SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Zero era a quantidade de latas vendidas até as 13h48 deste domingo (4) pelos irmãos Michelle, Rodrigo e William Santana de Souza no pré-Carnaval de São Paulo.
É o terceiro ano em que a família se cadastra para a venda de bebidas na folia e o primeiro de vendas tão fracas. No sábado (3), na rua Fradique Coutinho, venderam R$ 100. Neste domingo, em mais de três horas na rua Henrique Schaumann, ainda não tinham aberto o caixa.
“No ano passado, o faturamento foi de R$ 400 a R$ 600 no pré-Carnaval”, comparou Rodrigo, 28.
Para Michelle, 31, o cancelamento de vários blocos nos últimos dias pode ter contribuído para a queda. “Acaba concentrando mais gente em menos lugares”, disse. “Estamos torcendo para que melhore.”
Sirlene Marcelino, 50, também estava decepcionada. No sábado, vendeu duas latinhas de cerveja na República. Contou que só não teve prejuízo porque mora no bairro e não gastou com alimentação e deslocamento. Neste domingo, em Pinheiros, gostaria que fosse diferente.
“Estou revoltada porque não estamos vendendo nada”, desabafou. “A oferta é maior do que a demanda. Tem mais barraca do que folião.”
“Alguém está ganhando, mas ainda não somos nós”, acrescentou a ambulante Mônica Larissa Pereira da Silva, 33.
Apesar de bolsas e mochilas serem revistadas na entrada dos blocos, elas afirmaram que têm visto foliões entrando com bebida, o que reduz ainda mais as chances de vender.
Outra demanda foi a revisão no preço dos produtos. Na rua Henrique Schaumann, uma loja no percurso do bloco vendia garrafas de água de 510 ml por R$ 2,50, enquanto nos carrinhos o público tinha de pagar R$ 5.
No bloco da cantora Lexa, na zona norte da capital paulista, ambulantes também reclamaram de poucas vendas e muita concorrência.
“Está uma bagunça”, criticou Andressa Carvalho, 28. “No ano passado, eles controlaram a entrada de ambulantes. Este ano não, estão deixando todo mundo entrar. Não tem bloco para tanta gente”, disse.
“Neste horário [16h20] era para o isopor estar vazio”, lamentou.
Na tentativa de aumentar a venda, parte dos ambulantes decidiu disputar espaço com os foliões e seguir atrás do trio. “Investi R$ 700 e não vendi R$ 100”, disse Jéssica Vital da Silva, 33, enquanto caminhava. “Lá atrás não está vendendo”, justificou. “Está todo mundo de caixa cheia”, afirmou em referência ao isopor.
“É muito cacique para pouca tribo”, resumiu Robson Gonçalo. O comerciante estava indignado com a quantidade de vendedores. Também reclamou da desorganização nos chamados “pulmões”, os pontos de abastecimento de mercadorias indicados pela AmBev.
“Tem pulmão que aparece na nossa lista como cadastrado para retirada e os vendedores não estão sabendo. Recebemos mensagens da AmBev, mas não conseguimos falar com ninguém lá”, contou a ambulante Simone Silvino dos Santos, 47, que decidiu ir embora mais cedo. Muitos colegas fizeram o mesmo.
Procuradas na tarde deste domingo (4), a prefeitura e a Ambev ainda não haviam se pronunciado a respeito das queixas dos ambulantes até a publicação deste texto.
A percepção dos foliões também era de festa mais vazia do que de costume. “Ano passado estava mais cheio”, disse o empresário Henrique Munhoz, 46, no bloco Confraria do Pasmado, em Pinheiros.
Para ele, faltou divulgação da festa por parte da prefeitura.
Os bancários Rafaela Macedo Vieira, 27, e Ronilson Assis, 28, também estranharam a quantidade de pessoas no bloco Quizomba!. “Os blocos de Belo Horizonte no pré-Carnaval são mais cheios”, afirmaram os mineiros.
“O bom é que o banheiro está limpo, não falta bebida e o preço é tabelado”, acrescentaram. “Está uma delícia.”
Com mais espaço entre os grupos de foliões, era fácil identificar fantasias diferentes, como a de Lígia Arneiro, 66. Sem dinheiro para comprar um traje carnavalesco, ela se inspirou no figurino das coristas e, com alfinetes e criatividade, deu movimento ao pretinho básico que estava no guarda-roupa com cartas de baralho. “O importante é se divertir.”
STEFHANIE PIOVEZAN / Folhapress