Candidato do PSOL tenta fugir do isolamento e disputar bandeira de Lula com Paes no Rio

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O deputado federal Tarcísio Motta (PSOL) tenta neste ano quebrar a tradição de isolamento de seu partido nas eleições no Rio de Janeiro para evitar a polarização da disputa para a prefeitura entre Eduardo Paes (PSD) e o nome bolsonarista no pleito, atualmente o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Tarcísio busca alianças com PDT, PSB e PT, embora todos gravitem, em maior ou menor grau, em torno do projeto de reeleição do prefeito. O deputado do PSOL afirma que, com ou sem alianças, pretende reivindicar a plataforma política do presidente Lula, apoiador de Paes, para sua candidatura.

“Nessa disputa, vamos reivindicar o legado do governo Lula. Eduardo transita de um lado ao outro de acordo com o seu oportunismo político. Mesmo no segundo turno da eleição passada, ele só entrou na campanha quando analistas diziam que Lula poderia ganhar no primeiro turno. Nós buscaremos essa identidade programática e política com o Lula junto à sociedade”, disse o deputado.

O PSOL cresceu na cidade na esteira da ascensão política do ex-deputado Marcelo Freixo, atualmente no PT e presidente da Embratur. Ele encabeçou duas candidaturas à prefeitura e, em 2016, chegou ao segundo turno contra o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos).

Tarcísio foi um dos nomes que cresceram junto com o partido. Em 2014, ficou em quarto lugar na disputa ao Governo do Rio de Janeiro, tendo superado o candidato do PT, Lindbergh Farias, na capital. Em 2018, ficou em 3º. Em 2020, foi reeleito para o terceiro mandato na Câmara Municipal como o mais votado, superando Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em todas as candidaturas majoritárias no estado, o PSOL não conseguiu firmar alianças com partidos com membros no Congresso, o que aumenta o tempo de TV. A dificuldade em ceder nas negociações foi um dos motivos da saída de Freixo da sigla em 2022.

Tarcísio afirma que o partido vem alterando sua resistência às alianças.

“O PSOL, desde o segundo turno de 2018, há mais de quatro anos, se abriu para essa possibilidade de aliança. Em 2020, estávamos construindo uma unidade com partidos de esquerda, mas o Marcelo abriu mão da candidatura. Em 2022, o apoiamos no PSB ao governo.”

O objetivo mais imediato do PSOL é tentar atrair o PDT para a campanha. O partido tem um secretário na gestão Paes (Everton Gomes, na pasta de Trabalho e Renda), mas mantém a deputada estadual Martha Rocha (PDT) como pré-candidata. Ela ficou em terceiro lugar em 2020 e era uma das principais preocupações da equipe de campanha de Paes naquela disputa.

“As pesquisas mais recentes mostraram um bom desempenho da deputada Martha Rocha, então ela permanece como pré-candidata. Mas continuamos dialogando com Paes e Tarcísio”, disse o ministro Carlos Lupi (Previdência), presidente do PDT.

Martha afirmou que não pretende abrir mão da pré-candidatura, mas que mantém o diálogo com o PSOL. “O diálogo é importante porque o que está dado é que a disputa irá para o segundo turno”, disse ela.

Tarcísio também tenta atrair o PSB. O deputado afirma esperar reciprocidade da sigla após ter apoiado a candidatura do ex-deputado Alessandro Molon (PSB) ao Senado, contrariando os desejos do PT, que lançou o ex-presidente da Assembleia Legislativa André Ceciliano (PT).

“Com o PSB, na minha opinião, o diálogo está aquém do esperado. Apoiamos Molon em 2022 com muita força e esperávamos que a conversa de unidade programática continuasse agora”, disse Tarcísio.

O PSB tem como filiada Tatiana Roque, secretária de Ciência e Tecnologia da gestão Paes. Ela, porém, não é vista como uma indicação do partido, mas do deputado Eduardo Bandeira de Mello (PSB-RJ). A sigla mantém conversas com Eduardo Paes e com Tarcísio.

A decisão, porém, será do Diretório Nacional a depender das composições em outras capitais, o que dá preferência ao PSD de Paes. A análise sobre a força da pré-candidatura de Ramagem também pode pesar para o apoio à reeleição do prefeito, a fim de evitar a vitória do bolsonarismo na cidade.

O PT, por sua vez, é encarado como um desejo distante, visto que a sigla tem três pastas na gestão Paes e o prefeito conta com o apoio pessoal do presidente.

Ainda assim, uma ala da sigla, encabeçada pelo deputado Lindbergh Farias, vem defendendo o embarque na candidatura de Tarcísio caso Paes não ceda o posto de vice para o PT. O PC do B, que integra federação com o PT, também tem se aproximado do deputado, mas tem seu destino atrelado à sigla do presidente.

Tarcísio usa nas conversas com os partidos o argumento de que uma coligação com o PSOL garante aos aliados a manutenção da bandeira de esquerda na cidade.

“É possível tirar o bolsonarismo do segundo turno no Rio. Quem vai perder se não estiverem conosco são os outros partidos de esquerda”, disse ele.

Mesmo se ficar sem coligação, como nos anos anteriores, o deputado do PSOL afirma ser possível disputar o segundo turno contra Paes.

Tarcísio foi escolhido pré-candidato ao PSOL após uma disputa interna com o deputado federal Glauber Braga e a deputada estadual Renata Souza.

ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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