SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A declaração do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na live de domingo (28) esfriou a pré-candidatura de Ricardo Salles (PL-SP), que pode até desistir de concorrer, segundo aliados do deputado federal.
Na transmissão ao vivo, Bolsonaro indicou que deve apoiar Ricardo Nunes (MDB) na corrida pela Prefeitura de São Paulo, seguindo a orientação de aliados que defendem essa aliança, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o advogado Fabio Wajngarten.
O ex-presidente sinalizou que pretende indicar Ricardo Mello Araújo como vice de Nunes. “Vamos entrar com bom vice, que tenha boa rota”, disse, sem citar o nome de Araújo, que foi chefe da Rota, batalhão especial da Polícia Militar de SP.
Procurado pela reportagem, Salles disse não haver decisão sobre sua candidatura, elogiou Mello Araújo e voltou a disparar contra a gestão de Nunes. “Mello Araújo é um excelente nome, será a melhor escolha [para a vice]. Acho que ele vai prender metade da prefeitura”, afirmou.
Bolsonarista, Mello Araújo foi presidente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) e é coronel da reserva da PM.
Salles vinha aguardando uma manifestação de Bolsonaro a respeito da sua posição na eleição de São Paulo, já que, para o deputado, só faria sentido concorrer com o apoio do ex-presidente.
Valdemar e Tarcísio já haviam declarado que Bolsonaro iria apoiar Nunes, mas ainda havia dúvida sobre o grau de envolvimento do ex-presidente na campanha emedebista. Caso Bolsonaro demonstrasse neutralidade, haveria espaço para que Salles representasse a direita conservadora na eleição.
A indicação do vice, porém, foi lida entre deputados bolsonaristas como um embarque de Bolsonaro na pré-campanha de Nunes. Interlocutores de Salles afirmam que ele não pretende criar uma divisão no eleitorado nem confrontar o ex-presidente.
Em dezembro passado, Bolsonaro pediu “Salles prefeito” durante uma entrevista, num gesto em direção ao aliado bolsonarista e de afastamento em relação a Nunes, com quem manteve um vaivém ao longo do ano.
Naquele momento, Salles buscava deixar o PL com uma carta de aval de Valdemar para não perder o mandato de deputado e concorrer à prefeitura pelo PRD (Partido Renovação Democrática, fusão do Patriota com o PTB). Bolsonaro, no entanto, ainda tentava viabilizá-lo em seu partido.
Parlamentares bolsonaristas ouvidos pela reportagem dizem que, apesar de preferirem um candidato a prefeito 100% alinhado como o ex-presidente em vez de Nunes, Salles teria implodido suas pontes com Valdemar e com Tarcísio por meio de críticas públicas que consideram desnecessárias.
Valdemar, que fechou as portas do PL para a candidatura de Salles e defendeu a aliança com Nunes, foi criticado pelo deputado e associado por ele ao toma lá da cá de cargos e à corrupção do centrão. “Quem com os porcos anda, farelo come”, tuitou Salles em junho passado a respeito do líder do PL.
Naquele mês, após uma série de acenos entre Bolsonaro e Nunes, Salles anunciou que havia desistido de concorrer à prefeitura, mas voltou atrás em outubro.
A avaliação de Valdemar e outros aliados de Bolsonaro é a de que um candidato bolsonarista não teria votos suficientes para vencer Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, cidade onde Lula (PT) e Fernando Haddad (PT) tiveram mais eleitores do que o ex-presidente e Tarcísio em 2022.
Já na opinião de bolsonaristas, Bolsonaro, que está inelegível e vê a Polícia Federal cercar sua família, está fragilizado politicamente e depende do PL, inclusive financeiramente, o que prejudica sua independência em relação a Valdemar.
Nesta segunda-feira (29), Valdemar se reuniu com Nunes e levou a ele a sugestão de Mello Araújo como vice, nome bancado por Bolsonaro. O prefeito disse ser uma boa opção, mas afirmou que a decisão só será tomada mais adiante.
O presidente do PL também mencionou os outros nomes que estão credenciados, segundo ele, para ocupar a vice: o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos), a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Sonaira Fernandes (Republicanos), e a delegada Raquel Gallinati.
CAROLINA LINHARES / Folhapress