VILA HISTÓRICA DE MAMBUCABA, RJ (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou durante encontro com apoiadores neste sábado (3) projetar que a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, considerada a tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo) mate cerca de 40 suspeitos na Baixada Santista em resposta ao assassinato do soldado Samuel Wesley Cosmo durante um patrulhamento de rotina.
Bolsonaro deu a declaração ao receber apoiadores em sua casa de praia na Vila Histórica de Mambucaba, distrito de Angra dos Reis (RJ), encontro que a Folha acompanhou.
Durante a reunião matinal com apoiadores, Bolsonaro atendeu a um telefonema de uma pessoa que ele identificou como sendo da Rota paulista.
“A Rota já começou a operar na Baixada?”, perguntou o ex-presidente ao interlocutor, acrescentando em seguida, em tom sério: “Operou quantos já? Já operou quantos aí?”.
Após terminar a ligação, ele fez um comentário com os apoiadores em que usou de ironia e deixou claro que a palavra operar, nesse caso, significava matar.
“Mataram um soldado da Rota ontem com um tiro no olho. A Rota já desceu para operar. Tem um soldado ferido no braço. Na última vez acho que uns 50 foram operados lá. Problema de pele, micose, todos foram operados, bem tratados”, afirmou, completando mais adiante: “Vão operar mais uns 40 lá, com certeza”.
O soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo morreu após ser baleado na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, no final da tarde de sexta-feira (2).
Batalhões do policiamento de Choque deixaram a capital rumo ao litoral logo em seguida.
A SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo confirmou que uma nova Operação Escudo foi posta em ação após o ataque. Ela deve ser tocada em paralelo a uma outra semelhante que já ocorre na Baixada Santista depois da morte do soldado Marcelo Augusto da Silva em janeiro.
Já na madrugada de sábado uma ação da Rota na Baixada Santista deixou dois mortos e um policial ferido. Também houve a morte de mais quatro suspeitos em supostos confrontos com a PM.
Em julho do ano passado, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) colocou em ação a Operação Escudo em reação ao assassinato do também soldado da Rota Patrick Bastos Reis em Guarujá, no litoral paulista.
Ao menos 28 pessoas foram mortas entre os dias 28 de julho e 5 de setembro em Guarujá e Santos. Na segunda fase da Operação Escudo, entre setembro e outubro, oito pessoas foram mortas após um ataque contra um policial militar aposentando em São Vicente.
Após receber a confirmação da morte e do local e horário do enterro neste sábado, Bolsonaro acionou assessores para providenciar transporte de helicóptero de Angra para São Paulo, além de entrar em contato com a assessoria do governador Tarcísio de Freitas, de quem é aliado.
Sempre falando abertamente na presença de cerca de 50 apoiadores que participavam de um café da manhã na sua casa em Mambucaba, Bolsonaro afirmou a um assessor de Tarcísio que achava melhor o governador cancelar o compromisso de entrega de casas a vítimas das chuvas no litoral norte, em São Sebastião, e também ir ao velório e enterro do soldado.
Tarcísio, porém, manteve a ida ao evento e não compareceu ao enterro.
Em outra ligação para o advogado Fabio Wajngarten, Bolsonaro afirmou que estava pronto para ir ao velório do soldado, bastando apenas ser providenciado o transporte. “A hora que vier [a mensagem] ‘decola daí’, você me avisa que eu boto minha roupa e vou aí.”
O soldado foi sepultado no Mausoléu da Polícia Militar, no cemitério do Araçá, no Pacaembu, zona oeste de São Paulo.
Bolsonaro esteve no local, acompanhado de Wajngarten, secretário de Comunicação durante seu governo, mas saiu sem falar com a imprensa.
Representaram Tarcísio o subsecretário da Segurança Pública, Osvaldo Nico Gonçalves, e o delegado-geral Arthur Dian. Eles, assim como Bolsonaro, não se manifestaram.
RANIER BRAGON / Folhapress