SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira caiu 1,69% nesta terça-feira (16), em seu maior tombo diário desde o fim de julho de 2022, e terminou o dia aos 129.294 pontos, com investidores mais cautelosos em relação ao início do ciclo de queda de juros nos Estados Unidos. A escalada da tensão no Oriente Médio também preocupa o mercado.
O tom negativo prevaleceu desde o início do dia, mas a situação piorou após o diretor do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) Christopher Waller ter afirmado que a autoridade monetária não deve se apressar em cortar sua taxa básica de juros até que esteja claro que a baixa da inflação será sustentada.
Nos Estados Unidos, os principais índices de ações tiveram baixa, puxando os ativos locais. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq recuaram 0,62%, 0,37% e 0,19%, respectivamente. Já o dólar subiu 1,20%, terminando o dia cotado a R$ 4,924.
“Os mercados estão avaliando quando o Fed começa a cortar juros e qual será a velocidade desse corte. Hoje, o mercado está fazendo essa avaliação e colocando isso de volta nos preços. É fundamentalmente isso. Nenhuma grande mudança. É um desconforto do mercado, já que no final do ano a alta foi rápida e agora o mercado está refazendo as contas”, afirma Luís Moran, head da EQI Research.
Mais cedo, o chefe do banco central português, Mario Centeno, disse que um corte na taxa de juros deve fazer parte da discussão e que nenhuma opção deve ser retirada da mesa.
“Quando chegar a hora, discutiremos os cortes nas taxas”, disse Centeno à Reuters. “Se você me perguntar se este é o momento, acho que precisamos estar preparados para discutir todos os tópicos, e ser dependente de dados significa levar todos os dados em consideração.”
Seus comentários foram feitos depois que uma série de conservadores, incluindo Isabel Schnabel, membro do conselho do BCE, e Joachim Nagel, chefe do banco central alemão, disseram que era muito cedo para ter essa conversa.
A manutenção de juros altos por mais tempo nas economias avançadas tende a prejudicar a atratividade de divisas emergentes, como o real, uma vez que deixa moedas como o dólar e o euro já preferidas por serem extremamente seguras mais rentáveis para investidores estrangeiros.
O índice do dólar contra seis moedas rivais avançava 0,95% por volta das 15h (de Brasília), em linha com salto nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os chamados “treasuries”, que ultrapassaram a marca de 4% nesta terça.
“A gente vê um estresse na curva de juros americana, indicando que isso, de alguma forma, é também uma espécie de fuga para o seguro; o mercado, não só aqui no Brasil, mas no mundo inteiro, está comprando dólar para se proteger, eventualmente, de um aumento nas tensões no Oriente Médio”, disse Thiago Lourenço, operador da Manchester Investimentos.
A Guarda Revolucionária do Irã disse ter atacado a sede de espionagem de Israel na região semi-autônoma do Curdistão iraquiano, informou a mídia estatal na noite de segunda-feira, em uma área residencial próxima ao consulado dos EUA.
Os ataques ocorrem em meio a preocupações sobre a escalada de um conflito que se espalhou pelo Oriente Médio desde que a guerra entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas começou, em 7 de outubro.
“O Ibovespa perdeu um suporte muito importante, que era os 130 mil pontos, e está em queda. E isso está muito atrelado à intensidade do conflito no Mar Vermelho, que está gerando muita instabilidade no Brasil e no mundo. O Mar Vermelho é uma rota importantíssima, seja de insumos para as indústrias, seja de commodities. As maiores operadoras de contêiners e navios graneleiros estão tendo que desviar dessa rota. E isso acaba encarecendo os custos”, diz Dierson Richetti, especialista em investimentos e sócio da GT Capital.
JUROS FUTUROS PRESSIONAM IBOVESPA
No cenário local, o dia foi de forte alta nos mercado de juros futuros brasileiros. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 saíam de 10,06% para 10,12%, enquanto os para 2027 saíam de 9,76% para 9,93%.
Com isso, quase todas as empresas do Ibovespa registraram queda, com as maiores perdas sendo de Grupo Soma e Cosan, que caíram mais de 6%.
As empresas de maior volume, no entanto, eram as que faziam maior pressão no índice. Vale e Petrobras, as duas de maior peso do Ibovespa, caíram 1,30% e 1,24%, respectivamente, e foram as mais negociadas da sessão.
A SLC Agrícola foi a única empresa do índice a fechar em alta, com ganho de 1,97%
Redação / Folhapress