SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em 2050, o Brasil deverá registrar 1,15 milhão de novos casos de câncer e, nesse mesmo ano, a estimativa é de que a doença provoque 554 mil mortes no país, um aumento de 98,6% em relação aos óbitos ocorridos em 2022. Em todo o mundo, serão 35,3 milhões de casos e 18,5 milhões de vidas perdidas, uma alta de 89,7% em relação a 2022, segundo a Iarc (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer).
As previsões foram divulgadas nesta quinta-feira (1º) pela agência da OMS (Organização Mundial da Saúde) em associação a uma pesquisa sobre o financiamento de serviços oncológicos e cuidados paliativos. Assim como a estimativa, o levantamento mostra que há mais desafios do que notícias a comemorar no Dia Mundial do Câncer, em 4 de fevereiro.
Segundo o Iarc, em 2022, cerca de 9,7 milhões de mortes no mundo foram relacionadas ao câncer. Atualmente, 1 em cada 5 pessoas desenvolve a doença ao longo da vida e aproximadamente 1 em cada 9 homens e 1 em 12 mulheres morrem em decorrência do câncer. Entretanto, apenas 39% dos 115 países participantes do estudo têm o tratamento oncológico como parte dos serviços de saúde oferecidos a todos os cidadãos, e somente 28% cobrem os cuidados paliativos.
“Apesar do progresso na detecção precoce do câncer e no tratamento e cuidado de pacientes, existem disparidades significativas nos resultados do tratamento não apenas entre regiões de alta e baixa renda do mundo, mas também dentro dos países”, afirma Cary Adams, chefe da UICC (União Internacional para o Controle do Câncer).
Adams e outros quatro porta-vozes que participaram da apresentação dos dados foram enfáticos em relação às diferenças mundiais e à necessidade urgente de mais investimentos em prevenção e controle do câncer. Para eles, é preciso mobilizar todas as esferas para tornar os tratamentos acessíveis. “Nossa ambição é unir a sociedade, resolvermos juntos”, diz.
RICOS X POBRES
Os especialistas ressaltaram que muitos países ainda não fornecem dados de qualidade sobre câncer e que são as nações com mais recursos que geralmente conseguem prover informações sobre a doença. Isso impacta, entre outros pontos, na compreensão do efeito real da pandemia de coronavírus na área da oncologia.
“Precisamos agora buscar os dados de países de baixa renda para termos a real dimensão do impacto da Covid”, afirma Isabelle Soerjomataram, epidemiologista da Iarc.
De forma geral, países de alto IDH (índice de desenvolvimento humano) devem ter maior aumento absoluto na incidência de câncer, com cerca de 4,8 milhões de novos casos previstos para 2050 em comparação com as estimativas de 2022. No entanto, os aumentos proporcionais serão mais marcante nos países de baixo e médio IDH, respectivamente de 142% e 99%.
No Canadá, por exemplo, a incidência deve passar de 292 mil casos em 2022 para 469 mil em 2050, um aumento de 60,7%. Já em Honduras, no mesmo período, o salto será de 127,9% –de 10,8 mil novos registros para 24,7 mil.
De acordo com o Iarc, em países com IDH elevado, 1 em cada 12 mulheres recebe o diagnóstico de câncer de mama em sua vida e 1 em cada 71 morre pela doença. Em contraste, em países com IDH baixo, 1 em cada 27 recebe o diagnóstico e 1 em cada 48 morre.
“As mulheres em países com baixo IDH têm um risco muito maior de morrer da doença devido ao diagnóstico tardio e ao acesso inadequado a tratamento de qualidade”, afirma Soerjomataram.
Segundo Andre Ilbawi, especialista em câncer da OMS, países de baixa renda com frequência não oferecem alternativas mais baratas de enfrentamento do câncer, como a prevenção com a vacina contra o HPV. “O câncer não precisa ser caro e nem uma sentença de morte”, diz.
STEFHANIE PIOVEZAN / Folhapress