disse à Folha.
Além da declaração elogiosa, Valdemar viu surgirem nas redes sociais recortes de uma entrevista concedida em dezembro ao jornal O Diário. Na gravação, o dirigente diz que Lula é “camarada do povo” e disse que o petista é “completamente diferente de Bolsonaro”.
“O Lula tem muito prestígio, [mas] não tem o carisma que o Bolsonaro tem, a popularidade. O Bolsonaro é um fenômeno. (…) Hoje ele chegou em Curitiba, aeroporto lotado, depois da eleição. (…). Ninguém consegue isso no planeta, é um fenômeno”.
Outro momento do vídeo explorado nas redes sociais é quando Valdemar elogia a atuação de Lula em governos anteriores. “O Lula tem prestígio, popularidade. Ele é conhecido por todos os brasileiros. O Bolsonaro não. O Bolsonaro teve um mandato só.”
Em meio à repercussão dos casos, o presidente do PL publicou um texto neste sábado (13) para se explicar sobre as declarações.
“Estão me atacando usando uma fala minha sobre o Lula que está fora de contexto. A esses, deixo um recado: quem não tem lealdade e fidelidade, tem vida curta na política. Sou leal ao Bolsonaro e fiel aos meus princípios. Quem me conhece sabe que minha palavra não faz curva”, afirmou.
CÉZAR FEITOZA / Folhapress