Bombeiros encontram dois corpos e sobem para oito as vítimas de naufrágio na Bahia

Por volta das 9h50 desta segunda-feira (22), bombeiros militares localizaram e recuperaram um corpo no canal, entre Loreto e Madre de Deus, possivelmente de uma das vítimas do naufrágio da embarcação neste domingo (21). O corpo vai ser deixado sob os cuidados de Departamento de Polícia Técnica (DPT) para identificação e demais procedimentos legais. Foto: Corpo de Bombeiros da Bahia.

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Equipes de buscas do Corpo de Bombeiros, Marinha e Polícia Militar localizaram na manhã desta terça-feira (23) os corpos de uma criança e um adulto, fazendo chegar a oito o número de mortos no naufrágio de um saveiro que fazia a travessia na baía de Todos-os-Santos entre a Ilha de Maria Guarda e o píer da cidade de Madre de Deus (65 km de Salvador).

Os corpos foram encontrados nas proximidades da Ilha de Maria Guarda e foram encaminhados para o Departamento de Polícia Técnica para identificação. Os dois têm características semelhantes às das pessoas que estavam desaparecidas, que eram um homem adulto e uma criança do sexo feminino.

O acidente aconteceu por volta das 22h de domingo (31). Cinco vítimas haviam sido identificadas até a noite de segunda —uma criança, uma adolescente, um homem e duas mulheres.

Os nomes das cinco vítimas identificadas foram divulgados pela Polícia Civil da Bahia: Ryan Kevellyn de Souza Santos, 22; Flaviane Jesus dos Santos, 29; Jonathan Miguel de Jesus Santos, 7; Caroline Barbosa de Souza, 17; e Rosimeire Maria Souza Santana, 59.

A embarcação fazia um trajeto de aproximadamente dez minutos entre Maria Guarda e Madre de Deus. Os passageiros voltavam de uma festa que fazia parte da programação do Madre Verão, evento organizado pela prefeitura.

Um inquérito da Capitania dos Portos vai apurar as causas e circunstâncias do acidente. Em entrevista à imprensa nesta segunda-feira (22), o capitão dos Portos da Bahia, comandante Wellington Lemos Gagno, afirmou que uma briga dentro da embarcação pode ter causado o acidente.

“Os inquéritos ainda vão apurar, mas uma briga pode ter levado as pessoas para um mesmo lado da embarcação. Isso move o centro de gravidade, tira estabilidade. Pode ser um dos fatores que levaram ao emborcamento da embarcação”, afirmou.

A Marinha afirma que a embarcação de nome “Gostosão FF” estava com documentação em dia, mas realizava transporte irregular de passageiros. O barco estava inscrito na Capitania dos Portos na classe “saveiro”, que deve ser usado exclusivamente em atividades de esporte ou recreação.

As autoridades ainda apuram um possível excesso de pessoas na embarcação no momento do acidente. Ainda não se sabe o número exato de passageiros a bordo, mas a Marinha diz que seriam ao menos 14.

Além dos oito mortos, outras seis pessoas foram hospitalizadas. Destas, duas tiveram alta médica e quatro continuavam internadas em hospitais da rede estadual. Não foram divulgados detalhes sobre o estado de saúde dos feridos, mas, segundo o Corpo de Bombeiros, todos estavam em UTI (Unidades de Terapia Intensiva).

O comandante da embarcação, que também é o proprietário do saveiro, ainda será ouvido pela polícia. O nome dele não foi divulgado.

A Marinha afirma que realizou ações de fiscalização neste domingo na região de Madre de Deus com um contingente de 12 marinheiros em três embarcações. E diz que, após ter sido informada sobre o naufrágio, acionou uma embarcação rápida que levou cerca de 45 minutos para chegar ao local do acidente.

A Força diz que não foi informada pela Prefeitura de Madre de Deus sobre a realização da festa na Ilha de Maria Guarda para um possível reforço na fiscalização. O prefeito de Madre de Deus, Dailton Filho (PSB), foi procurado pela Folha nesta segunda, mas não respondeu aos contatos da reportagem.

Em uma rede social, o prefeito disse que a gestão está mobilizada para garantir apoio às vítimas e seus familiares. No domingo, Dailton Filho havia ido à ilha de Maria Guarda para participar da festa organizada pela prefeitura.

47 MORTOS NA ÚLTIMA DÉCADA

Naufrágios e acidentes envolvendo embarcações na baía de Todos-os-Santos, uma das maiores do país, deixaram ao menos 47 mortos ao longo dos últimos dez anos. Os dados são da Marinha do Brasil, que registrou 238 acidentes na região desde 2014.

O naufrágio deste domingo, com ao menos seis mortos, é o segundo maior em número de vítimas na última década. O maior aconteceu em agosto de 2017, quando uma lancha que fazia o transporte de passageiros entre a Ilha de Itaparica e Salvador virou no meio da travessia, deixando 19 mortos.

A Polícia Civil concluiu o inquérito em 2018 e apontou como culpados pelo acidente o comandante, o engenheiro responsável e o proprietário da lancha. Fiscais da Marinha e da Agerba, órgão do governo estadual que atua na fiscalização do sistema de lanchas, não foram indiciados.

As investigações apontaram que o comandante da embarcação agiu com negligência e imperícia ao seguir viagem mesmo com ondas que chegavam a um metro de altura. Ele também seguiu por uma rota considerada mais perigosa e não adotou uma postura defensiva ao passar por bancos de areia.

O engenheiro técnico foi considerado responsável por erros nos cálculos que indicavam estabilidade da lancha. Já o proprietário foi apontado como negligente pelo fato de a embarcação não cumprir os critérios de estabilidade exigidos por lei.

A Marinha afirma que atua de forma constante e ostensiva na fiscalização de embarcações e do tráfego aquaviário na baía de Todos-os-Santos.

“Não há falta de fiscalização”, disse o capitão dos Portos da Bahia, comandante Wellington Lemos Gagno, em entrevista nesta segunda, após o acidente em Madre de Deus. Ele destacou, contudo, o tamanho da baía como um desafio nas ações de fiscalização —são 1.233 km², uma área de tamanho equivalente ao da cidade do Rio de Janeiro.

Neste ano, segundo a Marinha, foram realizadas no âmbito da Operação Verão 11.400 abordagens a embarcações, que resultaram em 416 notificações e 35 apreensões por descumprimento das normas. No ano passado, foram 8.209 ações de abordagem.

JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress

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