Os peritos médicos do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) param por 24 horas nesta quarta-feira (17). Será a primeira de três paralisações marcadas para o mês de janeiro. A categoria reivindica reajuste salarial de 23%, contratação de ao menos 1.500 novos peritos e que o governo cumpra o acordo fechado em 2022, após a categoria realizar greve que durou 52 dias.
Apesar do anúncio de paralisação dos peritos, o segurado com consulta agendada deve comparecer ao local da perícia na hora marcada e com a documentação em mãos. Segundo advogados especialistas em direito previdenciário, se a pessoa faltar e o perito comparecer no trabalho, ela perde a data de agendamento e só pode marcar novamente após 30 dias.
“A gente sempre orienta que, mesmo havendo uma possibilidade de greve ou alguma evidência de não-atendimento, o segurado compareça na agência, porque pode acontecer de nem todas as agências ou nem todos os peritos aderirem, e o segurado vai ser considerado ausente e perder aquela marcação, perder atrasados [valores retroativos], perder aquela concessão”, afirma Juliane Penteado, coordenadora do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário) pela região Centro-Oeste.
Priscila Arraes Reino, do escritório Arraes & Centeno Advocacia, diz que o segurado deve documentar que esteve no local e na hora marcados da perícia. A prova pode ser uma foto tirada por celular do próprio segurado com aviso da paralisação na agência, com o servidor ou o vigilante que estiver na portaria.
Se não for atendido porque o perito aderiu à paralisação, o segurado tem até sete dias para ligar para o 135 e reagendar o atendimento.
Para os segurados com exame presencial agendado, é possível antecipar a análise pelo Atestmed. Para isso, devem entrar no site e enviar o atestado e os documentos exigidos, sem rasura.
Se a demora para a realização da perícia for superior a 45 dias desde o requerimento inicial, o segurado pode procurar a Justiça.
A ANMP (Associação Nacional dos Médicos Peritos) afirma que o governo federal foi notificado sobre a paralisação há 30 dias, mas não procurou os profissionais para negociar. Segundo Francisco Cardoso, vice-presidente da ANMP, o último reajuste concedido aos peritos foi de 9%, em 2023 -o mesmo dado pelo governo Lula a todo o funcionalismo- , mas a defasagem da categoria está em 27%, porque não houve concessão de nenhum aumento salarial para a categoria no governo Bolsonaro.
“Vamos dar a resposta que o governo merece, pela dignidade, pela carreira, pela vergonha. Vocês todos, sócios e não sócios, têm que dar resposta ao governo, têm que paralisar o Brasil inteiro”, afirmou o presidente da ANMP, Luiz Carlos Argolo, em vídeo publicado em rede social nesta terça-feira (16).
“Colegas, o alerta está claro, o governo está secando e extinguindo a carreira. Eles vão tirar tudo que conquistamos se a gente não reagir. Já estão até aumentando a contribuição previdenciária do regime geral. Vocês não podem mais esperar, não há mais para onde esperar. Ou a gente reage agora ou já era, esquece, vai acabar tudo”, disse Cardoso na sequência.
Sobre o acordo referente à greve de 2022, a categoria diz que ao menos seis pontos estariam sendo desrespeitados, incluindo uma mudança na tabela de pontos para reduzir pontuação de tarefas, fazendo um aumento indireto da meta de produção diária e o fim do agendamento programado para que o perito possa ele mesmo programar suas tarefas.
Procurado pela Folha, o Ministério da Previdência afirmou que não vai se manifestar sobre a paralisação e as reivindicações dos peritos.
PERÍCIA OBRIGATÓRIA
A perícia médica é obrigatória para a concessão de auxílio-acidente, auxílio por incapacidade temporária -antigo auxílio-doença-, e aposentadoria incapacidade permanente -antiga aposentadoria por invalidez.
Há ainda outros benefícios, como BPC (Benefício de Prestação Continuada), aposentadoria da pessoa com deficiência e aposentadoria especial, que necessitam da análise de um médico.
Desde novembro do ano passado, o INSS dispensa a análise de tempo especial por peritos médicos para a concessão da aposentadoria especial cujo agente prejudicial à saúde é “ruído”, conforme determinação do Ministério da Previdência Social.
De acordo com a portaria 1.630, o objetivo é liberar os peritos para que consigam realizar o maior número possíveis de exames periciais para concessão dos demais benefícios, cuja espera pode chegar a um ano.
Os peritos, cuja carreira é ligada ao Ministério da Previdência Social desde 2019, também são contra a implementação da teleperícia, pela qual as consultas médicas para liberação de benefícios por incapacidade são feitas online, por computador e celular.
Outra medida que tem incomodado os médicos peritos é a ampliação da plataforma Atestmed, que permite a análise à distância de atestados médicos enviados pelos segurados e a concessão de benefícios sem a necessidade de perícia.
O INSS quer que, até o final de abril, todos os benefícios por incapacidade temporária sejam concedidos só por atestado. Segundo o órgão previdenciário, as perícias físicas ficariam dedicadas a análises consideradas mais complexas.
Os médicos peritos são contra. Para eles, a medida vai contra a ética médica e o número de fraudes pode subir. A Previdência nega.
Nesta segunda (15), o INSS começou uma nova IA (inteligência artificial) para cruzar dados de paciente e médico e evitar a concessão de benefícios por meio de atestados falsos.
ANA PAULA BRANCO / Folhapress