SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Manequins e araras de grandes redes de vestuário no Brasil começaram 2024 oferecendo bem mais que os tradicionais saldos de roupas de festas de fim de ano: lojas da C&A, Riachuelo e Renner reservaram um espaço dedicado apenas às fantasias de Carnaval.
As varejistas de moda já ofereciam acessórios ou peças de verão adaptadas para uso na folia, mas este ano incorporaram a festa popular no calendário de vendas com coleções exclusivas, chamando a atenção para a data nos pontos de venda das grandes cidades.
“Nós lançamos uma coleção de carnaval pontual no ano passado, como projeto-piloto, para testar o mercado”, diz João Souza, diretor comercial e de produtos do feminino da C&A, referindo-se à coleção em parceria com a figurinista Alexia Hentsch e o ateliê Ohlograma.
“A resposta foi tão boa que decidimos lançar a coleção completa este ano, abrindo espaço nas lojas, agora não mais restrita a Rio e São Paulo, mas envolvendo também Campinas, Belo Horizonte, Recife e Salvador”, afirma Souza, lembrando, porém, que na capital baiana, onde imperam os abadás (camisetas usadas nos blocos carnavalescos), a oferta é menor.
A ideia é fazer frente ao poder de fogo da Shein para atender a demanda dos blocos que ganham as ruas nas grandes cidades. A varejista online asiática, que já fatura mais de R$ 10 bilhões no país, de acordo com estimativas do BTG, é a dona do aplicativo de moda mais baixado do país em 2023 (53 milhões de downloads, segundo a ferramenta de pesquisas de mercado AppMagic), e este ano oferece a sua primeira coleção de Carnaval “made in Brazil”.
A coleção da Shein conta com 85 peças, do P ao G4, que contaram com a curadoria da cantora Anitta. Os preços vão de R$ 22 a R$ 131.
Ao mesmo tempo, as varejistas de moda querem oferecer peças com melhor acabamento e que custem um pouco mais que as de centros de comércio popular, como a 25 de Março, em São Paulo, e o Saara, no Rio de Janeiro.
Na C&A, o número de fantasias e acessórios para o Carnaval aumentou 33% este ano para 64 itens da coleção “Do Bloco ao Baile”, entre macacões, tops, bodys, hot pants, calças, shorts, meias-calças, saias, cintos, bolsas e brincos, com preços que variam de R$ 15,99 a R$ 199,99. Os tamanhos vão do PP ao GG. A fantasia mais procurada, que chegou a esgotar em algumas lojas, é um top que imita conchas do mar, vendido a R$ 129,99.
A maior parte das peças são nacionais, fabricadas com malharia e jeans. “Os itens importados se concentram nos acessórios”, diz o executivo. A C&A assim como Riachuelo e Renner tem capital aberto e não divulga previsões de vendas (guidance). “Mas eu acredito que seja uma coleção que venha para ficar no nosso calendário”, afirma Souza.
Na Riachuelo, a coleção em parceria com o artista e designer João Incerti conta com 24 peças, entre macaquinhos, tops, croppeds, shorts, camisas e acessórios, com preços que vão de R$ 49,90 a R$ 159,90. As peças estão em cerca de 200 lojas em todo o país, além do site e aplicativo da rede.
“Mas também contamos com um sortimento super variado de itens básicos que contemplam roupas, acessórios, fantasias, maquiagens, aviamentos de patch e apliques em todas as mais de 400 lojas do Brasil, além do e-commerce”, diz Cathyelle Schroeder, diretora de marketing da Riachuelo. “São peças super curingas para todos os tipos de fervo.”
Segundo a executiva, a Riachuelo encara o Carnaval como um “período importante de resultados para a marca neste primeiro semestre”. “Felizmente, a resposta do público está sendo bastante positiva, com itens da coleção já esgotados em muitas lojas”, afirma. A rede é uma das patrocinadoras oficiais do Trio Coruja, bloco comandado por Ivete Sangalo, em Salvador.
Já a Renner está oferecendo cerca de 130 itens na coleção de carnaval, distribuída em 120 lojas da rede, além dos canais de comércio eletrônico. Os preços variam de R$ 15,90 (glitter em pó) a R$ 259,90 (bolsa de paetês). “O Carnaval é uma festa que enaltece a cultura do país e os itens da coleção favorecem esse momento de euforia e alegria”, disse Juliana Frasca, gerente geral de estilo da Renner, por meio da sua assessoria de imprensa.
NA 25 DE MARÇO, TOP E SAIA POR R$ 700
Embora a 25 de Março tenha saias de tule e conjuntos de top e hot pants a preços módicos, o centro de comércio popular paulistano já exibe uma faceta chique do Carnaval: lojas como Bendita Seja e Le Charm Store oferecem peças feitas a mão no Brasil, com conjuntos de saia e top a R$ 700.
“Nós lançamos em dezembro a pré-coleção de Carnaval”, diz a gerente da Le Charm Store, Aline Alves. “Muita gente começa a se preparar para a data já no fim do ano, pensando nos looks de verão, com uma vibe praiana”, afirma. Acessórios como body chain (correntes de pedrarias para usar no quadril ou no busto) já são usados no Réveillon, diz Aline.
A coleção completa chegou no início deste mês, oferecida na loja física e no WhatsApp, a partir do link no Instagram da Le Charm. “A nossa demanda por peças de Carnaval é muito grande. Como a maioria é composta por peças artesanais, nossa produção se mantém ao longo de todo o ano. O Carnaval é nosso Natal”, afirma.
A faixa de preços é variada: desde brincos e tiaras por R$ 16,90, até saia de correntaria de R$ 405, que pode formar conjunto com top de correntaria de R$ 300. Estes são preços de varejo. Aos sábados, a loja vende pelo preço de atacado, cerca de 30% mais barato.
Aline considera uma “novidade” a investida das grandes redes no Carnaval, mas não se intimida com a concorrência, mesmo a da Shein. “Nossas peças são mais exclusivas, não é algo que você vai ver repetido em todo bloco”, diz.
A Bendita Seja, que conta com ateliê próprio, também aposta em peças mais exclusivas para a folia. No Carnaval deste ano, incrementou a oferta de peças em 30%, chegando a 400 itens. “Nossa meta é aumentar as vendas em 20%”, diz Gilberto Alves, diretor comercial da Bendita Seja.
São brincos que custam em média R$ 15, tiaras de R$ 40, em média, e ombreiras de até R$ 100. “Pela internet, vendemos bastante para o Rio e Belo Horizonte, além do interior de São Paulo”, diz Alves.
Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), a folia movimentou mais de R$ 8 bilhões no país. Para este ano, a CNC ainda não tem uma previsão.
DANIELE MADUREIRA / Folhapress