EUA telegrafam reação a ataque para evitar escalada com o Irã

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cinco dias após perderem seus primeiros militares em um ataque decorrente da guerra Israel-Hamas, os Estados Unidos demonstram disposição de não escalar a tensão com o Irã ao anunciar previamente um ataque limitado às milícias responsáveis pela ação do sábado passado (27).

“Nós faremos uma resposta em várias camadas, e temos a habilidade de responder várias vezes a depender da situação. Nós vamos atrás dos responsáveis e, no caminho, buscamos retirar capacidades [para novos ataques]”, disse nesta quinta (10) o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin.

É bastante incomum ações militares serem tão telegrafadas, e isso se explica pelo contexto político americano. O ataque do sábado matou 3 pessoas e feriu cerca de 40 em um posto na Jordânia próximo à fronteira da Síria. Pela cartilha do Pentágono, bombas já teriam caído em algum lugar em retaliação.

Mas há um temor generalizado de escalada da guerra, iniciada quando o grupo terrorista palestino matou 1.300 pessoas em Israel no dia 7 de outubro. A violência subsequente por parte de Tel Aviv já deixou 27 mil mortos na Faixa de Gaza, 10 mil dos quais soldados do Hamas, na avaliação israelense divulgada nesta quinta.

Grupos bancados por Teerã se espalham na região, e servem de prepostos para atacar tanto Israel quanto os EUA. O caso mais notório nesta guerra até aqui é o dos houthis do Iêmen, que causaram caos no comércio no mar Vermelho, mas um sem-número de entidades espalhadas por países como Iraque e Síria têm alvejado tropas americanas.

Ao anunciar os ataques sem nomear onde irá atingir seus alvos, mas sem nomear o Irã como um deles, Austin tenta driblar as pressões da oposição republicana e mesmo de dentro do Partido Democrata para que o governo Joe Biden bombardeasse a teocracia dos aiatolás.

Embora haja a leitura de que isso pudesse mostrar força da Casa Branca numa corrida eleitoral em que Biden está atrás por ora de Donald Trump, o risco de se envolver em mais uma guerra distante parece ter falado mais alto.

Para o Irã, é o melhor dos mundos no momento. O país escapa de saber se enfrentaria um ataque total americano ou apenas ações pontuais, deixando seus aliados menos importantes sofrerem as consequências. No caso, serão grupos sob o guarda-chuva da chamada Resistência Islâmica no Iraque, que tem ramificações na Síria conflagrada por guerra civil desde 2011.

Na quarta (31), o principal grupo acusado pelo ataque aos EUA, o Kataib Hezbollah, disse que estava suspendendo todas suas atividades militares contra os americanos. Este é um outro sinal, que sugere uma composição na qual os ataques de Biden serão mínimos em termos de efeitos e, ao mesmo tempo, servirão para dizer ao público doméstico que a Casa Branca está trabalhando.

Se tudo isso dará certo, é outra história. Do ponto de vista iraniano, o relativo comedimento até aqui tem a ver com a apreensão acerca de uma guerra destrutiva, mas há a possibilidade de Teerã estar testando novos limites de dor de Washington, contando com reações leves para reforçar a posição algo precária da teocracia ante sua população.

Austin, pressionado por ter passado por uma cirurgia de câncer de próstata sem ter contado ao chefe ou à nação, admitiu que o foco é evitar uma guerra regional. “Há meios de lidar com isso de forma que não fuja do controle, e este tem sido nosso foco”, afirmou.

Os EUA têm cerca de 30 mil militares no Oriente Médio, e deslocou recursos para apoiar Israel depois do início da guerra. Estão ativamente agindo contra os houthis: nesta quinta, bombardearam novamente uma base de drones da milícia pró-Irã que domina a capital do Iêmen desde 2014, e houve um novo ataque a navio mercante no mar Vermelho atribuído aos rebeldes.

Na Síria, onde têm cerca de 900 soldados, e no Iraque, com um contingente de 2.500 militares, os EUA já sofreram 160 ataques com drones e mísseis desde o começo da guerra.

Os culpados, sempre, são os grupos pró-Irã, mas até o sábado passado tudo o que se tinha eram sustos. Agora, a reação comedida a mortes será colocada na balança pública americana, pesadamente influenciada pelo flá-ful entre Biden e Trump.

IGOR GIELOW / Folhapress

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